Com a estreia da segunda temporada de “Mal de Família”, lembramos títulos que trazem personagens abusivos como John Paul
Patrícia Cassese | Editora Assistente
John Paul é detestável. Impossível não odiá-lo, seja pelos modos abusivos como trata a mulher, as cunhadas ou mesmo pessoas do entorno, como o vizinho. Não por outro motivo, na primeira temporada de “Mal de Família”, os irmãos do seguro de vida do personagem vivido pelo dinamarquês Claes Bang têm sérias dúvidas se a morte do sujeito não foi planejada pelas irmãs de sua esposa, Grace (Anne-Marie Duff). E sim, há chances de eles estarem certos. E o que faz John Paul ser assim, tão odiado? Bem, ele é um protótipo perfeito do praticante de gaslighting, no que tange ao relacionamento conjugal. Para citar um e, diz que a mulher deveria aproveitar o tempo para cuidar do cabelo. Constrangida, Grace pergunta se o mesmo está feio, e ele devolve, arguindo em que momento ele usou essas palavras…
Ou seja, uma manipulação sofisticada, típica do sociopata, que faz a pessoa alvo duvidar se está sendo submetida ou não a atos abusivos. No bojo da estreia da segunda temporada (embora o final da primeira já tenha elucidado a morte de JP), lembramos, aqui, algumas produções audiovisuais – particularmente, séries – em que uma mulher é vítima de gaslighting. Confira!
“Mal de Família” (AppleTV)
John Paul, o personagem do ator e músico dinamarquês Claes Bang (“The Affair” e “The Square”), é, como já assinalamos no lead, insuportável, dos mais abusivos personagens da ficção. Ele chantageia uma das irmãs da esposa, finge que vai financiar o negócio de outra, para depois dar para trás; fez coisa pior com a primogênita delas e ainda zomba da que tem apenas um olho, chamando-a de ciclope. JP não permite que a esposa trabalhe fora e faz de tudo para ser desagradável. Não por outro motivo, o primeiro capítulo leva o título, na versão para o Brasil, de “O Escroto” (no original, é “The Prick”).
Confira, aqui, o trailer da segunda temporada
“Meu Rei”
Com direção da atriz e cineasta francesa Maiwenn (cujo mais novo filme, “A Favorita do Rei”, marcou presença no recente Festival Varilux de Cinema Francês), “Meu Rei” (“Mon Roi”) traz Emmanuelle Bercot e Vincent Cassel como o casal Marie Antoinette Jézéquel (ou “Tony”) e Georgio. Ele, extremamente manipulador e narcisista, mantém uma relação assimétrica com a mulher, o que impacta o equilíbrio emocional de Tony. À época do lançamento, ventilou-se que a narrativa representaria um pouco a história real vivida por Maiween em sua relação com Luc Besson. O filme está no Prime Video dentro da aba Looke.
“À Meia-Luz” (Gaslight)
A origem do termo gaslighting deriva de uma peça teatral da Broadway, “Gas Light”, de Patrick Hamilton, de 1938, e que, por sua vez, foi levada em duas ocasiões para o cinema, em 1940 e 1944. Com direção de George Cukor (1899-1983), o segundo filme traz Ingrid Bergman (1915 – 1982), como Paula Alquist, personagem central. Ela se casa com Gregory (Charles Boyer), homem de modos abusivos. Ele tenta, por exemplo, provar que a esposa sofre de alguma perturbação mental ao manobrar a luz gerada pelas lâmpadas à óleo da casa. Paula percebe a variação, mas ele nega, de modo a fazê-la duvidar de si própria. No Brasil, “Gaslight” ganhou o nome de “À Meia-Luz”, e, mediante aluguel, está no AppleTV ou Prime. (abaixo, em frame do filme, Ingrid Bergman e Charles Boyer)
“Eclipse Total”
Filme de Taylor Hackford, baseado na obra de Stephen King. A maravilhosa Kathy Bates é Dolores Claiborne, uma mulher que trabalha para uma senhora idosa no Maine. Quando esta morre, o delegado a vê como a responsável. O que faz com que sua filha, Dolores (Jennifer Jason Leigh) venha de Nova York para se inteirar. Paulatinamente, detalhes da morte do marido de Dolores, Joe St. George (David Strathairn), vão vindo à tona. Nos flashsbacks, vemos um marido dos mais abusivos, que inclusive faz chacota com o corpo da mulher. Bem, o que Joe faz é mais que gaslighting, mas ele não deixa de ser um bom exemplo de uma relação que pode levar uma pessoa a um gesto extremo. Abaixo, David Strathairn e Kathy Bates em cena do filme (Frame).
“Big Little Lies”
Baseada no livro homônimo de Liane Moriarty, a série da HBO, cuja primeira temporada estreou em 2017, mostra o relacionamento tóxico entre um casal formado por Celeste (Nicole Kidman) e Perry (Alexander Skarsgard). Embora sejam vistos como um casal perfeito, ela corta um dobrado em casa, algumas vezes, com a ajuda da funcionária. É que seu marido se irrita até mesmo com os brinquedos dos filhos dispersos sala afora. Dirigida por Jean-Marc Vallée (que faleceu há três anos, aos 58 anos), a narrativa seriada gira em torno da morte de Perry. Em tempo: recentemente, Nicole Kidman deixou a entender que haverá uma terceira temporada. Abaixo, na foto, Alexander Skarsgard e Nicole Kidman (HBO/Divulgação)