

Luiz Edmundo Alves espraia poemas no livro “O Vinho Que Sobrou”
Luiz Edmundo Alves, que autografa novo livro neste sábado, na Livraria Quixote (Arquivo Pessoal)
Luiz Edmundo Alves, que autografa novo livro neste sábado, na Livraria Quixote (Arquivo Pessoal)
Nova investida do poeta Luiz Edmundo Alves sai pela Quixote + Do; lançamento acontece neste sábado, 1º de junho
Patrícia Cassese | Editora Assistente
A relação entre o vinho e a poesia, lembra Luiz Edmundo Alves, remonta à antiguidade. No entanto, salienta o poeta, foi Charles Baudelaire (1821 – 1867) quem melhor traduziu em palavras essa relação. “O vinho como caminho para a poesia, embriaga-se de vinho e de poesia: Para não sentir o horrível fardo do tempo que lhe quebra os ombros e vos curva para o chão, é preciso embriagar-se sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia, ou de virtude, à vossa escolha’”, diz ele, citando o poeta, ensaísta, tradutor e crítico francês. Precisamente, “O Spleen de Paris”. E foi inspirado nesta relação que Luiz Edmundo escolheu o título “O Vinho Que Sobrou” para a mais nova incursão na seara dos livros.
Publicada pela Quixote + Do, a obra, vale dizer, terá sessão de autógrafos neste sábado, 1º de junho, a partir das 11h, na Livraria Quixote, em evento que, claro, será regado a vinho. Ao Culturadoria, Luiz Edmundo explica que os poemas do livro passeiam por temas diversos, tais como o amor, a solidão, a infância, a morte, o desamparo. “Neste livro, especialmente, existe uma parte chamada ‘versos da pandemia’. São poemas escritos durante esse difícil período de nossas vidas. Mas há também as memórias da adolescência em Vitória da Conquista, minha cidade natal”.
Na verdade, Luiz Edmundo Alves salienta que as questões ligadas à memória perpassam todo o volume. “É recorrente”, frisa. Assim, o autor descreve, por exemplo, cenas de vários bairros de Belo Horizonte, nos quais diferentes personagens desfilam. Outra parte da publicação, cita, são as cartas poéticas escritas para amigos, tal qual para escritores. “E, finalmente, tem a parte que dá título ao livro, uma espécie de ‘autobiografia delirante’, com inúmeras citações históricas do mundo pop, da literatura e da arte. Para se ler ao som de Pink Floyd, ou do Rolling Stones. É rock na essência”, avisa.
Uma curiosidade quanto ao nome do livro é que, na verdade, Luiz Edmundo Alves revela que, no âmbito geral, ele é um homem de beber pouco. Assim, na maioria das vezes, apenas uma taça de vinho lhe basta – e também se revela como a quantidade suficiente para lhe inspirar. “Às vezes, sobra um pouco no cálice, paro, faço um poema, bebo o que sobra… A beleza é essa relação. Daí o título do livro. A vida é uma beleza, uma benção, mas como desviar-se dos dardos dela? Como suportar as incoerências? Eu me embriago de poesia, sempre. E, eventualmente, de vinho”.
Perguntado sobre o processo de feitura da obra, Luiz Edmundo Alves lembra que escreve com constância, sempre, ainda que seja apenas um verso ou uma frase. “Mas, às vezes, o poema vem pronto. Vou burilando, acrescento uma palavra aqui, corto outra ali. E, assim, os poemas vão se acumulando, até que chega um momento em que percebo que são suficientes para compor um livro. Costumo agrupar por temas, ou por partes”, define.
Em um contexto mais amplo, o escritor revela que acredita sim, e muito, em inspiração. “São momentos muito especiais. No entanto, inspiração sem trabalho resulta em nada. A questão são essas duas coisas coincidirem. Isso é realmente um problema para mim. Quando se aliam, ai certamente vem a verdadeira poesia. Desse modo, tenho plena consciência desses momentos e, assim, procuro aproveitá-los com intensidade”.
Neste sentido, no momento da criação, Luiz Edmundo inclusive costuma dar um hiato nos compromissos sociais e mesmo familiares, só para se dedicar à escrita. “Daí, meu compromisso fundamental passa a ser com a escrita. Quando aquela inspiração passar, claro, terei tempo, visitarei amigos, irei ao bar jogar sinuca, bem como cozinharei para os amigos, para a família. Mas, enquanto durar, serei somente poeta. Consciente dessa entrega necessária”, assinala.
Perguntado se ousaria citar alguma expressão ou verso que porventura condense de maneira acertada o novo livro, ele responde de pronto. ” Sim, um verso do Wally Salomão citado como epígrafe de uma das partes: ‘A memória é uma ilha de edição'”.
Luiz Edmundo Alves também conta que a sua poesia trafega tanto por linguagem experimental como traz textos que se aproximam da prosa. “Alguns poemas são narrativas próximas do conto. Essa mistura me fascina e pauta todo esse volume, mas não determino previamente”. Ou seja, o texto vai se construindo, mas a linguagem é própria. “Traz meu estilo, e, então, tudo se mistura indistintamente. Gosto de construir imagens, de brincar com as palavras, com os sentidos dela. Assim como gosto de narrar pequenas histórias, revelar o mundo que vivi e vivo. Mas, no final, é poesia. O que escrevo é essencialmente poético”.
Uma das, digamos assim, “marcas” de Luiz Edmundo como poeta são o recitais, muito difundidos por ele em encontros, bienais do livro, salões e eventos diversos. Perguntado se continua a acreditar nesse caminho e se entende que as récitas contribuem para aproximar leitores, o autor crava um contundente “sim”. “De fato, acredito muito no poder dos recitais. Nas leituras bem feitas. Claro, alguns poetas não se sentem confortáveis nessas situações – e eu entendo isso. Mas eu, particularmente, gosto de declamar, com energia, com domínio do texto”.
Na verdade, Luiz Edmundo Alves lembra que mantém essa prática há mais de três décadas. “Memorizo, construo um ritmo. Assim, sei que toco a sensibilidade das pessoas – e essa é mesmo a minha intenção. Ou seja, fazer o público apreender o poema. E, a partir daí, se emocionar, encontrar os encantos da vida… Não raro, esses encantos podem estar nas pequenas coisas do cotidiano – como em um poema por exemplo. A poesia é uma linguagem de emoção”, conclui.
Em tempo: O livro tem prefácio do professor e poeta Leonardo de Magalhaens e traz, na capa, obra do artista plástico Fernando Pacheco. Design gráfico de Daigo da Mata.
Lançamento do livro “O Vinho Que Sobrou”
Quando. Neste sábado, dia 1 de junho, a partir das 11h.
Onde. Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)
Publicado por Carol Braga
Publicado em 30/05/24