O músico e poeta mineiro Tiago Araújo acaba de disponibilizar, nas plataformas de streaming, o repertório autoral do álbum instrumental “Afeto”
Patrícia Cassese | Editora Assistente
“O afeto é muito mais do que a gente imagina”, diz o músico, compositor, multi-instrumentista e poeta Tiago Araújo. Não por outro motivo, foi esse o sentimento a batizar o disco instrumental cujas sete faixas acabam de entrar nas plataformas musicais. “O afeto me acompanha a vida toda. Mas não como uma coisa que necessariamente venha trazer uma alegria, por exemplo. Ou seja, pode até incluir a perda de pessoas amadas, caso da minha avó, Arsil Mourão, e do meu saudoso amigo, o músico Giacomo Lombardi (nome icônico também na cena da moda mineira/brasileira, falecido em março deste ano). A gente tocou junto no Quatro em Ponto, quarteto que tenho de música instrumental”.
Em sua fala, Tiago cita duas das pessoas às quais o disco “Afeto” é dedicado. As demais são a sua companheira de vida, My Letícia, o filho, Ravi, que está para chegar, bem como a mãe, Cleides Mourão. Assim, o afeto, prossegue, é um sentimento ligado ao acolhimento, à escuta e ao cuidado que essas e outras pessoas tiveram/têm com ele. “E que procuro ter com elas também. Assim como com todo mundo de modo geral, sem restrição. Sem qualquer exceção. É o sentimento que carrego comigo, assim como a leveza. Buscar leveza nos relacionamentos, nos encontros, nas amizades, nos planejamentos da vida”.
Amplo espectro
Justamente por isso ele fala do afeto para além do sentimento romântico, mas, sim, como algo muito mais abrangente, que se espraia também em acontecimentos e devires. “E bem como fala a primeira faixa do meu álbum, que, aliás, chama-se ‘Afeto’, um poema declamado”. Aliás, Tiago ressalta que se considera poeta desde os 15 anos. “Comecei a escrever muito cedo, adoro poesia – tenho referências bem variadas”. Não bastasse, Tiago brinda o fato de ter se casado com aquela que ele considera uma poesia, Myriam Letícia. “Minha companheira, minha parceira de todos os dias e mãe do meu filho Ravi. Sou muito feliz por ter conhecido a My e em poder conviver, viver e dividir a vida com ela. Na verdade, todos os dias agradeço essa sorte”, declara.
Com Chico Amaral (para Ravi)
Além da faixa-poema que abre o disco “Afeto”, Tiago destaca “Acalanto Solar”, que traz a participação de Chico Amaral no sax. “Anos atrás, quando a compus, convidei o Chico Amaral para participar. Ele topou, só que aconteceram alguns contratempos na minha vida e não pude produzir essa música. Passados alguns anos, retomei, para finalizar e tudo mais Então, entrei em contato com ele, que, novamente, topou. E dessa vez aconteceu mesmo”. Tiago ressalta que dedica a faixa ao filho que vai nascer agora, em setembro, Ravi. “O processo de composição dela foi bem peculiar mesmo, bem sentimental, bem da emoção. Com muitas cores, com muita alegria, com muita vontade de viver. Tá tudo lá, incluído nessa composição. E, ao mesmo tempo, há uma serenidade que imprime uma calmaria à melodia”.
Outra composição do disco que ele destaca é “Araponga”, composta para o pássaro considerado “a voz da Mata Atlântica”. “Ela também traz essa respirada, essa calma, esse (essa proposta de) ‘hiato’. Como um momento de meditação e de reflexão sobre a existência”.
Homenagem a Eric Clapton
Já “Claptons” é, como o nome indica, uma homenagem a Eric Clapton. “A música conta com o grande Jorge Continentino no sax e o Arthur Rezende na bateria. É uma faixa da qual gosto muito, pela qual tenho apreço, está ligada à minha memória afetiva. Aliás, todas as faixas, todas as composições desse álbum falam muito da memória afetiva. Ou seja, tem essa coisa do afeto mesmo, da lembrança… e da vontade de viver, bem como também de resiliência”, pondera Tiago.
Em tempo: A produção musical de “Afeto” é do próprio Tiago Araújo, enquanto masterização e mixagem, de Enéias Xavier
Outros projetos
Além do lançamento de “Afeto”, Tiago conta que tem outros projetos em andamento. Entre eles, um que foi aprovado na Lei de Incentivo à Cultura, com canções dele em parceria com Paulinho Pedra Azul (ainda em fase de captação). E, também, “Coletânea”, projeto de canções próprias. “Também há singles a serem lançados, bem como o meu projeto Tiago Araújo Jazz Trio. E, claro, o Bloco da Esquina, que toca músicas do Clube da Esquina em ritmo de Carnaval desde 2017”. Ele acrescenta, ainda, o Quatro em Ponto, quarteto que integra há praticamente uma década. “Fora os processos de trabalho como músico sideman. Sempre me chamam para participações, o que me deixa muito feliz”.
No que tange à escrita, Tiago teve um livro de poesias aprovado pela Caravana Editorial, e que deve ser lançado em breve. O título será “Cantador de Poemas Invisíveis e Outras Coisas”. Vale lembrar que o belo-horizontino já teve um conto selecionado para a coletânea 2024 do Prêmio Off-FLIP.
Sobre o artista
Tiago Araújo formou-se em Música Popular pela Universidade Bituca e graduou-se pela UFMG. Recentemente, completou uma pós-graduação em Filosofia. Tem quase 200 músicas registradas na União Brasileira dos Compositores, dentre instrumentais e letradas, com destaque para 30 parcerias com Paulinho Pedra Azul – caso de “O Sol Nasceu”, disponível nas plataformas (e cuja gravação contou com a participação da cantora Bárbara Barcellos). Já tocou, gravou e fez shows com nomes relevantes da cena musical, como Esdras “Neném” Ferreira, Fernando Oly, Toninho Horta, Chiquito Braga, Beto Lopes, Vander Lee, Orquestra Ouro Preto, Lô Borges, entre outros.
O mineiro já lançou alguns singles nas plataformas digitais – caso da “Lírios”, na qual Tiago contou com a participação da esposa My Letícia no vocal, bem como do baixista Thiago Espírito Santo. No streaming também está o EP “Minas Blues” e o álbum instrumental “Vertentes”, bem como músicas gravadas em álbuns de outros artistas.