Empreendedorismo artístico? Sim, precisamos falar sobre isso!
A crise no modelo de financiamento da cultura chama a atenção para a necessidade de se encontrar outros caminhos para a sustentabilidade de projetos culturais
Já aconteceu de alguém te enxergar como você nunca conseguiu? Pois tenho um exemplo recente. Recebi o convite da querida amiga Daniela Vargas para participar do programa Brasil das Gerais, da Rede Minas, em Belo Horizonte. O tema era empreendedorismo artístico, uma discussão que, claro, muito me interessa.
Mas apesar de me interessar por essa conversa, como jornalista, sempre me entendi como uma figura que mais observa à distância e analisa. Mas neste dia a Dani não me apresentou como jornalista ou professora e sim como mentora. Faz sentido, mas eu nunca tinha pensado assim.
No primeiro instante estranhei, mas depois gostei daquilo. Ao longo da conversa fui introjetando o papel que agora realmente quero pra mim. Não por vaidade, mas porque eu acho que é uma necessidade de quem está inserido na economia criativa perceber mais a sua arte como negócio. Aí não tem como fugir do empreendedorismo. Desde a criação do Culturadoria eu tenho pesquisado, estudado a fundo quais os modelos de negócio possíveis para quem trabalha na indústria criativa.
Rivais?
Não, gente, empreendedorismo e arte não estão em pólos opostos. São coisas que podem andar de mãos dadas e, de preferência, sem que uma parte anule a outra. Se tem um setor castigado brutalmente nesta pandemia é o cultural. Aí estão os eventos, grandes ou pequenos, comerciais ou independentes. É óbvio que os maiores têm mais chance de sobreviver, mas a conversa de agora não é essa.
A pandemia me parece a pá de cal em uma área que já vinha definhando. Como repórter, acompanhei a ascensão e queda de um mercado sustentado pelo incentivo fiscal. Nunca teve para todo mundo, mas muita gente tentou. Artistas e produtores se capacitaram na arte de escrever projetos. Dedicaram muito tempo a essa etapa burocrática dos editais.
Funcionou? Volto a dizer, não para todos, mas para muitos sim. Acontece que a fonte secou. Infelizmente, as pessoas que estão no poder no momento (tenho muita fé de que isso vai passar, vai passar) não conseguem perceber o valor da cultura. E por nenhum lado, o que é um absurdo. Não enxergam o quanto a cultura movimenta a economia e muito menos que tipo de transformação gera na vida das pessoas. Vamos ficar discutindo isso? Será que vale a pena?
Que tal agir?
Não tenho qualquer receita pronta, mas palpites. O setor cultural tem muitas – muitas mesmo! – particularidades. Acho importante haver uma aproximação com outras áreas que podem nos ensinar como sobreviver de outras formas de monetização. Elas existem, só precisamos entendê-las melhor.
Talvez um primeiro passo seja compreender melhor a comunidade que se formou no seu entorno. As lojas, por exemplo, chamam essa comunidade de clientes. Um espectador de uma peça de teatro, alguém comprou um disco, esteve em um show ou mesmo em uma live não seria também um cliente? Qual a necessidade dele? Já parou para pensar em que tipo de troca vocês estão estabelecendo? Tem espaço para essa troca ser comercial? Todo mundo tem contas a pagar.
Enfim, temos muito a conversar sobre isso. Tenho muito mais a pesquisar sobre isso, mas fato é: precisamos falar sobre empreendedorismo artístico.
Para introduzir o assunto, que tal começar pelo Brasil das Gerais? Roger Deff também estava nesse papo que ampliou meus horizontes e plantou uma semente por aqui.