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Círculo de poemas: clube de assinaturas resgata obra essencial da poesia brasileira

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Este resgate essencial é realizado pelo Círculo de poemas, uma coleção de poesia e um clube de assinaturas, numa parceria entre a Luna Parque e a Fósforo Editora.

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

Lançado originalmente em 1939 – quando teve uma única edição pela José Olympio -, demorou mais de 80 anos para que “Dia garimpo”, primeiro e único livro de poemas de Julieta Barbara, ganhasse uma nova edição. Este resgate essencial é realizado pelo Círculo de poemas. Trata-se de uma coleção de poesia e um clube de assinaturas, numa parceria entre a Luna Parque e a Fósforo Editora.

Julieta Barbara em companhia de Paulo Emilio Salles Gomes, Oswald de Andrade e Rudá de Andrade Crédito: Acervo Cinemateca Brasileira
Julieta Barbara em companhia de Paulo Emilio Salles Gomes, Oswald de Andrade e Rudá de Andrade Crédito: Acervo Cinemateca Brasileira

No contato com a poética de Julieta Bárbara, encontramos uma artista de ritmo muito próprio. A busca pela matéria dos versos envolve um mergulho Brasil. Ou seja, no folclore, na religiosidade, no trabalho e nas mazelas. Versos estes que ora buscam a rima, ora não. De todo modo, constroem imagens ricas e muito visuais.

Por exemplo, no poema que dá título ao livro, a simplicidade do cotidiano no campo ganha forma em versos como “Dia garimpo/ Vestido limpo/ Na água sabão/ O azul caipira/ (…) Pastava o gado/ De girassol/ Livre da canga/ No capinzal.”

Mãe gentil

O Brasil é uma “Mãe gentil” que, enquanto a terra gesta um novo filho, há um filho no braço, outro na mão “E muitos outros fechados nas covas”. Os versos em “Amar” continuam atuais, parecem olhar para o hoje, quando a poeta nos diz: “Pudessem todos que eu vejo agora/ Da cidade e do morro/ Na apagada frescura da tarde/ Sossegar”.

Em dos mais incisivos textos do volume, Julieta versa sobre as diferentes explorações sofridas pelo trabalhador. “O operário/ Tipo barqueiro do Volga/ Sem folga fora das greves/ Sugado nos pentes/ Nas engrenagens/ Já não pode ser explorado/ Pelo poeta modernista/ Pelo romancista de massa/ Pelo demagogo.”

Sutilezas

Há uma beleza singela em um poema que diz de Maria, que no passado “Tinha um marido que ficou soldado”. Enquanto estende a roupa na janela, ela rememora: “Aquele homem sim gostava dela/ (…) Seu coração se aperta em ânsia/ Perdido o bem-estar de um destino cortado”. No poema “A morte do poeta” escutamos o “choro literário das mulheres”, que velam aquele que “Foi poeta sonhou e amou na vida”.       

Na reedição o volume é acrescido de três poemas esparsos publicados entre 1938 e 1941 e oito inéditos. Dessa maneira, no texto que encerra a edição original de “Dia garimpo” encontramos uma poeta olhando para o próprio ofício da poesia. Nos pede para “Abrir os olhos de recém nascido/ Fora de toda dúvida/ Fora de toda certeza” no contato com os versos. Abra os seus olhos como nos pede Julieta Barbara e (re)descubra uma autora fundamental.

“Poesia não é vaidade
Poesia não é sabedoria
Nem erudição
Nem gramática
Nem a riqueza da língua
Poesia é outra coisa”

Julieta Barbara

No posfácio desta nova edição do livro, Mariano Marovatto investiga as motivações para a pouca repercussão do livro na imprensa à época de seu lançamento. Apesar de tudo indicar que o livro foi recebido com interesse nas rodas literárias em 1939. Os mais de 80 anos que separam as duas edições são um reflexo deste silenciamento das qualidades de “Dia garimpo”. Para Mariano, duas questões centrais foram determinantes: “1) Julieta era uma poeta estreante mulher em 1939; 2) Julieta era uma poeta estreante mulher em 1939, casada com Oswald de Andrade”.

Plaquete de Lucianny Aparecida

Acompanha o envio de “Dia garimpo”, para os assinantes do Círculo de Poemas, a plaquete “Macala”, de Lucianny Aparecida. É um poema em 11 partes, que dialoga com a histórica fotografia “Mulher negra da Bahia”, de Marc Ferrez, de 1885.

Você sabe o que é plaquete? É um livro de pequeno formato e poucas páginas. O acabamento costuma ser simples e sem lombada. As páginas podem ser dobradas, costuradas, grampeadas. No mundo da poesia, as plaquetes sempre foram veículos de difusão por abarcarem textos curtos e circularem por outros meios.

Capa do livro Dia Garimpo. Créditos: Círculo de poemas
Capa do livro Dia Garimpo. Créditos: Círculo de poemas

Círculo de poemas

O Círculo de poemas é uma coleção de poesia e um clube de assinaturas. Aliando o caráter plural do catálogo da Fósforo e o trabalho na edição de poesia feito pela Luna Parque, a coleção dedica-se à publicação de autores nacionais e estrangeiros, inicialmente compreendidos entre os séculos XX e XXI.

Assim, a cada mês, o assinante receberá duas publicações: um livro e uma plaquete. O livro pode ser um inédito de autor brasileiro, uma obra reunida, antologia ou resgate de algum livro esgotado ou uma tradução. Essa mesma edição chegará às livrarias no mês seguinte ao lançamento no clube.

Já a plaquete, consiste num texto inédito concebido exclusivamente para o Círculo de poemas. No primeiro ano, cada poeta convidado escreve um poema a partir de uma obra pictórica anterior ao século XX. A imagem escolhida acompanha a publicação. A edição da plaquete não será comercializada fora do clube e faz parte dos benefícios dos assinantes.

Na caixa de fevereiro, por exemplo, o clube lança “Poemas reunidos”, de Miriam Alves, figura fundamental no panorama da literatura afro-brasileira, cuja obra poética pela primeira vez se reúne. Além da plaquete exclusiva “As três Marias no túmulo de Jan Van Eyck”, de Marcelo Ariel, reflexão sobre tempos de morte a partir da tela medieval do artista holandês Jan Van Eyck. Saiba mais em https://circulodepoemas.com.br/

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural, sempre gasta metade do seu horário de almoço lendo um livro. Seu Instagram é @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel/)

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