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Agenda Cultural

Teatro da Fumaça estreia seu primeiro espetáculo em BH

"O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também de Estar" sobe ao palco do Sesc Palladium (Gabriel Werneck/Divulgação)

O coletivo Teatro da Fumaça estreia “O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também Tem de Estar”, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium


Patrícia Cassese | Editora Assistente

“Um grupo ensaia: uma atriz insiste em permanecer em um teatro prestes a ser demolido. Já um espectador confunde um musical com um sequestro. Não bastasse, uma companhia de Teatro de Revista tem sua temporada interrompida por um golpe de Estado”. O espetáculo teatral “O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também Tem de Estar”, que estreia neste final de semana na capital mineira, no Sesc Palladium, usa a teatralidade para abordar uma realidade que, muitas vezes, se confunde com a ficção.

Em cena, o Teatro da Fumaça, coletivo teatral formado há pouco mais de um ano em Belo Horizonte, a partir do encontro de cinco artistas de diferentes cidades do Brasil. São eles: Domenica Morvillo, de Araraquara; Ítallo Vieira, de Patrocínio (Triângulo Mineiro); Jean Gorziza, de Porto Alegre, e Júlia Oliveira e João Santos, ambos de BH. O Culturadoria conversou com o grupo e traz, aqui, alguns trechos do bate-papo. Confira!

Que discussões exatamente estão no bojo do espetáculo?

Júlia Oliveira. Eu acho que o espetáculo fala principalmente do fazer teatral, das dificuldades que a gente encontra no caminho. Dificuldades para marcar ensaio, dificuldades de precariedade, o salário que quase não recebemos, enfim. E, além disso, da situação política que a gente, enquanto artistas, enfrenta. Na verdade, que o mundo também enfrenta. Então, penso que, para além de ser um espetáculo para pessoas que de alguma forma estão dentro do teatro, é uma montagem para se pensar o mundo, a situação política, os conflitos, as guerras, enfim. E principalmente sobre o continuar, mesmo em meio a esse caos todo. De a gente fazer o que nos move. Portanto, fala muito disso: apesar de o mundo estar em chamas, a gente continuar fazendo o que gosta.

Queria que falassem do processo todo, desde o embrião, lá atrás, até o formato final, que estreia agora. Ou seja, como as ideias foram se agrupando e sendo lapidadas para formar o que o público assiste agora?

Jean Gorziza. Bom, esse espetáculo partiu de um processo que se iniciou no final do ano passado, quando, dentro do núcleo de dramaturgia do Galpão Cine Horto, escrevi um texto em um núcleo coordenado pelo Vinícius de Souza. Quando a gente foi apresentar, nos reunimos para a primeira leitura pública. Ou seja, nós cinco. Eu e Júlia, na direção, e o João, a Domenica e o Ítalo em cena. Desde então, aconteceram alguns outros marcos nesse que foi o início do grupo. E, assim, a gente acabou iniciando outros projetos, mas sempre mantendo o desejo de estrear algo ainda neste ano.

Desse modo, “O Mundo Está em Chamas…” partiu desse desejo de o Teatro da Fumaça estrear uma primeira peça. A partir daí, a gente começou a fazer algumas outras ações.

Pode citar algumas?

Gorziza. Por exemplo, a gente apresentou uma cena durante o meio do ano, em um festival de cenas da UFMG. Posteriormente, a gente apresentou uma leitura dramática no Memorial Minas Vale, e, ainda, uma cena na Praça de Serviços da UFMG. Agora, a estreia. Ou seja, foi um processo no meio do qual a gente acabou fazendo pequenas ações, ainda dentro do escopo daquele texto inicial, daquelas motivações, do que a gente gostaria de falar. Com o tempo, isso foi se desenvolvendo para o espetáculo que a gente estreia agora no Teatro de Bolso do Sesc Palladium.

Neste processo, algumas outras modificações foram feitas, como, por exemplo, o fato de o João ter entrado junto na dramaturgia, bem como algumas modificações do que a gente imaginou na estrutura do espetáculo. No todo, portanto, foi um processo que consumiu um ano. A primeira leitura foi feita exatamente no dia14 de dezembro do ano passado.

O grupo

O Teatro da Fumaça é um grupo cênico criado a partir da reunião de cinco artistas residentes em Belo Horizonte: Domenica Morvillo, Ítallo Vieira, Jean Gorziza, João Santos e Júlia Oliveira. Com diferentes experiências criativas, eles se propuseram a investigar o trânsito do teatro com outras linguagens. Em 2023, o coletivo estreou o que eles mesmos nominam com um experimento audiovisual: “Os Benefícios do Tabaco”. Uma peça-conferência que aborda o tema da desinformação a partir da indústria do tabaco. Tal qual, o texto “Sobre os Males do Tabaco”, do dramaturgo russo Anton Chekhov.

Já em dezembro de 2023, o Teatro da Fumaça realizou uma leitura dramática do texto “O Mundo Está Em Chamas, o Teatro Também Tem De Estar”, que agora estreia como o primeiro espetáculo do coletivo.

Planos futuros

Para 2025, o Teatro da Fumaça tem outros dois trabalhos já estão engatilhados. Um deles é “Mineral Ibsen”, contemplado com o Ibsen Scope Grant 2024 (Noruega). É que, no primeiro semestre do ano, o jovem coletivo foi o único representante sul-americano a participar do festival. E o prêmio financiará o projeto, que tem a instigante proposta de misturar um texto clássico de Ibsen às práticas de Augusto Boal para discutir a mineração em Minas Gerais.

Vale dizer que a iniciativa recebeu elogio de Cecília Boal, viúva do teatrólogo brasileiro e sua parceira no desenvolvimento do Teatro do Oprimido. A outra montagem no horizonte é “Canção de Engate”, aprovada pela Lei Paulo Gustavo.

Ficha técnica

Direção: Jean Gorziza e Júlia Oliveira
Dramaturgia: Jean Gorziza e João Santos
Elenco: Domenica Morvillo, Ítallo Vieira e João Santos
Direção Corporal: Rafael Batista
Figurinos: Domenica Morvillo e Ítallo Vieira
Cenografia: O Grupo
Iluminação e Operação de Luz: Marina Arthuzzi
Trilha Sonora Original: Pedro Dargen
Operação de Som: Jean Gorziza
Identidade Visual: Anti 01
Fotos: Gabriel Werneck
Vídeos: Amanhã Filmes
Colaboração: Airon Gischewski

Serviço

O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também Tem de Estar”

Quando. Dias 13, 14 e 15 de dezembro. Sexta-feira e sábado, às 20h, domingo às 19h
Onde. Teatro de Bolso Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro). Entrada também pela Avenida Augusto de Lima, 420.
Quanto. R$30 (inteira) e R$15 (meia) disponíveis no Sympla

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