O filme de Julie Navarro é um dos destaques da Mostra Varilux de Cinema Francês; conversamos com o roteirista, Marc Salbert
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Diante da gravidade no que tange às condições de vida dos imigrantes que chegam em um fluxo ininterrupto no continente europeu, filmes que flagrem situações por eles vividas se tornam, mais que oportunos, essenciais. Em curso em várias cidades do Brasil, o Festival Varilux de Cinema traz alguns títulos que abordam a questão – alguns, de forma menos direta, como “O Último Judeu”. Já outros, como “A História de Souleymane”, de Boris Lojkine, de forma mais enfática. Outro que versa sobre esse fenômeno dos tempos atuais é “Apenas Alguns Dias”, de Julie Navarro, com Camille Cottin, Benjamin Biolay e Amrullah Safi à frente do elenco.
Trata-se de uma adaptação do romance “De l’Influence du lancer de minibar sur l’engagement humanitaire” (2015), do escritor e jornalista Marc Salbert, que assina o roteiro, junto à própria Julie Navarro. Na história, Arthur Berthier (Biolay) é um crítico de música que, após destruir um quarto de hotel, é deslocado para fazer reportagens gerais – entre elas, a desocupação de um campo de migrantes.
Por conta de um acidente, ele conhece Mathilde (Cottin), que atua na Associação Solidariedade Exilados. Por influência dela, concorda em abrigar Daoud (Safi), um jovem afegão – mas, como diz o título, apenas alguns dias. No curso da trama, Berthier acaba se envolvendo com a questão, bem como se apegando a Daoud e, inevitavelmente, de Mathilde. Nesta edição do Varilux, Salbert foi um dos componentes da delegação de franceses que tradicionalmente são convidados a vir ao Brasil para apresentar os filmes. Em entrevista ao Culturadoria, ele falou sobre “Apenas Alguns Dias”.
Abordagem
Inicialmente, Salbert salientou que o objetivo do filme, assim como o livro sobre o qual se baseou, foi tratar o tema da migração de outra forma que não através de estatísticas ou programas políticos. “Julie Navarro também quis contar essa história de uma forma não didática, falando sobre um simples encontro que perturba os protagonistas. Assim, narra a história de uma aventura humana a qual um dia todos nós poderemos enfrentar. Ela quis mostrar as dificuldades que os refugiados, bem como aqueles que os ajudam, encontram, mas sem usar o pathos, adotando um tom leve, com uma dose de humor”.
Ele acrescenta que o personagem de Biolay se abre aos outros graças à presença de Daoud. “No início, ele é um pouco um estranho em sua própria vida, mas, aos poucos, Daoud permite que Arthur se reconecte com sua família e suas emoções. Talvez esta história possa encorajar alguns espectadores a dedicar um pouco do seu tempo (a causas afins). Mas também não se trata de fazer com que aqueles que não fazem nada se sintam culpados. Mostrar solidariedade na ação é também uma forma de dizer que, em última análise, todos podem participar um pouco. E, desse modo, talvez contrabalançar o discurso xenófobo que está a aumentar na Europa e nos Estados Unidos”.
Dalida
Não poderíamos encerrar a entrevista sem perguntar sobre a inclusão da música “Parole, Parole”. Sim, a clássica música que se tornou famosa com Dalida e Alain Delon, que embala uma das cenas. Salbert conta que Julie Navarro gosta muito de Dalida, bem como particularmente dessa música. “Assim, pareceu-lhe perfeito vê-la cantada em grupo durante a festa da associação. É um puro prazer de comunhão em torno de uma canção popular que todos conhecem”, resume.
Confira, abaixo, o trailer
Serviço
Mostra Varilux de Cinema
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