Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Sesc Palladium terá sessão do potente “Banho de Sol”, da Zula

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Montagem da Zula Cia de Teatro é um fenômeno de crítica e público, sempre com sessões esgotadas, e agora volta com ingressos a preços populares

“Banho de Sol”, montagem teatral da Zula Cia. de Teatro, que estreou em 2019, é fruto do projeto “A arte como possibilidade de liberdade”. A iniciativa era composta, dentre outras atividades, por aulas de teatro que foram realizadas em um complexo penitenciário feminino ao longo de um ano, durante o banho de sol das participantes. Desse modo, o teatro adentrou aquele universo. Tal qual, foi adentrado por ele. “A princípio, a ideia era somente fazer com que essas mulheres tivessem a oportunidade de vivenciar uma experiência artística. Assim, momentos de troca, de afeto, de integração entre elas. E, daí, ver como essas atividades reverberavam no cotidiano delas”, destaca Talita Braga, atriz e fundadora da Zula Cia. de Teatro.

Mas a realidade vivenciada pelas integrantes da Zula foi tão intensa que provocou o grupo a criar uma obra para que esta vivência pudesse fazer ecoar as vozes destas mulheres em situação de cárcere, prossegue ela, que estrela o espetáculo ao lado das atrizes Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Mariana Maioline. A boa notícia é que o espetáculo terá nova apresentação, nesta sexta-feira, dia 15 de dezembro.

Cena da peça "Banho de Sol", da Zula Cia de Teatro, que terá sessão no Sesc Palladium (Guto Muniz/Divulgação)
Cena da peça "Banho de Sol", da Zula Cia de Teatro, que terá sessão no Sesc Palladium (Guto Muniz/Divulgação)

O poder humanizador da arte

Voltando ao embrião do espetáculo, o encontro entre as artistas da Zula Cia de Teatro e as participantes, assim como as modificações provocadas por essa experiência em cada uma das mulheres em privação de liberdade, foram os motes da criação dramatúrgica da peça. E essa é assinada por Talita Braga, que divide a direção com Mariana Maioline. Assim, a intenção da peça é, a partir das memórias e experiências das atrizes, dividir com o público o processo de transformação que elas, juntamente com as alunas, vivenciaram ao longo de um ano de trabalho dentro de um complexo penitenciário.

Desse modo, trazer, à tona, os preconceitos, julgamentos, a crise do sistema prisional, a opressão, o abandono das mulheres em privação de liberdade. Por outro lado, também o poder humanizador da arte, o poder do afeto. Tudo isso a partir de memórias de corpos que ouviram, viram, viveram e conviveram com essa realidade. “Nossos corpos e vozes serão a ponte para trazer para a sociedade toda a discussão vivenciada dentro do presídio”, destacam as atrizes da Zula, no material enviado à imprensa. 

Compromisso ético

Além dos teatros, “Banho de Sol” já foi apresentado em locais como a Faculdade de Direito, o Tribunal de Justiça de MG e, do mesmo modo, para trabalhadoras e trabalhadores do Programa de Inclusão Social dos Egressos do Sistema Prisional. “O interesse dessas pessoas no espetáculo afirma o compromisso ético que temos com o trabalho e a capacidade da arte em sensibilizar as pessoas mesmo para um tema tão complexo”, reflete Mariana Maioline. 

O grupo

Com um trabalho focado na mulher em situações marginais, a Zula Cia. de Teatro tem como ponto de partida, para a criação teatral, histórias e depoimentos reais como em seus primeiros espetáculos. São eles: “As rosas no jardim de Zula” (de 2012 com direção de Cida Falabella) e “MAMÁ!” (de 2015, com direção de Grace Passô). A partir dessas obras, a companhia se firmou como um grupo de pesquisa de teatro documentário e teatros do real, com foco no feminino e na condição da mulher na sociedade atual.

Trabalhar com mulheres em situação de cárcere era um desejo antigo de Talita Braga. No entanto, foi em 2016, ao participar do núcleo de pesquisa para arte-educadores no Galpão Cine Horto, que o projeto começou a ganhar vida. Ela conta que as atividades eram coordenadas por Gláucia Vandeveld, que já tinha realizado atividades teatrais em unidades prisionais e acumulava experiência nesse universo. Foi desse encontro que surgiu o projeto. A iniciativa teve, como fio condutor, a questão: “é possível que a arte ofereça momentos de liberdade a mulheres em situação de cárcere?”

In loco

Na época, as atividades das atrizes da Zula consistiam em aulas de teatro e criação de um espetáculo para um grupo de 30 mulheres em privação de liberdade que cometeram crimes de repercussão. Ao lado das atrizes que estrelam a peça, juntaram-se ao projeto Priscylla Lobato, arte-educadora e atriz que integrou a equipe na primeira etapa do trabalho. Do mesmo modo, André Veloso, Alexandre Tavera, Philippe Albuquerque, Ana Haddad e Cristiano Oliveira.

Além da iniciação à prática teatral, momentos de fruição artística e elaboração criativa, a Zula realizou uma exposição de artes visuais baseada nas experiências e relatos discutidos durante as aulas. A iniciativa, em todo seu conjunto, foi uma das finalistas do Prêmio Innovare de 2016, que tem o objetivo de identificar e difundir práticas que contribuem para o aprimoramento da justiça no Brasil. 

Fora da zona de conforto

A realização do projeto, contam as atrizes, as provocou a sair de um lugar cômodo. Segundo a equipe, o pensamento de que teriam muito a dar e pouco a receber logo caiu por terra. Assim, a intensidade dessa troca as colocou em xeque. As integrantes da Zula contam que se confrontaram com os privilégios inerentes ao fato de serem mulheres brancas de classe média, “com nossos preconceitos e nossa arrogância”.

“Encontramos afeto verdadeiro, cumplicidade e cuidados umas com as outras. Desse modo, fomos atravessadas por esses sentimentos”. Ao fim, dizem, o que ficou foram perguntas como: “A vida pulsa em situações extremas?”. Tal qual: “O afeto é capaz de transformar vidas?”. E, ainda, outras tantas: “Como manter a lucidez?”, “Quando é que uma luta passa a ser uma causa sua?”, “O que eu tenho a ver com isso?” Mas ficou também uma certeza para as atrizes da Zula: “a de que é preciso repensar o sistema prisional”.

Serviço

O que: “Banho de Sol”, espetáculo da Zula Cia de Teatro 

Quando: 15 de dezembro, sexta, às 20 horas

Onde: Grande Teatro do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1046, centro)

Ingressos: Valores variam entre R$ 10 e R$ 30. À venda no www.sympla.com.br

Classificação: 14 anos. Duração: 2 horas

Mais informações: Instagram:  Zula_Teatro e Facebook: Zula Cia de Teatro

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