O livro Choro – Do quintal ao Municipal, do arranjador, cavaquinhista, compositor e produtor musical carioca Henrique Cazes, acaba de ganhar a sua quinta edição. A obra, fundamental sobre a história do gênero musical, foi lançada originalmente em 1998 pela editora 34. Sendo assim, a nova edição celebra os 150 anos do choro, que surgiu no século XIX no Rio de Janeiro.
No início, o ritmo era composto basicamente por flauta, violão e cavaquinho, instrumentos que chegaram ao Brasil junto com a corte portuguesa. Dessa forma, com a reforma urbana, atrelada à abolição da escravatura, influências culturais do país, características do lundu – ritmo com base na percussão e outros fatores históricos – nasceu o choro do Rio de Janeiro. Tudo isso ocorreu por volta de 1870 nas classes mais baixas da sociedade, como entre funcionários de repartições públicas, por exemplo.
Principais nomes
Aos poucos, os músicos abrasileiraram o ritmo e ficaram conhecidos como “chorões”, se reunindo em fundos de quintais, passando a ganhar espaço, inclusive entre a elite. A história considera o flautista Joaquim Antônio da Silva Callado Júnior como um dos principais nomes fundadores dos primeiros conjuntos de choro. Isso porque atuava como professor do Conservatório Imperial, tinha vasto conhecimento musical e foi o primeiro a escrever a palavra choro no local da partitura onde se preenchia o gênero da música (a da polca Flor amorosa, composta em 1867, primeira composição de chorinho).
Além dele, outros nomes fundamentais do ritmo foram Viriato Figueira e a maestrina Chiquinha Gonzaga. Essa última, pioneira, compositora e pianista do gênero. Atualmente, o choro é um dos principais gêneros do Brasil, parte da identidade do país.
Pensando, então, na importância do ritmo para a história da música brasileira, selecionamos cinco músicas fundamentais para quem ama ou quer conhecer mais a fundo. A partir delas e de seus artistas é possível embarcar no gênero e explorar suas demais sonoridades. Confira!
Atraente, de Chiquinha Gonzaga
Primeira pianista chorona e autora de Ô abre alas, primeira marcha e carnaval com letra, e primeira mulher gerente de uma orquestra no Brasil. Daí dá para medir a importância de Chiquinha. Além disso, no choro era parceira de nomes como Joaquim Callado e Viriato Figueira. Atraente foi a canção de estreia de Gonzaga, improvisada em 1877 em uma roda de choro. Ademais, alcançou a fama aos poucos, apesar do preconceito de uma sociedade patriarcal, e passou a se dedicar inteiramente à música. Ouça no Spotify.
Carinhoso, de Pixinguinha
Composta entre 1916 e 1917, a canção é uma das principais obras da música popular brasileira. Mesmo assim, foi gravada (instrumental) apenas em 1928 pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, na Parlophon, onde o músico trabalhou como arranjador. A gravação tinha um andamento mais rápido, o que causou duras críticas a Pixinguinha, acusado de estar fortemente influenciado pelo jazz. Além disso, na época, não recebeu denominação de choro, e sim de polca. Entretanto, aos poucos ganhou reconhecimento e, atualmente, Pixinguinha é um dos principais formadores e influências do choro. Carinhoso recebeu letra de João de Barro e gravação de Orlando Silva em 1937, alcançando grande sucesso. Ouça no Spotify.
Doce de coco, de Jacob do Bandolim
Jacob do Bandolim (1918-1969) foi um grande nome em sua geração por promover rodas de choro na própria casa. Dessa forma, nelas, e também nas composições, fazia o resgate de nomes clássicos do gênero. Tanta influência levou à formação do grupo Época de Ouro, fundamental na resistência do choro na década de 1960 com a chegada da Bossa Nova. A música Doce de coco é um dos clássicos do repertório do artista ao lado de Noites cariocas e Assanhado receita de samba. Ouça no Spotify.
Brasileirinho, de Waldir Azevedo
O choro, composto em 1947, é um dos maiores sucessos do gênero. Só para exemplificar, foi tema dos Jogos Pan-Americanos em 2007 e trilha sonora da equipe brasileira de ginástica artística em 2004. A canção passou por várias vozes, uma delas a da inesquecível Carmen Miranda. Além disso, vale destacar que Waldir Azevedo ousou, quando, pela primeira vez, tirou o cavaquinho de um lugar de acompanhamento e colocou como instrumento de destaque na música. Ouça no Spotify.
Retratos, Radamés Gnattali
Por fim, trazemos a suíte em homenagem a Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga. Radamés Gnattali transitava entre a música popular e a erudita. Além de um exímio pianista, foi um dos mais importantes maestros e arranjadores do país. Ou seja, uma das pessoas que ajudou a renovar o choro na década de 1970. Composta em 1956 a suíte Retratos possui quatro movimentos criados a partir de material extraído das composições originais. Dessa forma, Retrato de Pixinguinha faz referência a Carinhoso, Retrato de Ernesto Nazaré a Expansiva, Retrato de Anacleto Medeiros a Três estrelinhas e Retrato de Chiquinha Gonzaga a Corta Jaca. Ouça no Spotify e entenda mais sobre a suíte aqui.