A primeira marchinha de Carnaval brasileira foi composta por uma mulher: Chiquinha Gonzaga! Essa história serviu como inspiração para o livro Ô abre alas, do ilustrador paulistano Duda Oliva. A homenagem para a artista vem em formato de livro infantil e conta a história de uma cidade cinzenta que ganha cor por meio da música. A abordagem para o público infantil foi pensando em promover reflexão desde cedo.
“Acho que a obra de Chiquinha na sua época já carregava um peso enorme, e se hoje pensamentos semelhantes no conservadorismo com relação à submissão da mulher, ao demérito da cultura popular e a repressão do povo negro tentam ganhar força, acho muito forte resgatar vozes que batalharam no passado estes pensamentos retrógrados, tanto mais para crianças: acho que a arte (cênica, musical, plástica, o que for) tem o poder de inspirar movimentos e pensamentos. Então, se tivermos a oportunidade de abrir esta porta mais cedo, que seja”, explica o autor.
O enredo mostra a tal cidade cinza onde tudo era proibido. Mas as coisas mudam quando a raposa decide quebrar o silêncio na praça central acompanhada de uma flauta e de uma vitrola.
Os lugares cinzentos
Ô abre alasé um livro que tenta trazer de volta a música para os lugares cinzentos. Para Oliva, esses lugares tratam de todos no qual a natureza é posta de lado. Além disso, lugares onde vozes são silenciadas e cada um não pode ser quem é. Entretanto, defende que o próprio leitor interprete como quiser. “O importante é pensar como podemos trazer um pouco de cor, de vida, de empatia e de nós mesmos”, destaca.
Livro de estreia
Duda Oliva é ilustrador e se aventurou pela primeira vez em um livro. Unindo a paixão por natureza, folclore, chás, ilustração, biologia e a profissão de “poeta amador na infância”, fez uma obra na qual acredita que o principal é compartilhar narrativas. Em resumo, ele ainda explica como todas essas paixões se uniram no processo de produção do livro. “Tento trazer a natureza e o folclore quase sempre como elementos centrais em tudo que crio, e nessa obra, a Raposa (com todo o pano de fundo de fábulas, cantigas e lendas) personifica de certa forma isto. Do lado da poesia, como eu não ia me meter a poeta, chamei alguém bem mais gabaritada que eu, daí entra a Chiquinha. Por fim, o chá eu bebi enquanto desenhava”.
Ô abre alasé uma publicação da Saíra Editorial e está disponível por R$ 35. Compre aqui.
Chiquinha Gonzaga em 1932. Foto: Acervo Edinha Diniz