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Natalia Borges Polesso retorna ao conto em “Condições ideais de navegação para iniciantes”

Natalia Borges Polesso volta aos contos em "Condições ideais de navegação para iniciantes" (Ana Reis/Divulgação)

O novo livro de Natalia Borges Polesso traz olhares para temas como vivências LGBTQIAPN+, saúde mental e neurodivergência, entre outros

Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

A água é uma espécie de fio condutor do novo livro de Natalia Borges Polesso, “Condições ideais de navegação para iniciantes”. Lançado pela Companhia das Letras, trata-se de um volume de contos poderoso de uma autora que sabe lidar tanto com a brevidade do formato quanto com o universo de possibilidades que as poucas páginas de um conto permitem – e, por vezes, exigem.

A capa do livro de Natalia Borges Polesso (Companhia das Letras/Divulgação)

Se a água é um fio condutor, não espere a linearidade de fluxo que siga sempre na mesma direção. A água, aqui, se derrama por diferentes caminhos. Assim, ora é doce, ora salgada. Ora se encontra no mundo exterior, ora se metamorfoseia no fluxo de sentimentos que invadem a rotina dos personagens. Em “Condições ideais de navegação para iniciantes”, Natalia trabalha temas como a multiplicidade das vivências LGBTQIAPN+, a saúde mental e a neurodivergência, bem como com as novas configurações familiares e os relacionamentos tóxicos.

Narrativas

Em um dos contos de Natalia, um grupo de mulheres motociclistas lida com a semente de um discurso violento e repressor que brota no bairro onde vivem. Como bem sabemos, não só no campo da ficção, tais sementes germinam numa velocidade assustadora. No caso, a narrativa tem seu ápice em uma viagem de cruzeiro, bem como em uma inusitada apresentação teatral – que ultrapassa os limites entre o real e a representação. Já em outra narrativa, uma mulher vive uma experiência metafísica e um reencontro tanto esperado quanto inesperado na monumental cratera de Pingualuit. “Um olho azul e translúcido no meio da tundra, no ártico”, que tem a segunda água mais pura do mundo.

E mais

Em outra história, uma jovem retorna à casa da mãe, após a morte da avó. Um jogo de xadrez e conversas profundas com a irmã mais nova a levam a refletir sobre o sentido da própria vida. “Eu tinha saído de casa muito cedo na vida, tinha passado uns anos me virando sem querer incomodar, sem pedir ajuda. Siderada. Sem conhecer e reconhecer a minha família. Isso é um pouco normal para quem é lésbica, bi, gay, trans, seja lá o que for. A gente tem uma vida dupla, tripla, cansa demais”.

Noutro conto, um mesmo personagem é visto em dois momentos da vida, ambos durante visitas ao litoral, quando criança e adulto. Na infância, a garota viaja ao lado da mãe, da avó e da tia. Já quando adulto, o homem leva o pai, ausente durante a maior parte de sua vida, a encontrar o oceano pela primeira vez. “Os dois homens se olharam. Teriam que dar um jeito de recomeçar, de pensar em coragem e perdão”.

Natália Borges Polesso é uma das grandes contistas do nosso tempo. “Condições ideais de navegação para iniciantes” é bruto e é poético, é múltiplo e singular, assim como é a existência de cada um ali representado. Entre a calmaria e a turbulência, Polesso nos convida a navegar e a se perder, recalculando rotas e descobrindo novos caminhos.

Serviço

Encontre “Condições ideais de navegação para iniciantes”, de Natalia Borges Polesso, aqui

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural. Escreve sobre literatura aqui no Culturadoria e também em seu Instagram: @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel)

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Publicado por Carol Braga

Publicado em 31/10/24

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