Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“A Comunidade do Arco-Íris”, com Bianca Byington, faz estreia em BH

Gostou? Compartilhe!

Primeira e única obra de Caio Fernando Abreu escrita para crianças, “A Comunidade do Arco-Íris” estreia nacionalmente no palco do CCBB BH

O espetáculo “A Comunidade do Arco-Íris” faz, em BH, a estreia nacional, ocupando, desde sexta-feira, dia 1º, o palco do Teatro I do CCBB BH. A temporada segue até o próximo dia 25. Com a dramaturgia de Caio Fernando Abreu (1948 – 1996) – aliás, trata-se da única obra do gaúcho escrita para crianças -, a montagem tem direção de Suzana Saldanha e supervisão de direção de Gilberto Gawronski. Na trama, brinquedos e seres mágicos decidem viver em uma comunidade na floresta – ou seja, longe dos humanos. Procuram, assim, manter prudente distância da poluição e, tal qual, do consumo desenfreado. No entanto, a chegada de três gatos a esse recanto de paz provoca discussões sobre confiança, respeito, amizade e democracia. 

No material de divulgação de “A Comunidade do Arco-Íris”, Suzana Saldanha diz que, apesar de escrita há mais de 40 anos, a peça, de viés ecológico, mantém a atualidade. “Naquela época, Caio denunciava o mesmo que denuncio hoje, em 2024”, pontua ela, que, em 1970, participava da fundação do Grupo de Teatro Província de Porto Alegre, onde trabalhou com Caio Fernando. “Além de jornalista e escritor, era um belíssimo ator”, lembra Suzana.

Bianca Byington, em cena de "A Comunidade Arco-Íris" (Marco Terranova/Divulgação)
Bianca Byington, em cena de "A Comunidade Arco-Íris" (Marco Terranova/Divulgação)

A dramaturgia

Foi em 1971 que Caio escreveu “A Comunidade do Arco-Íris”. “De forma poética, o texto fala sobre esse movimento de pessoas se organizando em comunidades – isso, no auge da ditadura”, diz Suzana, no mesmo material. “Para nós, artistas, estava muito ruim (a situação no país). Mas nem todos iam da cidade para o campo. Caio, por exemplo, foi para uma comunidade em Londres. Já eu fui morar, em 1973, com colegas de faculdade, no Centro de Arte Sensibilização e Aprendizagem, onde também funcionava uma escola de teatro, em Porto Alegre”, recorda.

Quando volta ao Brasil, em 1979, Caio entrega “A Comunidade do Arco-Íris” nas mãos de “Suzy Baby”, como ele chamava a amiga. “Eu fiquei louca com o texto”, lembra Suzana que, no mesmo ano, estreiou o espetáculo. Em 2008, a diretora contribuiu para a montagem da peça com crianças da Escola Carlitos (SP). Em 2018, um novo encontro com a obra: Suzana apresenta o texto ao amigo e produtor Flávio Helder, que se apaixona pela narrativa. Assim, os dois decidem remontá-lo. “Eu quero mostrar ao público o lado amoroso e divertido de Caio Fernando”, afirma a artista.

Ode à diversidade

Para a supervisão de direção de “A Comunidade do Arco-Íris”, Suzana convidou o ex-aluno Gilberto Gawronski, referência da cena teatral brasileira. “Ela acreditar nessa parceria me deixou muito feliz”, diz Gilberto. Vencedor dos prêmios Sharp, APCA e Shell, o ator e diretor ficou conhecido pela montagem de diversas peças de Caio Fernando Abreu, entre elas, “Dama da Noite” e “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora”.

Em “A Comunidade do Arco-Íris”, segundo Gawronski, Caio convida as crianças à reflexão sobre convívio e coletividade. “Não é um texto sobre empoderamento da mulher nem sobre racismo, gênero ou etnias se colocando. Mas, por outro lado, abrange isso tudo. Desse modo, o ‘Arco-Íris’ de Caio é uma ode à diversidade. Simboliza um lugar ‘outsider’, alternativo, uma busca pelo utópico, onde todos vivem em harmonia e a diferença é respeitada”, reflete.

