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Cinema

As impressões sobre Watchmen por quem não entende nada de HQ

Série protagonizada por Regina King é campeã de indicações ao Emmy
Watchmen

Foto: HBO / Divulgação

O universo das histórias em quadrinho, ou das Graphic Novels, é tão complexo e encanta tanta gente que registrar aqui as impressões de qualquer série ou filme baseada uma delas dá frio na barriga. Então, é melhor assumir logo o total desconhecimento para não correr o risco de alguém dizer que cometo aqui uma “ignorância inacreditável”. Sim, assumo que cometo. 

Você deve estar se perguntando: se ela não sabe nada, por que viu? E mais: por que se mete a escrever sobre Watchmen? Bom, faço isso pois acho que produções como essa têm que tocar tanto quem conhece muito como também aqueles que não sabem nada, tipo eu. 

Quis ver Watchmen depois que recebeu 26 indicações ao Emmy. Também porque gosto do trabalho da atriz Regina King. Adianto que não me arrependi nem um pouco mas precisei da ajuda do Google e mesmo assim muita coisa me escapou. 

Esse é um detalhe que sempre me incomoda nesses guetos. São produções cheias de referências para quem conhece. Quem está fora dessa bolha, boia total. Achei curioso é que mesmo sem entender tudo, cada episódio me prendia mais do que o outro. Credito isso a um roteiro muito bem desenvolvido e também ao trabalho de Regina King, que já comentei acima. 

O que é básico saber?

Watchmen, a série, é a continuação da HQ escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. Foi originalmente publicada pela DC Comics entre 1986 e 1987. Em 2009 foi adaptada para o cinema. A produção da HBO, com roteiro de Damon Lindelof, se passa em 2019 e, de certa maneira, dá sequência aos eventos finais do original. A trama conta algumas gerações de super-heróis e justiceiros fantasiados. Demorei um tanto para entender quem era Adrian Veidt/Ozymandias (Jeremy Irons) e Dr. Manhattan, assim como o papel deles nessa versão. No final, rolou! A Wikipedia ajuda acrescentando que são “homens comuns, com questões éticas e psicológicas”.

Mulheres poderosas

Aí tem uma característica que me faz gostar muito de Watchmen. Aquela história de grupo de homens que vão salvar a civilização é coisa do passado. São mulheres as três personagens mais importantes dessa história. Angela Abar, também conhecida como Sister Night (Regina King), Laurie Blake (Jean Smart) e Lady Trieu (Hong Chau). Basicamente todas as decisões estratégicas e inteligentes, para o bem e para o mal, partem de uma delas.

Se a versão original abordava muito sobre o conflito entre Estados Unidos e União Soviética, a atual atualiza essa “guerra”. Fala-se menos em nações e mais em grupos sociais. Uma sintonia impressionante com movimentos como Black Lives Matter. O mais curioso: a série foi lançada em outubro de 2019, bem antes dos conflitos ganharem as ruas dos Estados Unidos.

“Me sinto honrada em ter tido a oportunidade de ser parte de uma narrativa de entretenimento mas que também segura um espelho sobre o que está acontecendo”, comentou a atriz Regina King em entrevista ao ET Canadá.

Os episódios

O roteiro de Damon Lindelof parte de um episódio real: o massacre de Tulsa. No início do século XX, a população branca aniquilou os cidadãos negros da cidade. Uma guerra sangrenta filmada com maestria no primeiro episódio de Watchmen. A partir dali, o conflito racial aparecerá sempre como pano de fundo, mesmo que indiretamente. Foram essas sutilezas e o modo muito inteligente como a história é transposta para nosso século que me manteve presa nos nove episódios com cerca de uma hora cada.

A partir do quinto episódio Watchmen pega um ritmo que é difícil parar de ver. O meu episódio favorito foi o sexto que, inclusive, ajuda quem não sabia nada da HQ a se situar um pouco mais. É magistralmente dirigido por Stephen Williams com destaque para a fotografia. 

Watchmen

Foto: HBO / Divulgação

O que pegou?

Talvez por eu não ser uma pessoa com qualquer relação com os heróis dos quadrinhos, os conflitos humanos me seduziram mais. No caso do sexto episódio ele consegue equilibrar isso. 

Além da questão racial, da igualdade de gênero, Watchmen fala também sobre ancestralidade e vulnerabilidade. Imagina, um “herói” com trauma? A podridão política também aparece. 

Enfim, são tantas camadas relacionadas ao nosso tempo, ao modo como o ser humano tem lidado com as suas próprias questões hoje que a parte “fantástica” de Watchmen, para mim, não foi a mais surpreendente. Ela existe, agrada aos fãs, intriga quem não conhece e assim chega em um meio termo que justifica cada indicação ao Emmy.

A série está disponível na HBO.

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