
Dois Papas - Foto: Netflix / Divulgação
Apesar de ser um dos grandes filmes da temporada de prêmios, acho difícil que Dois Papas consiga alguma vitória. Mas não acredito que o filme tenha sido feito para isso: ganhar prêmios. Afinal de contas, se tem alguém premiado nessa parada somos nós, espectadores, que temos a oportunidade de refletir sobre questões tão importantes do nosso tempo a partir de uma experiência ficcional envolvendo figuras que chegaram ao topo do poder.
Dois Papas não é um filme sobre religião e acho que nem um filme religioso. É sim sobre os homens. O humano.
Claro que os modos de você interpretar o longa de Fernando Meirelles são inúmeros. Cada espectador deve ter sido tocado por uma fala específica, uma cena em particular ou mesmo algum momento em que a trilha sonora pegou a sua emoção.
Assim são os bons filmes: abrem espaço para múltiplas interpretações e aproximações. Sendo assim, este texto trata-se de apenas um ponto de vista aberto, obviamente, ao diálogo com o seu. Afinal de contas, Dois Papas fala, principalmente, sobre diálogo.
Então, não pretendo fazer qualquer análise técnica. Se fosse isso, poderia me concentrar somente na interpretação dos atores que já daria um texto completo. O negócio aqui é comentar aspectos que me tocaram como simples espectadora.

Cena de Dois Papas – Foto: Netflix / Divulgação
Filme sobre amizade
Sim, os escândalos envolvendo o Vaticano aparecem no filme. Mas não se trata disso e sim como é possível existir uma amizade potente mesmo entre duas pessoas com pensamento tão diferente uma da outra. Achei emocionante como o diretor Fernando Meirelles – e obviamente o roteiro como detalharemos a seguir – consegue fazer com que o espectador crie empatia pelos dois protagonistas.
Roteiro simples e potente
Se há um prêmio em que Dois Papas tem chance é o de roteiro. Não sei quanto a você, mas me chamou a atenção como por meio de uma história tão simples – o encontro entre dois homens com pensamentos diferentes – foi possível falar de tanta coisa relevante para o mundo hoje. No encontro dos Papas falou-se sobre política contemporânea, sobre o peso das ditaduras, o reflexo delas nas democracias. Sobre o humano e também sobre filosofia, sobre dogmas. E tudo isso, sem que o fio da meada se perdesse. Isso é um bom filme!
Detalhes da trilha sonora
E você também reparou como a trilha sonora dialoga com o roteiro. Mais uma vez, foge do lugar comum. Quando eu iria imaginar um cardeal assoviando Dancin Queen, do Abba. E mais: dois religiosos tomando vinho à noite e batendo um papo sobre música, Beatles e Abbey Road. São estas sutilezas que fazem de Dois Papas um grande filme.
Desperta curiosidades
Quando abre a porta da Capela Sistina pela primeira vez a primeira curiosidade já apareceu. Será que foi gravado lá mesmo? E os bastidores dos dois conclaves? Será que é daquele jeito mesmo? Sempre achei muito curioso todo o ritual para a eleição dos papas. A coisa da gente ter que esperar a fumaça, a expectativa pela cor da fumaça. Ficcional ou não, o filme de Fernando Meirelles me revelou um outro lado. Foi divertido!
Importância da escuta
Como estamos precisando reaprender a dialogar, não é mesmo? Se fosse para fazer o exercício escolar da “moral da história”, pra mim, Dois Papas fala sobre a importância do resgate de algo muito básico: um fala, o outro escuta e vice versa. É bom que as pessoas pensem diferente umas das outras, mas seria bom também se pudéssemos ouvir e trocar ideias com quem analisa o mundo e as coisas por outro ponto de vista. Talvez seja disso que o mundo mais precisa hoje.