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Sally Rooney explora anseios e dilemas da geração millennial em novo livro

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Autora do livro homônimo que deu origem à série Normal People, Sally Rooney é um dos nomes mais interessantes da literatura internacional hoje

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

Em seu muito aguardado novo romance, “Belo mundo, onde você está”, Sally Rooney escreve sobre os prazeres e os dramas dos relacionamentos interpessoais. Acompanhamos um grupo bem especial de personagens múltiplos e profundamente humanos. Cronista de mão cheia sobre a contemporaneidade, a autora irlandesa tem um olhar clínico e sensível sobre a geração millennial. Fala das frustrações com relação ao presente e os medos com relação ao futuro. Com tradução de Débora Landsberg, o livro é um lançamento da Companhia das Letras.

A autora irlandesa Sally Hooney. Foto: Perry Ogden
A autora irlandesa Sally Hooney. Foto: Perry Ogden

O quarteto de personagens de “Belo mundo, onde você está” – Alice, Felix, Eileen e Simon – é jovem. Todos estão na casa dos 30 anos, assim como sua autora. Entre Dublin e uma cidade costeira da Irlanda, eles trabalham, transam, dão início e término a relacionamentos. Além disso, carregam traumas da infância. Ou seja, têm relações familiares conturbadas e refletem sobre a própria vida: o que tenho hoje e o que esperar do futuro?

Sally Rooney dá voz aos anseios e receios de toda uma geração. Aborda especificamente os millennials – aqueles nascidos entre a década de 80 e início dos anos 90. Suas questões trazem uma identificação muito forte com leitores nesta faixa de idade. Conta sobre as relações de trabalho contemporâneas. Isso quer dizer: a exaustão do mercado, a baixa remuneração, o esgotamento mental, a fragilidade das relações afetivas, a sexualidade e a hiperconectividade.

Relacionamentos na contemporaneidade

Sally descreve diferentes estágios e perfis de relacionamentos. Alice e Felix dão match no Tinder. O primeiro encontro é esquisito e incômodo com a pessoa que você até então conhecia apenas por fotos e pelo chat de um aplicativo. Já Eileen e Simon se conhecem desde a adolescência. É uma relação, primeiramente, de amizade e apoio ao longo dos anos, que se desenvolve para o sexo casual. Assim, acompanhamos, então, os momentos de euforia e de crise destas relações e seus, por vezes dolorosos, processos de amadurecimento.

A amizade de longa data entre as duas mulheres prossegue à distância, por meio de longos e-mails trocados entre as personagens no decorrer da narrativa. Por mais que falem muito de si nestes textos, observamos como a ausência do convívio reflete na relação das duas. Os capítulos dedicados aos e-mails são especialmente interessantes. Neles as amigas dizem do passado e da vida íntima, assim como de questões mais amplas, filosóficas. Por exemplo, os rumos da humanidade, as crises políticas e climáticas e as possibilidades de fruição da beleza e da arte.

“Então é claro que, no meio de tudo, o mundo estando como está a humanidade à beira da extinção, aqui estou eu escrevendo mais um e-mail sobre sexo e amizade. Que outras razões temos pra viver? Com amor sempre, Alice.”  

A experiência no mundo literário

Tanto Alice quanto Eileen trabalham no mundo editoria. A primeira é uma jovem escritora de sucesso, enquanto a amiga é editora em uma pequena revista literária. Há muito da própria experiência de Sally Rooney aqui, sobretudo em Alice. Por exemplo, no questionamentos sobre a vida do autor que é tornada interesse público – muitas vezes um interesse maior que por sua própria obra -, a rotina de viagens e os bloqueios criativos. “Quando ofereci meu primeiro livro, só queria ganhar dinheiro suficiente para terminar o segundo. Nunca aleguei ser uma pessoa psicologicamente robusta, capaz de suportar vastas investigações públicas sobre minha personalidade e formação.”

Sally Rooney tem uma prosa elegante e prazerosa. Constrói um grande romance sobre uma geração que ainda busca se definir, quando os modelos pré-existentes de sucesso, família, trabalho e relações parecem não mais se encaixar. Onde está o belo mundo prometido pelas gerações anteriores? Para resistirmos a essa realidade que parece prestes a ruir, talvez seja preciso dedicarmos mais atenção ao nosso universo particular. Seja o prazer proporcionado pela arte, por um livro ou por aqueles que amamos e com quem nos importamos.

Canções que a inspiraram na escrita

Enquanto escrevia seus três romances, Sally Rooney preparava playlists no Spotify para cada personagem. Nessas listas encontramos canções que a inspiraram na escrita dos quatro protagonistas de “Belo mundo, onde você está”. Também há listas para Connell e Marianne, de “Pessoas normais”, e para Francis, Bobbi e Nick, de “Conversas entre amigos”. Clique aqui para acessar as playlists.

Encontre “Belo mundo, onde você está” aqui.

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultura. Sempre gasta metade do seu horário de almoço lendo um livro. Seu Instagram é @tgpgabriel.

Capa do livro Belo Mundo, onde você está. Credito: Companhia das Letras/Divulgação
Capa do livro Belo Mundo, onde você está. Credito: Companhia das Letras/Divulgação

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