A cena

No palco, uma grande estrutura de ferro, flexível, com cerca de 7 metros de largura e 5 de altura, abrange o cenário interativo criado por Sérgio Marimba. Segundo Suzana, “em diálogo com a luz de Aurélio Simoni e os figurinos de Danielly Ramos, as crianças são levadas a um mundo de faz de conta”. Assim, há, em “A Comunidade do Arco-Íris”, ambientes coloridos “em que os atores podem se dependurar, penetrar, subir e passear livremente”, explica.

A experiência do teatro

Em meio a esse lugar que lembra uma espécie de rave ou “festa hippie”, os personagens de “A Comunidade do Arco-Íris”, como já assinalado, estão afastados do mundo humano. Desse modo, há, por exemplo, uma sereia cansada da poluição de mares e rios. Tal qual, uma bruxa de pano e, ainda, uma bailarina de caixinha de música, que foram trocadas por videogame e outros eletrônicos. E, ainda, um soldadinho que não gosta de guerra (aliás, tem vocação para a jardinagem). Ah, sim! Bem como um mágico que deseja fazer os números sem ser criticado e, ainda, um roqueiro, que só quer tocar música na tranquilidade da natureza.

Gawronski comenta que, nos dias atuais, é quase impossível manter uma criança longe do acesso tecnológico. “E a pandemia acentuou isso. Assim, o nosso grande desafio é possibilitar que essa criança, que está no celular ou no tablet, viva o equilíbrio entre o mundo virtual e o presencial. Ou seja, proporcionar a experiência do teatro é também proporcionar o encantamento do mundo presencial”.

O que realmente importa

No papel da Bruxa de Pano, a atriz Bianca Byington comenta que não conhecia esse lado de Caio Fernanda Abreu. Ou seja, um lado “surpreendentemente leve, que não perde o sarcasmo em pequenas brincadeiras”. Para a atriz, chama a atenção para o fato de que, ainda em 1971, o autor já tenha dado importância à questão ambiental. “Em uma abordagem simples, sem militância, mas, que, no fundo, fala o que realmente importa: a insatisfação em relação ao mundo capitalista, ao consumo”, diz.

Sob a direção de movimento de Sueli Guerra, dividem cena, com Bianca, em “A Comunidade do Arco-Íris”, os atores: Raquel Karro (Sereia), Tiago Herz (Roque), Lucas Oradovschi (Mágico), Lucas Popeta (Gato Simão), André Celant (Soldadinho), Renato Reston (Gato Tião) e Patricia de Farias (Gata Bastiana). Em vídeo, a atriz Malu Mader faz participação especial na abertura do espetáculo.

A direção musical da peça é de autoria de João Pedro Bonfá, que assim, mescla inserções, canções gravadas e música ao vivo. Segundo Bonfá, Caio Fernando indica, no texto de “A Comunidade do Arco-Íris”, uma letra com o hino da comunidade do Arco-Íris que, nesta montagem, é musicada por Tony Bellotto. “A música virou um baita Rock’ n roll no estilo Titãs. Nós gravamos de uma vez, no estúdio, igual banda de rock, com guitarra e bateria. Isso trouxe uma sonoridade final bem interessante”, conta.

Ficha Técnica

Texto: Caio Fernando Abreu

Direção: Suzana Saldanha

Supervisão de direção: Gilberto Gawronski

Elenco: Atriz protagonista: Bianca Byington (Bruxa de pano);

Stand in da atriz protagonista: Gisele Fróes
Raquel Karro (Sereia)
Tiago Herz (Roque)
Lucas Oradovschi (Mágico)
Lucas Popeta (Gato Simão)

André Celant (Soldadinho)
Renato Reston (Gato Tião)

Patricia de Farias (Gata Bastiana)
Participação especial em vídeo: Malu Mader

Cenário: Sérgio Marimba

Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurinos: Danielly Ramos

Serviço

“A Comunidade do Arco-Íris” no CCBB BH

Até 25 de março – segundas e sextas, às 18h. Sábados e domingos, às 16h.

Teatro I do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários)

Classificação indicativa: livre | R$30 e R$15 (meia)

Retirada de ingresso pelo site ou na bilheteria do CCBB BH

Gostou? Compartilhe!

[ COMENTÁRIOS ]

[ NEWSLETTER ]

Fique por dentro de tudo que acontece no cinema, teatro, tv, música e streaming!

[ RECOMENDADOS ]