Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Transformação digital na cultura: como os eventos se adaptam para sobreviver?

Orquestra Filarmônica, CineOP, CineBH, Festival Sarará, Teatro em Movimento e outros projetos vivenciam a experimentação de novos formatos

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Primeiro vieram os cancelamentos. Uma pausa seguida de uma certa apatia. A ideia “isso vai passar” pairava no ar. Os meses foram passando e aí sim produtores culturais se deram conta de que a transformação digital já não era algo que precisava ser planejada. É hora de ser executada. E com urgência. Aí o debate foi aberto. Muitas experimentações em lives, criação de drive-in, vídeos e uma série de iniciativas alternativas. É um permanente “modo beta” para  continuar fazendo arte e se aproximar do público. O momento é de aprendizado para todo mundo.

“Tivemos que acelerar muito o processo de desenvolvimento tecnológico e de ações de comunicação, de maneira que não nos afastássemos do público”, comenta Agenor Carvalho, diretor de comunicação do Instituto Cultural Filarmônica. “É uma reinvenção”, resume Bell Magalhães, uma das idealizadoras do Festival Sarará. “Este novo desafio está nos movendo e também criando oportunidade de crescimento”, ressalta Raquel Hallak, diretora da Universo Produção, responsável pelas Mostras de Cinema como CineOP, CineBH e Tiradentes. Em resumo: gestores e suas equipes estão imersos em testes, experimentações para entender como esse “novo normal” vai funcionar no entretenimento.

Perguntas

Quais são as novas demandas de tecnologia? As equipes precisam de novas habilidades ? Existe algum limite para a adaptação artística? Surgem novas demandas de profissionais? As respostas para estes questionamentos ainda estão em construção. Sendo assim, é preciso ter, primeiro, as experiências. Elas já estão aí para o público testar.

cine Theatro Brasil realiza lives quinzenais pelo Youtube - Foto: Fred Bottrel / Divulgação

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, por exemplo, lançou um podcast logo no início da quarentena. Em agosto, anunciou a segunda fase dessa “virada” para o digital. “Um dos principais projetos é a veiculação de concertos de câmara na íntegra em nosso canal do YouTube, os quais estamos gravando agora, durante o mês de agosto, e que será voltado para o público em geral em setembro”, detalha Agenor Carvalho. Dessa maneira, o retorno à Sala Minas Gerais será, portanto, com a plateia presencial vazia mas o palco cheio de novidades. A programação estará focada na obra de Beethoven. As transmissões dos concertos começam em setembro.

As ações educacionais da Filarmônica também estarão diferentes neste período. Em projetos como Universo Sinfônico e Papo de Orquestra, por exemplo, o público poderá conhecer as histórias dos instrumentos assim como conversar com os músicos para saber mais sobre os bastidores de uma orquestra. Ambos no Instagram.

Orquestra Filarmônica investiu em lives, podcast e conteúdo no Youtube – Foto: Arquivo da Filarmônica

Música pop

No universo da música pop, Minas Gerais se consolidava como destino importante de festivais. Um dos mais badalados, o Sarará estava com edição marcada para 29 de agosto. A data será mantida mas a experiência será totalmente outra. Para começar a versão on-line será gratuita. Serão transmitidos, direto do Mineirão onde é realizado presencialmente, shows de Fenda, Rosa Neon convida Kdu dos Anjos, Lagum, além de Coyote convida Iza Sabino, Hot e Oreia e Black Alien. Tudo pelo YouTube com direito a apresentação de Linn da Quebrada.

“O mundo Sarará. Esta será a mensagem da edição virtual. A maior perda é a troca de energia presencial com o público. Além disso, o que antes era para ser consumido em 12 horas, agora é a longo prazo. A maior dificuldade da migração é não ter mais as principais fontes de receita como bilheteria e consumo. É um desafio buscar recursos para manter a cadeia viva. Mas vamos encarar os desafios e adaptar as mudanças”, conta Bell Magalhães, uma das idealizadoras do Festival Sarará.

Cinema na palma das mãos

O cinema foi outra cadeia muito prejudicada. Sem aglomerações as salas ficaram fechadas. Dessa forma, muitas pessoas migraram para o Streaming ou para os drive-ins. A Cineart, em meados de junho, montou dois espaços do tipo na Região Metropolitana de BH. Tem ainda o Go Dream e o Mega Cine Drive-in.

