Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

De MC Elis a Djonga: a Virada Cultural e o pertencimento social

Virada Cultural de BH promoveu 24 horas de muita arte – para todos os públicos – pelo hipercentro da capital

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Era uma vez um menino da periferia de Belo Horizonte. Ele é negro. Sempre soube dos shows que eram – e são – realizados na Praça da Estação. Nem sempre ia. Um dia decidiu comparecer. Disse que estava de bobeira em casa. Mas o que mais marcou, não foi exatamente o espetáculo que foi assistir. Foi a coça que levou “dos caras”. Essa é a história de Gustavo Pereira Marques. Djonga

“E aí agora, olha que coisa, eu aqui em cima”, disse Djonga para a multidão que ocupou a Praça da Estação para o encerramento da Virada Cultural de BH em 2019. Foi ovacionado, claro! Nada mais significativo do que a escolha dele para tal momento. Não pelo sucesso artístico que vem fazendo, mas pelo que representa para a cultura da periferia de Belo Horizonte. Isso tem a ver com pertencimento social. Em resumo: é essa uma das principais funções a se cumprir por um evento como a Virada. A cultura deve ser para todos.

Conexão

Apesar da grande maioria presente na Praça da Estação já conhecer Djonga, ele também fez questão de se apresentar. “Sou dessa cidade, estamos sempre por aí pela rua, tomando cerveja, zoando, fazendo arte. Nunca vou sair daqui por causa disso. Quando faço show na minha cidade, vem todo mundo me ver. Só tenho a agradecer por isso”.

Djonga na Virada Cultural. Foto: Leandro Couri/EM

Djonga é considerado hoje um dos principais nomes do rap nacional. Ele tanto sabe disso que se considera “espelho para os negros do Brasil”. Tem quase um milhão de inscritos no Canal do YouTube. No Spotify, Hat-Trick, uma das canções do disco mais recente, Ladrão, tem mais de cinco milhões de execuções.

Deixando a questão musical de lado – sugiro ouvir depois prestando atenção nas letras – o que sempre me comove nas apresentações de Djonga é a sinceridade. Digo isso em relação ao que ele diz, mas principalmente sobre a conexão que consegue estabelecer com a comunidade que se fortalece em torno dele. Observar o diálogo entre o artista e a plateia é um show à parte. Na verdade, essa é uma característica (e força) que vem do rap e também das expressões artísticas que são criadas na periferia.

Confira as impressões sobre o primeiro dia da Virada. 

 

Praça da Estação durante a Virada Cultural. Foto: Leo Lara /Divulgação

 

“Sensação, sensacional. Fogo nos racista”

Djonga já é veterano então isso fica muito claro no trabalho dele. Mas MC Elis, tem apenas sete anos e surpreende por ter consciência das mesmas questões que o rapper mineiro aborda. À maneira dela, e para o público como qual se comunica, também fala sobre racismo, sobre cotas, faz críticas a padrões naturalizados na sociedade. Vale lembrar: ela tem sete anos.

Elis também canta rap, é do Rio de Janeiro, e foi uma das gratas surpresas da Viradinha, a programação infantil que ocupou o palco do Parque Municipal. A carreira começou no YouTube.  O vídeo mais popular é o clipe de Vem dançar com a Elis, canção que sintetiza a mensagem dela. Diz na letra: “(…) Eu já estou cansada/ Dessa ideia de racismo / Eu não tô de mimimi / Fale o que quiser nem ligo/ O meu cabelo não é duro / Ele é crespo e muito lindo / Vou passar logo a visão / Tá incomodado comigo? / Vem dançar com a Elis / Vem dançar com a Elis / Aqui não tem caô / Só chegar e ser feliz”.

Quando Elis começou a cantar na Virada Cultural, era visível o encantamento da plateia presente, principalmente de pais e filhos negros, que depois fizeram uma fila gigante para tirar fotos com a menina. Foi mais um momento em que o pertencimento social esteve presente.

 

MC Elis foi atração da Viradinha Cultural. Foto: Rick Melo/Divulgação

 

Liberdade de expressão

Depois dela, foi a vez do espetáculo Mari e Celi estão na cidade. A montagem, protagonizada por Marina Machado e Celinha Braga é linda. Com uma poética diferente de MC Elis. Mas o que chamou atenção, foi o manifesto em favor da liberdade de expressão lido após a apresentação. Que bonito – e importante – ver manifestações assim mesmo após espetáculos infantis. Inegavelmente, o que está em jogo é grave.

Enfim, participar da Virada Cultural é sempre um exercício de escolhas. Eu sei que tem um tanto de coisas que não foi possível ver e, portanto, não vai dar para comentar. Para se ter uma ideia, nem no Viaduto de Santa Teresa eu consegui passar. O que me atraiu mais foram, portanto, as atrações do circuito Guaicurus/Praça da Estação. Não me arrependi. Do meu ponto de vista, foi uma Virada e tanto.

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