Filme-refresco com a bela Diane Lane à frente do elenco, “Sob o Sol da Toscana” é uma ótima indicação o feriado da Páscoa
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Plataformas de streaming têm dessas coisas. Há filmes excelentes que saem do catálogo para nunca mais (aliás, por que motivos teria a Netflix tirado o excelente “My Happy Family”, um filme da Geórgia?) e outros que aterrissam, mesmo que não sejam propriamente produções recentes. No caso da própria Netflix, uma das “novidades” tem nada menos que 20 anos – na verdade, um pouquinho mais. “Sob o Sol da Toscana” (2003), de Audrey Wells, é um filme que poderíamos colocar na categoria “Sessão da Tarde”, mas no melhor dos sentidos. Um filme-refresco, para assistir com um sorriso nos lábios.
A narrativa centra-se de Frances Meyer (a belíssima Diane Lane), uma crítica literária que, em um lançamento de livro, é abordada por um escritor, ressentido pela crítica ruim que ela escreveu da obra dele. Aliás, o ressentimento é tal que ele acaba lançado uma maldadezinha no ar: o marido de Frances estaria traindo-a com uma mulher mais jovem. A personagem de Diane Lane em “Sob o Sol da Toscana” não só constata ser verdade, como ele pede a separação e, pior, ainda quer ficar com a casa na qual os dois viveram juntos.
Rumo à Itália
Frances sucumbe e resolve inclusive deixar os móveis e objetos por lá, levando apenas consigo um vaso azul e os livros. Ao alugar um apartamento, ela percebe que, sem querer, caiu numa cilada: o condomínio mostrado em “Sob o Sol da Toscana” é meio que um refúgio para pessoas que acabaram de encerrar longos relacionamentos, e o clima não é propriamente permeado pelo alto astral.
É quando Frances recebe, da amiga Patti (Sandra Oh, da série “Killing Eve”), a proposta de viajar para a Toscana no lugar dela. Ocorre que Patti descobriu estar grávida, portanto, não seria nada indicado que ela, neste momento inicial da gestação, cruzasse o oceano. Como a moça tinha duas passagens, decide converter ambas para um bilhete de primeira classe. E, assim, Frances embarca para a Itália, conhecendo a Toscana em uma excursão voltada para o público LGBTQI+, ao qual Patti faz parte.
Bramasole
Acontece que, lá, num ímpeto, Frances enxerga alguns sinais e, desse modo, acaba adquirindo um velho palazzo, Bramasole. Problema: o lugar está caindo aos pedaços. Literalmente. Sendo assim, ela precisa contratar uma equipe (formada por poloneses) para os reparos mais urgentes. Assim, os primeiros dias na Toscana definitivamente não são nada fáceis. Para começar, uma tempestade com muitos raios faz com que a máquina de lavar roupas simplesmente se levante do solo ao ser atingida, sob o olhar incrédulo da norte-americana. Há, ainda, pombos no local, cobras no jardim e até uma simpática coruja. Pouco a pouco, porém, Frances vai se habituando ao local e fazendo alguns amigos nas imediações.
E por que vale a pena assistir “Sob o Sol da Toscana”? Inicialmente, pelas próprias locações. A região da Toscana, que abriga cidades de tirar o fôlego, como Florença, San Gimignano ou Montepulciano, transpira poesia, seja pelos ciprestes, campos de girassóis, vinícolas ou pelas construções (como as fontes) e pela arte. Mas o filme não se limita apenas a essa idílica região. Frances também visita a belíssima e poética Positano, na região da Campania, e a capital italiana, Roma.
Fellini
Outro motivo para apertar o play é a presença sempre carismática, elegante e discreta de Diane Lane, atriz que iniciou cedo a carreira no cinema, em “Um Pequeno Romance”. Não bastasse, o filme faz uma alusão a várias cenas de filmes de Fellini, como “La Dolce Vita” e “Amarcord” – vale demais assistir com os sentidos aguçados para reconhecê-las. Mas podemos “spoilar” que há um gatinho, um banho em uma fonte à la Anita Ekberg e uma referência clara à balconista interpretada por Maria Antonietta Beluzzi em “Amarcord”.
Além de todos esses motivos, “Sob o Sol da Toscana” ainda conta com a presença mega especial do saudoso diretor Mario Monicelli (1915 -2010), como um senhorzinho que habita a vizinhança da casa de Frances, mas que se recusa a cumprimentá-la. Isso, apesar dos acenos constantes da moça, que o vê regularmente da janela de sua casa. Nas cenas finais, por sinal, o personagem protagoniza um momento emocionante.
Ponto de virada
No frigir dos ovos, “Sob o Sol da Toscana” fala sobre recomeços. Sobre como desilusões podem se transmutar em um ponto de virada para deixar para trás uma vida de mentiras e levar a experiências que, ao fim, se revelam envolventes e aprazíveis. Também fala como os nossos sonhos podem se tornar realidade sim, mas de uma outra forma que não a idealizada inicialmente. Basta estarmos atentos para perceber.
Não só. “Sob o Sol da Toscana” também fala de persistência. De não sucumbir às dificuldades para, então, alcançar o objetivo. E de que ninguém deve depositar a felicidade nas mãos do outro, em particular, do que considera ser a cara-metade. Ah, sim. Fica a lição de que nem sempre a família se forma por laços consanguíneos. E também podemos apreender que os pequenos prazeres da vida não devem ser jamais menosprezados. Mesmo porque, são eles que dão o combustível necessário para seguir avanti.