
Foto: HBO / Divulgação
Já se passaram mais de trinta dias que vi Years and Years. Neste meio tempo, foram inúmeras as situações em que, durante uma conversa, recomendei a série britânica para algum amigo, conhecido, aluno, enfim. Acho que a produção diz muito – bastante mesmo – sobre nosso tempo. E mais: nos serve como um alerta triste.
Pelo andar da carruagem, essa prática que se assemelha a uma prescrição médica, mas cultural, vai continuar. Inegavelmente, tenho me perguntado o que a produção criada por Russell T Davies originalmente para a BBC One tem para virar quase um medicamento para quem deseja entender melhor nosso tempo.
Ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Dessa forma, apresento a seguir algumas razões para te inspirar a uma mini-maratona. Sim, é bem pequena mesmo pois são apenas seis episódios.
Ajuda a entender a onda de conservadorismo do nosso tempo
Nas primeiras cenas de Years and Years, Emma Thompson (que também é uma das produtoras) aparece em um debate político como Viv Rook. A personagem é uma candidata conservadora que começa a dar os primeiros passos para se eleger. O ano é 2019. O que chama a atenção é a quantidade de besteira que ela é capaz de falar. Parece até que fez um cursinho com Bolsonaro. É chocante. Os mecanismos usados pela candidata e pela campanha são muito parecidos com o processo que vivemos durante as eleições de 2018. Distribuição de notícias falsas, perseguição à imprensa. Está tudo lá. Como trama avança alguns anos, faz pensar sobre o peso das escolhas de cada um.

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Estreita relação com o Brasil
A adoração ao discurso conservador de Viv Rook não é algo exclusivo da ficção. É interessante como o diretor mostra a forma como o conservadorismo dela vai atraindo a atenção dos cidadãos. Ou melhor, talvez nem seja somente atenção, mas principalmente a confiança. Por lá há, também, brigas na família motivadas por questões políticas. Ao mesmo tempo, o roteiro vai apresentando as consequências como, por exemplo, a intransigência do governo. Cada um que coloque na balança. Uma coisa é fato: a vida de todo mundo piora. De todos os personagens. Mas o amor entre eles nunca muda.
Faz pensar sobre família
Família é família. Os conflitos são inevitáveis e isso não tem nada a ver com amor, afeto. A casa da matriarca dos Lyons, Muriel (Anne Reid), a avó, fica em Manchester, ou seja, no interior. Juntos superaram muitas dificuldades, entre elas, a morte dos pais de Stephen (Rory Kinnear), Rosie (Ruth Madeley), Edith (Jessica Hynes) e Daniel (Russell Tovey). Apesar de toda a turbulência interior e exterior, é ali que um se apoia no outro. O exemplo daquela metáfora de família é o pires para onde a xícara sempre volta. É melhor: apesar de tudo o que rola entre eles, nunca perdem o respeito.

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Reflexão sobre a digitalização
Além da questão política, Years and Years faz pensar sobre a evolução da tecnologia e de que modo cada vez mais afeta a nossa vida. Signor, a robô, é uma personagem. A interferência dela no dia a dia das pessoas desperta a reflexão do que será nosso cotidiano quando a busca do Google por voz tiver grande precisão. O que será da nossa memória? E o que dizer de pessoas que escolhem ser metade humanas e metade máquinas? Por incrível que pareça, essa não é uma discussão de algo que esteja muito longe de nós.
Aborda temas relevantes para os dias de hoje
Respeito à diversidade sexual, aos imigrantes, aos portadores de necessidades especiais. Todas essas questões aparecem entremeadas nas tramas de Years and Years. E, sinceramente, não sei se é uma visão otimista. Apesar do respeito ser algo constante na família, ou seja, um não julga o outro, no mundo não parece ser assim. Vale lembrar: a série fala do futuro.