
Foto de Guy Veloso, fotógrafo que irá expor em "Um País Chamado Pará"
Contando com 23 fotógrafos que desenvolveram trabalhos no estado, “Um País Chamado Pará” expõe as particularidades culturais da região.
Por Caio Brandão | Repórter
A fotografia possibilita pausar o tempo, erguendo registros que, por si só, têm a capacidade de contemplar narrativas amplas, ainda que sejam uma fração de um momento. Nesse sentido, o ato de fotografar se torna ainda mais relevante pelo potencial de difundir culturas e contextos que, muitas vezes, são deixados de lado. Sendo assim, a exposição “Um País Chamado Pará” chega a Belo Horizonte propondo uma imersão no panorama cultural do norte do país.
A estadia do evento em BH ocorre entre os dias 16 de agosto a 30 de setembro de 2023, de terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h, na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, localizada na Av. Afonso Pena, 737, Centro. A exposição contará, então, com trabalhos dos fotógrafos Alberto Bitar, Alexandre Sequeira, Betania Barbosa Marajó, Claudia Leão, Dirceu Maués, Elza Lima, Emídio Contente, Flavya Mutran, Guy Veloso, Ionaldo Rodrigues, Irene Almeida, Jorane Castro, Mariano Klautau Filho, Miguel Chikaoka, Orlando Maneschy, Octávio Cardoso, Patrick Pardini, Paula Sampaio, Rafael da Luz, Suely Nascimento, Wagner Almeida, Walda Marques e Yan Belém.
“Vemos que o Norte e o Nordeste têm um potencial incrível na educação e na cultura. Então, a região possui uma riqueza cultural que, sem dúvida, implica diretamente a produção artística. Lá, a população preserva um laço com a cultura brasileira ancestral. São estados enormes, diversos, que contam com uma produção autêntica e muito ligada às origens, aos povos quilombolas e originários em geral”, comenta Rosely Nakagawa, curadora da exposição.
As possibilidades da arte
“Um País Chamado Pará” se configura como uma iniciativa que possui a fotografia no centro de tudo. Contudo, várias formas de arte, que englobam o ato de fotografar, também serão destaques da exposição, como foto-esculturas, pinholes, vídeos e videomapping. Assim, o evento expõe as possibilidades de expansão no que se refere ao potencial da fotografia quando unida às inovações tecnológicas.
“Nos últimos 20 anos, vimos uma transformação da fotografia analógica para a fotografia digital. Esse processo mudou a forma de fotografar, bem como mudou a forma de conceber o trabalho em si. Podemos notar, então, que, a partir dos anos 2000, o multimídia aparece na fotografia com frequência”, contou Rosely.
Os materiais expostos, porém, também estabelecem uma ponte com a face analógica do ato de fotografar. Dessa forma, alguns trabalhos demonstram práticas que se aproveitam de técnicas relativamente rudimentares para erguerem obras únicas. “Temos, por exemplo, o Alexandre Sequeira, que trabalha em comunidades ribeirinhas. Ele usa métodos analógicos e de fácil transporte, se valendo de materiais do dia a dia, como cortinas, para desenvolver suas obras. Esses métodos são uma outra forma de romper com a fotografia tradicional”, refletiu Rosely.
Encontro de gerações
A curadoria de “Um País Chamado Pará” engloba um amplo recorte de tempo, relativamente curto, trazendo trabalhos desenvolvidos a partir dos anos 1990 até os dias de hoje. Desse modo, a exposição também oferece uma reflexão acerca da evolução dos processos artísticos no norte do país.
“Temos muitos fotógrafos na exposição que já levaram os respectivos trabalhos até para fora do país, mas individualmente. Assim, depois de 20 anos, paramos para ver o que aconteceu com essas produções e como elas estão se juntando, e, ainda, como fomentam uma nova geração de fotógrafos. Conforme começamos a trabalhar na edição das imagens para a exposição, percebemos que existe um pensamento criativo muito vivo e presente nos trabalhos de fotógrafos contemporâneos”, contou Rosely.
Além disso, os trabalhos expostos também mostram diversos aspectos da sociedade brasileira. Nesse sentido, os processos criativos e artísticos dos artistas presentes em “Um País Chamado Pará” refletem os rumos sociopolíticos que a região esteve submetida nas últimas décadas.
“Os fotógrafos dos anos 1990 continuam ativos em um contato permanente com as novas gerações. Vemos um panorama de mudança nos processos criativos, mas que acompanham a evolução da perspectiva cultural da região. Temos, por exemplo, o trabalho do Wagner Almeida, que é muito crítico da nova situação de Belém que, há 20 anos, era uma cidade bucólica, mas que, ao longo do tempo, foi dominada por edifícios altíssimos”, comentou a curadora.
“Então, hoje, Belém, é uma cidade muito rica de investimentos industriais e do agronegócio, e isso não se reflete, necessariamente, na população. Temos, também, uma visão de uma Amazônia ocupada, com uma vida civil mais ‘sofisticada’, e isso acompanha a produção artística dos fotógrafos”.
Construindo o debate
Além da exposição em si, “Um País Chamado Pará” contará com palestras e oficinas, lideradas por autores e artistas conceituados, que reforçam as temáticas propostas pelo evento. “Essas conversas têm justamente o objetivo de aproximar os universos. Hoje, uma exposição não tem muito sentido se tiver um texto cultural indecifrável. Assim, as pessoas que vão comandar essas conversas são intelectualmente muito ricas, e não poderíamos perder a chance de abrir um espaço para elas”, destacou Rosely.
Para conferir a programação completa de palestras e oficinas do evento, basta clicar no link.