“Um pódio absoluto”. Essa foi uma das maneiras que o cineasta baiano Edgard Navarro definiu a homenagem recebida durante a abertura a Cineop. A Mostra de Cinema de Ouro Preto vai até segunda. Aos 70 anos de idade, dedicou mais 50 anos dedicados a uma questionadora produção audiovisual. O diretor recebeu o troféu Vila Rica das mãos do amigo, Juca Ferreira, secretário de cultura de Belo Horizonte e ex-ministro da Cultura.
Se o negócio era pódio, Navarro fez como os atletas. Levantou o troféu lá no alto. Fez também como os artistas, dançou no palco. “Eu tô com uma vontade danada de tirar a roupa”, brincou ao fazer uma referência à própria carreira, quando ficou pelado durante a divulgação de um filme na década de 1970. “Mas não vou tirar porque agora o cenário mudou, mano”.
Resistência
Obviamente a cerimônia de abertura teve seu tom político. A Cinep discute a questão dos territórios em 2019. Por isso, a performance inaugural falou sobre territórios. Em resumo: os indígenas, territórios de gênero e principalmente sobre a importância das relações para a construção de identidades. Sendo assim, ressaltou a conexão necessária entre território e identidade.
Em seu discurso de boas-vindas a organizadora da mostra, Raquel Hallak, abordou, por exemplo, o cenário adverso que a cultura e educação tem enfrentado no Brasil de hoje. “Somos pontes, ocupamos nossos territórios, somos brasileiros e queremos exercer nossa profissão com cidadania e dignidade”, disse.
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Discursos de Juca Ferreira e Edgard Navarro em defesa da cultura na abertura da Cineop
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Contundente
Em meio a uma festa com nítido tom de resistência, a fala de Juca Ferreira foi a mais objetiva. Dessa maneira, foi direto ao problema. De acordo com Juca, a arte e a cultura estão no centro da questão. “O país que a gente quer parte pelo impulsionamento da arte e da cultura contra a barbárie, contra a boçalidade, contra a burrice, a favor da inteligência das nossas universidades, dos nossos povos indígenas”.
Filmes
“A vida me levou para umas esquinas o que me tornou essa coisa difícil de se levar pra frente”, disse Edgard Navarro. De fato, o cinema dele sempre foi de resistência. Se era fora do comum na década de 1970, continua sendo. Ele é um cara da contra-cultura, reconhece isso e cumpre a função que o artista também tem de provocar.
Na noite de abertura foram exibidos o curta Exposed (1978) e o média Superoutro (1989), trabalhos que deixam bem claro que tipo de cineasta Edgard Navarro é. Até segunda-feira, quando termina a Cineop, serão exibidos sete filmes da obra dele.
Sábado
Apesar da temática patrimônio, dois longas contemporâneos estão entre os destaques da programação da Cineop no sábado. Dessa maneira, o primeiro deles é o documentário Carvana, dirigido por Lulu Corrêa sobre o ator e diretor Hugo Carvana e o segundo é o também documentário A mulher da luz própria, que Sinai Sganzerla fez sobre a mãe dela, a atriz Helena Ignez.
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