
A Casa da Agnes: Agnes Farkasvölgyi comemora 60 anos com dez jantares “biografia” e exposição
Agnes Farkasvölgyi - Foto Eduardo Tropia
Agnes Farkasvölgyi - Foto Eduardo Tropia
Menu-degustação ocorrerá uma vez por mês, n’A Casa da Agnes; o primeiro é no próximo dia 18 de janeiro
Por Aline Gonçalves | Colunista de Gastronomia
Chef, banqueteira e artista plástica são alguns dos títulos que Agnes Farkasvölgyi ganhou ao longo da trajetória profissional. Dona de um carisma e bom-humor impecáveis, ela, porém, se viu inquieta e reflexiva ao completar 60 anos e revisitar a própria vida, em outubro de 2022.
“Fazer aniversários sempre foi motivo de celebrar, mas, ao chegar aos 60 anos, este marco, me senti incomodada”, confessa. Foi por meio da arte – e da cozinha – que resolveu, então, se expressar, como já fez tantas outras vezes. “A arte salva”, reflete Agnes. Surgiu assim um menu-degustação especial, que ela servirá por dez vezes neste 2023, de janeiro a outubro, começando pelo próximo dia 18 (quarta-feira), n’ A Casa da Agnes. Uma exposição especial também ocupará o espaço.
Os pratos, apresentados previamente no “jantar zero”, em dezembro, foram escolhidos afetivamente e são, portanto, repletos de memórias – não por acaso, os eventos foram nomeados como Jantar Biografia (R$ 360). São dez pratos icônicos e que falam da trajetória da chef que, no decorrer do serviço, conta a história de cada um.
Para começar, por exemplo, Agnes serve no primeiro andar do restaurante, um espaço sem mesas, o Para Despertar Sentidos, aromática combinação de caldo e flores comestíveis, algumas preparadas em tempura. “Servi pela primeira vez em Diamantina”, rememora Agnes, ao falar do Festival de Inverno na cidade, em que participou pela primeira vez quando, já chef de cozinha, se transformou em estudante de artes plásticas.
Já à mesa, os comensais experimentam criações como A Ostra Vermelha, uma ostra fresca servida com uma mistura de bloody mary e leche de tigre. A Primeira Viagem é composta por salmão defumado, hollandaise de maracujá e aspargos, em uma referência à primeira vez em que ela saiu do Brasil, ainda adolescente, para visitar uma tia. “Tinha 16 anos e, até então, toda minha referência de cozinha vinha da minha avó. Na casa da minha tia Agnes, em Genebra, foi a primeira vez em que estive em jantar formal, com quatro ou cinco pratos, bebida. Foi a primeira vez que comi salmão com aspargos”, lembra. A adição do maracujá viria por histórias de anos depois, quando estudou com Claude Troisgros, que lhe apresentou a já clássica combinação do pescado com a fruta.
“Este é o prato mais afetuoso de todos”, define Agnes. “Eu fui uma adolescente fora do comum. Meu negócio era ficar com avós jogando canastra. Lá pelas tantas da noite, minha avó me chamava pra fazer ‘o mexido da bruxa’. Basicamente a gente pegava coisas da geladeira e ela me deixava escolher as especiarias e temperos, mesmo sem ter noção de nada, e íamos jogando na panela. Ah, e mexido na minha família sempre teve arroz, feijão e queijo”, diz. Na apresentação que faz no Jantar Biografia, Agnes serve pequenas porções desses ingredientes (sendo o arroz em bolinhos e o queijo, coalho), além de denver steak, tomate e pimenta, para que cada um monte o seu prato à mesa.
Para finalizar, a sobremesa traz mistura de azeites com chocolates, branco e meio amargo, este da marca mineira Kalapa. “Um dos meus prediletos”, diz Agnes..
Para os jantares, A Casa de Agnes passou a abrigar uma exposição com 50 obras da chef e artista, entre telas, objetos, autorretratos e colagens. Os jantares também se iniciarão com sarau com músicas e poesias.
A exposição está dividida nas categorias: objetos de afeto, elementos afins, transformados em volumes únicos unidos por resina; acumulações, bijuteria, miçangas e cacos em formas tridimensionais; confeitaria, pequenas telas, em pintura acrílica, com volume, produzidos usando técnica de confeitaria tradicional; botânica 3, telas em pintura acrílica com ênfase na cor e textura e auto retratos.
A Casa da Agnes abriu as portas em 2020 e é um espaço onde Agnes divide as panelas e o atendimento com sua filha Camila. Sua mãe Lelete cuida dos detalhes.
Menu Jantar Biografia – R$ 360
– Para despertar sentidos (Flores e caldo aromático)
– A ostra vermelha (Bloody leche de tigre + Ostra)
– Ovo & ovas (Vegetal e aquática)
– Lichia no mar e nas nuvens (Ceviche e sorbet)
– A primeira viagem (Salmão, aspargos e maracujá)
– Borboleta contemporânea (Camarão e manga)
– Mexido da bruxa (arroz, feijão e outros)
– O pato (texturas, legumes)
– Queijos (daqui, melhores que os de lá)
– Food paring (chocolate e azeite)
As reservas podem ser feitas na plataforma Bora
A repórter acompanhou o “Jantar Zero” a convite
Publicado por Carol Braga
Publicado em 13/01/23