Já os festivais tiveram que investir no digital. A Universo Produção, responsável pelas Mostras de Cinema de Tiradentes, Ouro Preto e Belo Horizonte, realiza a CineOP e CineBH totalmente on-line. O primeiro evento está marcado para o período de 03 a 07 de setembro e está com as inscrições abertas. Também é gratuita. A lógica será parecida com a da edição presencial: além de filmes, muitos debates e shows. As oficinas também continuam na programação. Todas realizadas por videoconferência.

“Diante do cenário incerto e complexo, concluímos que a forma mais segura e indicada é migrar para o ambiente digital para garantir a continuidade e realização dos eventos.  Na internet, teremos a oportunidade de expandir nossa atuação, ampliar o alcance e o engajamento do público, proporcionar mais visibilidade e projeção”, diz Raquel Hallak, coordenadora geral dos eventos e diretora da Universo Produção. A temática desta edição será “Cinema de Todas as Telas” com uma homenagem aos 70 anos da chegada da TV no Brasil. A CineBH – Mostra de Cinema de Belo Horizonte e o 11º Brasil CineMundi serão realizados de 29 de outubro a 2 de novembro de 2020.

 

CineOP em 2020 será digital – Foto: Leo Lara / Divulgação

Teatro transformado

Nas artes cênicas, os primeiros experimentos na capital mineira vieram com a Cyntilante Produções. Em março, o diretor Fernando Bustamante e equipe criaram projeto Quarentena Cyntilante. Com a venda de espetáculos gravados no YouTube, lives no Instagram e peças criadas para o digital. O Grupo Galpão também disponibilizou alguns de seus trabalhos no YouTube.

Em abril foi a vez do Cine Theatro Brasil lançar o Lives Pra Rir. O projeto apresentava a cada 15 dias transmissões ao vivo de espetáculos encenados no palco do espaço. De forma semelhante, em julho o Teatro Feluma lançou o festival de solos, com transmissões semanais.

No fim de julho, a Rubim Produções, responsável pelo projeto Teatro em Movimento divulgou um projeto inédito e inovador. Já que as experiências no digital vieram para ficar, atores, diretores e demais envolvidos na cadeia das artes cênicas precisam entender melhor o que é o formato que começa a nascer na Internet. Sendo assim, surgiu o primeiro curso de Formação em Teatro Digital, com coordenação pedagógica de Mariana Lima Muniz.

Plataforma

O Teatro EmMov Digital é uma plataforma de artes cênicas para web. Além das aulas, haverá também produção de websérie e estreia de três montagens virtuais. Uma ação que irá envolver quase 100 pessoas. Para isso, a produtora teve que se reinventar e estudar plataformas e o audiovisual. Em entrevista para o Culturadoria, Tatyana Rubim contou que no início da pandemia ficou muito preocupada com as produções e com a equipe. “Fizemos um planejamento coletivo e chegamos ao projeto. Teríamos outros caminhos, como filmar um espetáculo e exibir. Contudo, quisemos fazer algo inédito que deixasse um legado e aprendizados”, contou.

Sendo assim, as primeiras atividades do projeto começam nesta quinta (13/08), com a transmissão de um bate-papo entre Tatyana Rubim, Mariana Lima Muniz e o diretor argentino Matías Umpierrez, que também mentora uma parte do Teatro EmMov Digital. A seguir, no dia 17 de agosto, serão abertas as vagas para ouvintes interessados no curso, marcado para começar dia 24. A primeira disciplina será a  “A relação entre teatro e internet”. Além de urgente, o tema é interessantíssimo.

Outras experiências

Na gastronomia, o Festival Fartura lançou, em julho, sua versão online. Inédito no Brasil, em resumo, o projeto contou com mais de 160 atrações compostas por aulas, delivery de pratos, lives de shows e de receitas. Tudo no site e nas redes sociais. Em resumo: foram 12 dias de gravações para compor 48h de programação.

Os museus também têm criado alternativas. O Memorial Minas Gerais Vale, por exemplo, lançou  um tour 360 graus pelo acervo. O espaço, junto com a Casa Fiat de Cultura, Centro Cultural Banco do Brasil e Museu das Minas e do Metal, criou em julho o webinário Conversas sobre Perguntas. Por fim, o BDMG Cultural lançou uma exposição em um site sobre violência contra a mulher.

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