Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Mostra de Tiradentes e Festival de Rotterdam aumentam sintonia em 2019

Eventos realizados na mesma época mostram olhar atento para a nova produção de cinema do Brasil

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A Mostra de Cinema de Tiradentes não exibe filmes de outros países. Mas isso não significa que o diálogo internacional esteja distante do evento. Pelo contrário. O papel que o festival realizado em Minas tem desempenhado nos últimos anos é o de fazer a ponte para que os filmes brasileiros ganhem espaço – e destaque – em sessões pelo mundo.

Em 2019, por exemplo, sete filmes exibidos na Mostra também estão na programação do Festival Internacional de Rotterdam, a partir desta quarta, 23 de janeiro. Entre os longas e curtas estão “Temporada”, de André Novais Oliveira e “NoirBlue – Deslocamentos de uma Dança“, Ana Pi. “No coração do mundo”, dos mineiros Gabriel Martins e Maurílio Martins, integrantes da Filmes de Plástico, participa na seção competitiva na Holanda. Se não fosse isso, provavelmente também estaria em Tiradentes.

 

Noirblue, filme de Ana Pi indicado pelo projeto Pretança. Foto: Reprodução Ana Pi
Noirblue, filme de Ana Pi indicado pelo projeto Pretança. Foto: Reprodução Ana Pi

 

Trocas

O crescimento no número de produções que passam pelas telas de Tiradentes e de Rotterdam, por exemplo, é o resultado de um longo período de intercâmbios. Se a Mostra brasileira não exibe filmes de fora, convida curadores de outros lugares para conferir o que nasce aqui.

“Tiradentes é o festival mais importante para se entender a atualidade do cinema brasileiro”, assegura o crítico e curador argentino Roger Koza. Há quatro anos ele escolhe vir ao festival mineiro para buscar novidades. Consequência disso é que todos os vencedores das últimas edições foram programados por ele no Festival de Hamburgo. Sendo assim, já estiveram por lá, por exemplo, “A Vizinhança do Tigre”, de Affonso Uchoa, “Baronesa”, de Juliana Antunes, “Branco Sai, Preto Fica”, de Adirley Queirós.

Para Roger Koza, a explicação para a coincidência na programação dos Festivais de Tiradentes e Rotterdam tem nome e sobrenome: Gerwing Tamsa. Ele é o curador de lá e tem uma relação muito próxima e de escuta com o brasileiro Gustavo Beck. “Para Gerwing, Tiradentes não é um nome distante. Ele sabe perfeitamente o que é”, conta Koza.

Roger Koza (à esquerda) acompanhado do Júri da Crítica em Tiradentes. Foto: Leo Lara/Universo Produção

Demanda correspondida

Leon Reis, diretor do curta Cartuchos de Super Nintendo em anéis de saturno, vai estrear em Rotterdam. O filme foi exibido em Tiradentes. Ele que é do Ceará, fez financiamento coletivo tanto para vir a Minas como para chegar até a Holanda. Cartuchos é o primeiro trabalho da carreira dele e foi descoberto por meio do processo de curadoria de Janaína Oliveira.

Mesmo sem ainda ter experimentado o Festival de Rotterdam, para Leon, é nítido identificar afinamentos na lógica de curar. “Os movimentos de ativistas negros contribuem para chamar atenção dos curadores. Festivais estão correspondendo a uma demanda de algo que sempre negaram a existência”, afirma.

O filme dele nasceu de uma vontade de falar sobre processos educacionais. “De como as nossas relações fraternais tem herança das relações hierárquicas coloniais. O processo de perceber a existência desses corpos e coloca-los em processos curatoriais é uma resposta”, acredita.

Em 2019, o Festival de Rotterdam faz um tributo ao legado do diretor brasileiro Zózimo Bulbul. Serão exibidos 28 filmes, 4 longas e 24 curtas produzidos por ele.

Independentes

Segundo Roger, os dois eventos são considerados terrenos férteis para cineastas independentes. Na opinião do crítico, Adirley Queirós, vencedor da Mostra Aurora em 2012 com “A cidade é uma só”, é um dos grandes cineastas brasileiros. “Ele tem o mesmo gesto de rebeldia e desobediência que Glauber Rocha tinha”, compara.

De acordo com a análise de Koza, os filmes que nascem em Tiradentes transmitem raiva, confusão e sempre geram um grande mal-estar sobre a ordem social. “Todos buscam uma estética observar, recriar e filmar a realidade desse presente”, diz.

A diretora Julia Katherine exibiu o filme em Tiradentes. Foto: Jackson Romanelli/Universo Produção

Berlim

Mesmo que não tenha uma figura como Gerwing Tamsa, o Festival de Berlim (07 a 17 de fevereiro) também tem intensificado o olhar pra o cinema da América Latina. A figura chave de lá se chama James Lattimer, um fã declarado dos filmes de Gustavo Vinagre. “O curador tem uma sensibilidade capaz de compreender a produção de um país como o Brasil de um ponto de vista descentralizado”, analisa Koza.

Entre os brasileiros selecionados para Berlim está o próprio Gustavo Vinagre, com dois filmes. “A Rosa Azul de Novalis”, dirigido em parceria com Rodrigo Carneiro, disputa a Mostra Aurora em Tiradentes e depois segue para a Mostra Fórum no evento na Alemanha.

O mesmo diretor exibirá por lá “Lembro mais dos corvos”, protagonizado pela atriz Julia Katharine. O curta dirigido por ela, “Tea for Two”, também exibido em Tiradentes, estará na Berlinale. “Querência”, de Helvécio Marins Jr., é outro brasileiro selecionado para a Mostra Forum, dedicada a filmes experimentais.

Confira a entrevista com Ana Pi, diretora do curta Noir Blue, que também será exibido no Festival de Rotterdam

 

 

A equipe do Culturadoria viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

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