Obras de grandes dimensões, do artista mineiro Paulo Nazareth, exaltam personagens que simbolizam resistência e luta por direitos na história
Seis obras de grandes dimensões que homenageiam personagens com atuação histórica relacionada à resistência e à luta por direitos. Assinados por Paulo Nazareth, os trabalhos estão instalados em diferentes pontos do campus UFMG Pampulha. Trata-se de uma série de produções realizadas para a Bienal de Arte de São Paulo e que tem outras peças de grandes dimensões em diferentes locais.
A exposição, que permanecerá um ano no campus, é um desdobramento da Ocupação Artística Paulo Nazareth. Coordenado pela professora Daniele de Sá Alves, o projeto de formação artístico-pedagógica da Faculdade de Educação (FaE) durou nove meses (até 31 de julho). Os monumentos derivam da série “Corte-seco”, com 127 desenhos desses personagens que, em algum momento, foram apagados dos cânones históricos. Esses desenhos estão expostos no Espaço Arteducação da FaE, junto com as obras chamadas “Minimentos” por Paulo Nazareth.
Ineditismo
Graduado e licenciado na UFMG – pela Escola de Belas Artes, pela FaE e pela Faculdade de Letras –, Nazareth exalta a oportunidade de dialogar tanto com a comunidade acadêmica quanto com a comunidade externa, por meio da Ocupação Artística Paulo Nazareth e das obras em grandes dimensões. “A comunicação com a população da cidade também é muito importante”, afirma o artista. Ele ressalta o ineditismo do projeto, em razão não apenas da duração da Ocupação, mas das grandes dimensões das peças expostas em espaços abertos no campus.
Daniele Alves, que é docente da FaE, afirma que os nove meses do projeto foram uma oportunidade de “exercitar processos de ensinar e aprender em todas as áreas a partir da experiência da arte”. Coordenadora dos espaços expositivos da FaE, Daniele destaca que é um privilégio para a comunidade da UFMG receber um artista como Nazareth. “Sua obra é política, socialmente engajada, referência para discussão de temas fundamentais para a sociedade”, ela enfatiza.
Os personagens
Na entrada do campus pela Avenida Antônio Carlos está a peça de Paulo Nazareth que homenageia João Cândido, o Almirante Negro – que liderou a Revolta da Chibata, em 1910, no Rio de Janeiro. No movimento, marinheiros, a maioria não brancos, assumiram o controle de embarcações da Marinha. Eles protestavam contra castigos físicos e outros abusos por parte dos oficiais. Do mesmo modo, no acesso em frente ao Colégio Militar, está a obra que retrata Carlos Marighela. A imagem contém uma representação dos tiros que mataram Marighela.
O líder xavante Mário Juruna está na entrada do campus Pampulha pela Avenida Abraão Caram. Ele foi deputado federal e se notabilizou, partir dos anos 1980, por sua luta contra a corrupção, cujo símbolo foi um gravador que levava sempre consigo. O jardim da Faculdade de Ciências Econômicas (de frente à Reitoria) abriga dois monumentos de Paulo Nazareth. Primeiramente, Dinalva, a Dina, uma das principais responsáveis pela preparação dos camponeses que combateram na região do Araguaia, contra o regime de 1964 (ela acabou assassinada).
Tal qual, a representação do trabalhador rural Zequinha Barreto. No caso, ele aparece carregando Carlos Lamarca, outro líder da resistência armada à ditadura. Em 1971, como se sabe, Lamarca morreu em emboscada no interior da Bahia. Finalmente, na Faculdade de Educação, a homenageada por Nazareth é a líder quilombola Teresa de Benguela. No século 18, Teresa viveu escravizada e, depois, se rebelou em território hoje pertencente ao estado do Mato Grosso, no século 18.