Nos próximos dias, quem passar pelas ruas do Santa Tereza e Horto vai presenciar uma movimentação diferente. Gente pintando, desenhando, grafitando por toda a parte. Para ser mais exato, em 12 locais. Trata-se da segunda edição do Território de Arte Urbana. O TAU é uma mostra de intervenções de artes visuais feitas em vários suportes e técnicas. Elas são realizadas pelas ruas do Horto e Santa Tereza, mais precisamente em fachadas e vitrines de bares e comércios e, nesta edição, no muro do metrô.
O edital é aberto para artistas do Brasil inteiro. Nesta edição, quase 360 projetos foram inscritos, o que foi um desafio para a curadoria de Karina Felipe e Binho Barreto. Ambos os curadores participaram como artistas da primeira edição e foram convidados para realizar a curadoria de 2019. “É interessante estar do outro lado da história, ver os bastidores e conhecer as propostas dos artistas. O trabalho de curadoria foi bem difícil”, explica Karina Felipe. Ela e Binho Barreto buscaram dois caminhos para a seleção.
Curadoria
O primeiro foi selecionar artistas com obras mais comuns da arte urbana, como por exemplo o grafite, o muralismo e o stencil. Sendo assim, as propostas foram escolhidas para compor os muros. Já o segundo caminho, passou por outro tipo de linguagem, como a tridimensionalidade e experimentações artísticas. A segunda leva vai ser exposta em fachadas e vitrines. “Uma coisa que terá, por exemplo, é a fotografia performática. O artista vai trabalhar com os transeuntes, trabalhar fotografias e depois deixar um trabalho de lambe-lambe na fachada”, comenta a curadora.
Entretanto, todas essas artes não serão produzidas apenas para colorir a cidade. “Eu vejo o espaço urbano hoje muito atrelado ao trabalho e à rotina e as pessoas param pouco para olhar o espaço. Este projeto permite que as pessoas enxergue o bairro diferente”, comenta Karina. De acordo com a curadora, a interatividade é característica importante no projeto.
O projeto
O Território de Arte Urbana nasceu como um projeto piloto. Gisele Milagres, a idealizadora, teve a ideia quando realizou os estudos de mestrado em Madri, na Espanha. A partir de um estágio na Galeria de Arte Urbana Contemporânea, percebeu que algo parecido poderia acontecer em terras belorizontinas. “Eu senti que o clima naquele lugar era parecido com o de BH. Então, guardei a ideia no coração e executei quando voltei”, explica. “Eu também moro aqui desde sempre, conheço o trânsito, a circulação, o comércio”, esclarece Gisele.
O valor dos aluguéis e o alto custo de vida foram os principais alvos de crítica da primeira edição do TAU. Agora, a intenção, é fazer as pessoas olharem para os dois bairros de forma diferentes.
Dessa maneira, neste ano, a organização optou pelo Bairro Horto para dar continuidade ao trabalho que foi realizado no Santa Tereza. Ambos fazem parte da Região Leste e não são considerados “bairro de passagem”. Quando a população vai até lá é para eventos, bares etc, “então é mais uma forma de apreciação do nosso espaço”, como diz Gisele. Além disso, existe também uma história pessoal de Milagres com a região. Ela foi coordenadora de projetos no Galpão Cine Horto.
De acordo com a idealizadora, a ideia é fazer com que o TAU circule como um produto. “Espero que dê cada vez mais certo e a gente possa levar para outros bairros, para o centro…”.
Recepção
Tem gente que faz cara feia, torce o nariz e não aceita muito bem as intervenções artísticas na cidade. Diálogo é uma das formas de estabelecer uma relação entre pessoas, artistas e cidade. O TAU é realizado a céu aberto, e isso permite que as pessoas vejam de perto o que está sendo feito. “Quem passa pelos lugares pode conversar diretamente com os artistas”, comenta Gisele. Sendo assim, as intervenções são feitas em horários diversos justamente para permitir a interação.
Assim como para a curadora Karina Felipe, Gisele Milagres acredita na democratização da arte. “Por isso as intervenções estão nos muros, na fachada da padaria e da oficina mecânica. Queremos trazer as artes visuais para além das galerias, queremos que ela faça parte do dia a dia de todos”, conclui.
O que pensa o artista?
De Salvador para Belo Horizonte, a artista Ártemis Garrido, de 29 anos, largou o jornalismo e resolveu fazer artes plásticas na Escola Guignard. Atualmente trabalha com redução de danos no SUS e utiliza a arte para auxiliar na sua percepção da cidade e das pessoas.
No Território de Arte Urbana, Ártemis vai fazer um retrato de Maria. Ela é um personagem que a artista conheceu no Bar do Santa quando ainda estava em construção. Ártemis, então, ajudou a mulher a emitir documentos pessoais e em outras coisas. Assim nasceu uma amizade. “Eu quero homenagear a Maria”, explica Garrido. O muro do metrô no qual fará a sua intervenção já serviu como composição da morada de Maria. “O muro da R. Conselheiro Rocha deu privacidade para ela. Deu base para construir a sua maloca para que ficasse resguardada na rua”, conta ao falar sobre como a violência com a mulher na rua é mais grave.
Ártemis, que nem ia se inscrever para o 2º TAU – Território de Arte Urbana, vai dar um presente para sua amiga Maria e para a cidade.
Serviço
[O QUE] TAU – Território Arte Urbana [QUANDO] 12 a 21 de Julho (execução das obras), 21 de Julho a 1 de Setembro (mostra aberta ao público) [ONDE] Bairros Santa Tereza e Horto / Rua Mármore, Rua Quimberlita, Rua São Gotardo, Rua Paraisópolis, Rua Salinas, Rua Pirite, Rua Silvianópolis, Rua Conselheiro Rocha, 2845 e R. Pouso Alegre, 2952 – Horto [QUANTO] Gratuito