A Toda Deseo mostra a mais recente montagem da companhia em três dias, no Espaço Cultural Gruta, no Horto
Patrícia Cassese | Editora Assistente
No bojo das celebrações de uma década em cena, a companhia mineira de teatro Toda Deseo volta a levar aos palcos a mais recente montagem da trupe, “Trilogia de Traumas”. Dirigida por Rafael Bacelar, a peça é estruturada em três solos: “Conselheira”, “Cachorra” (novo texto) e “SPUR”. Os atos são interpretados pelos atores Ju Abreu, Idylla Silmarovi e David Maurity. A montagem fica em cartaz nos dias 31 de agosto, 1º e 2 de setembro, às 20h, no Espaço Cultural Gruta.
Ator e dramaturgo de “Trilogia de Traumas”, David Maurity lembra, ao Culturadoria, que a Toda Deseo sempre anseia por olhar para um espetáculo e ver, refletido nele, o produto de um tempo, de um momento. “E ‘Trilogia’ é muito diferente de todos os outros trabalhos que a gente já criou. Primeiramente, porque não começou na sala de ensaio. Teve início com cada um na sua casa, tentando criar cenas para outros suportes, para as outras linguagens. A gente estava em meio à pandemia, então, todos os textos foram construídos um pouco antes ou dentro daquele momento que a gente estava vivendo”, explica ele.
Do campo individual ao universal
Assim, “Trilogia de Traumas” é um espetáculo fruto de um momento muito difícil para as artes. “E para nós, enquanto pessoas vivendo sob um governo irresponsável, sem grandes perspectivas. Naquele momento, então, a montagem vai refletir uma parte disso, dessa coletividade. Logo, o que a gente recebe de feedback está sempre ligado a isso. Assim: ‘Nossa, como é que a gente passou por isso tudo?’ ‘Como que foi ser mãe durante a pandemia?’ ‘Como era ser mulher pesquisadora durante a pandemia?’ ‘Como foi viver essa experiência do isolamento social?’ Portanto, a gente vê que esse espetáculo cria uma identificação com as pessoas com muita facilidade”.
Desse modo, prossegue David Maurity, apesar de a Toda Deseo construir uma dramaturgia que, num primeiro momento, foi baseada em experiências pessoais, individuais, de cada artista que está em cena, essas questões conseguem facilmente ser universalizadas. “Assim, a gente consegue conversar com as pessoas. Por meio da arte, por meio do teatro, dialogar sobre essas questões, refletir junto com elas. Logo, é um espetáculo que, no primeiro momento, pode parecer individualista, mas tem muito mais de coletivo do que a gente pode imaginar”.
Balanço
Perguntado sobre os dez anos da Toda Deseo, Maurity pontua que 2023 vem sendo um ano de muita reflexão para as pessoas que compõem a companhia. “A gente tem pensado muito sobre o nosso lugar na cidade de Belo Horizonte, nosso lugar enquanto uma companhia de teatro em âmbito nacional. Estamos revendo um pouco o que é a nossa participação nesse meio, a importância. Tentando fazer esse exercício de reconhecimento do trabalho. Acho que é importante, é quase como uma revisão mesmo, de tudo que a gente fez nesses dez anos”.
Primeiramente, ele lembra que os integrantes têm consciência do amadurecimento da pesquisa empreendida pela Toda Deseo. “A gente vai passando espetáculo a espetáculo e vendo como conseguiu evoluir e repensar essas questões de gênero, de sexualidade, das alteridades, das diferenças, enfim, dentro dos nossos trabalhos. Assim como o quanto a gente avançou nesse lugar. A gente vê que modificou. Todas essas questões de gênero ganharam uma amplitude muito grande no cenário nacional. E a gente entende que, artisticamente, que é de onde a gente fala, por meio do teatro e da arte, também conseguimos avançar nesse lugar. Nesse lugar de pesquisa, de criação artística, de dramaturgia, de encenação”.
Futuro
Portanto, David Maurity entende que, quando o núcleo que forma a Toda Deseo se vê a refletir sobre esses dez anos, pensa nessa reflexão, na evolução do pensamento crítico, artístico, de criação. E, claro, com um olhar para o futuro. “A gente espera produzir ainda muito mais nos próximos anos. Já temos projetos aprovados. Ano que vem, a Toda Deseo deve estrear um espetáculo novo, com a direção do Ricardo Alves Junior. Esse ano, a gente está na direção da turma da noite do Cefart, o curso técnico do Palácio das Artes. Ou seja, há muitos projetos engatilhados e prontos para serem lançados”.
A Toda Deseo
A companhia nasceu em 2013 e tem, na sua formação, o ator e diretor Rafael Bacelar, a atriz e diretora Ju Abreu, o ato, diretor e dramaturgo David Maurity, o ator e iluminador Akner Gustavson, e o ator, diretor e preparador corporal Thales Brener Ventura e Carol Fescina, gestora de projetos.
Entre as principais realizações da Toda Deseo, estão as peças: “No soy un maricón” (2013), “Corpos que não importam” (2014), “Chá das Primas” (2015), Campeonato Interdrag de Gaymada (2015), “Nossa Senhora” (2016), “Ser – Experimento para tempos sombrios” (2016), “Glória” (2018), “Quem é você?” (2019), “Conselheira” (curta-metragem, 2021) e o já citado “Trilogia de Traumas” (2022).
Intercâmbio
A companhia Toda Deseo realiza intercâmbio com variados artistas, como Alexandre de Sena (Espanca!), Márcio Abreu (Companhia Brasileira de Teatro), Daniel Toledo (TAZ), Raquel Castro, Mariana Lima Muniz e Idylla Silmarovi. Já participou de festivais como a Mostra Oficial de Teatro de Curitiba, do FIT-BH, Bienal Internacional Sesc de Dança, Virada Cultural de BH, Festival de Inverno de São João del-Rei, Festival de Verão da UFMG, Circuito Sesc Verão (SP capital e cidades do interior), Campanha de Popularização do Teatro e da Dança (BH), entre outros.
Serviço
Apresentação do espetáculo “Trilogia de Traumas”
Dez anos da companhia de Teatro Toda Deseo
Dias 31 de agosto, 1º e 2 de setembro, às 20h
Espaço cultural Gruta (Rua Pitangui, 3613, Horto)
Valor dos ingressos: R$ 20
Vendas: no site www.sympla.com.br e na portaria do espaço
Duração: 1h10
Classificação: 14 anos