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Babilônia: a megalomania da pré-história de Hollywood registrada em um tributo disperso

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Novo longa-metragem do aclamado diretor Damien Chazelle, Babilônia, tem trunfos e revezes apoiados na própria ambição desenfreada.

Por Caio Brandão | Colaborador

As extravagâncias e os luxos que permeavam a alta classe hollywoodiana na década de 20 pareciam ter vida própria, quase como um mito, uma lenda. Contudo, o problema das antigas histórias, deturpadas pelo tempo, é que tendem a apagar de suas narrativas justamente suas piores partes: a tragédia, a tristeza, a decepção.

Margot Robbie em Babylon Foto PARAMOUNT PICTURES
Margot Robbie em Babylon Foto PARAMOUNT PICTURES

Todo um leque de acontecimentos terríveis convivia com o espetáculo do cinema norte-americano em seu estado embrionário. Essa dualidade é justamente o fundamento no qual se ergue “Babilônia”, o mais recente filme do diretor Damien Chazelle (Whiplash, La La Land).

Tecnicamente, Chazelle mais uma vez demonstra sua expertise, misturando sequências longas e contemplativas com momentos de edição completamente frenética. Tudo isso se junta para criar uma atmosfera condizente com a trama do filme, tanto para o destaque dos personagens envolvidos, quanto para as várias referências à realidade que inspirou a obra. 

Os segmentos que mostram os filmes concluídos atribuem uma aura quase alienígena ao todo que compõe um longa-metragem dos anos 20. Tal efeito é exacerbado pelo choque com o que acontece por trás das câmeras: o ser humano em seu estado mais selvagem.

A opulência torta da antiga Hollywood

Certamente a característica mais marcante de “Babilônia” é a presença quase constante do visceral. A quantidade absurda de dinheiro dos astros e executivos de cinema, somada ao mais alto grau de hedonismo concebível, geram as cenas mais memoráveis do filme. 

Festas em mansões com open bar de todas as drogas imagináveis, masmorras sadomasoquistas, orgias que acontecem com a mesma naturalidade com a qual se toma um copo d’água. Todos esses polêmicos elementos se combinam para criar o mais absoluto caos. 

Porém, não se engane: o choque gerado por essas cenas é totalmente intencional, um amálgama das facetas mais tortas e controversas da experiência humana, e Chazelle não têm nem um pingo de pudor ao jogar isso na cara do telespectador.

Certamente haverá quem questione se o que é mostrado é de bom gosto ou não, mas esse juízo de valor é irrelevante. “Babilônia” é exatamente isso, uma ópera de horrores e prazeres que se confundem entre si, e é necessário entender esse aspecto para digerir o que se passa na tela.

Margot Robbie e Diego Calva em Babylon Foto PARAMOUNT PICTURES
Margot Robbie e Diego Calva em Babylon Foto PARAMOUNT PICTURES

No meio do pandemônio, contemplação

Seria leviano dizer que a narrativa se dá exclusivamente por meio do bizarro. Há também momentos de genuína  sensibilidade, afinal de contas, por mais absurdo que sejam o cenários dos quais os personagens participam, eles ainda são humanos. Humanos completamente entorpecidos pelo contexto hollywoodiano, mas humanos.

Esses momentos são impulsionados pelas grandes atuações das estrelas do filme. Brad Pitt faz seu clássico papel de garanhão cínico, e, mais uma vez, acerta em cheio. Margot Robbie recebeu todo o espaço possível para demonstrar sua versatilidade, construindo uma performance que convence e engaja. 

A atuação de Diego Calva cresce em paralelo com o desenvolvimento de seu personagem, começando tímida e sendo lentamente contaminada pela loucura do show business. Vale acompanhar esse processo com atenção, tanto por causa do ator em si, quanto pelo papel sendo interpretado.

Exagero na ambição

Chazelle claramente tinha a intenção de homenagear todo o trabalho que gira em torno do desenvolvimento de um filme, desde os cargos mais prestigiados até os mais brutalmente subvalorizados. Infelizmente, isso foi uma mordida maior que a boca. 

“Babilônia” tomou proporção exagerada. Ao longo das mais de três horas de duração, o longa metragem se torna maçante. Vários personagens que pareciam ser destacados acabam se perdendo na narrativa, e a trama dos protagonistas se dispersa, resultando em um ritmo confuso. 

A quantidade excessiva de elementos que Chazelle quis adicionar ao filme fez com que as histórias de cada personagem entrassem em uma competição sem ganhadores. Os protagonistas perderam a chance de serem desenvolvidos mais profundamente em detrimento de cenas com coadjuvantes que quase não têm relevância, embora tivessem potencial.

A impressão que fica é que se a direção tivesse optado por uma narrativa mais focada, o filme como um todo seria mais cativante e coerente. Parece que a megalomania das cenas de “Babilônia” contaminou o roteiro.

Esses exageros, todavia, não fazem com que a experiência seja completamente estragada. Embora desnecessariamente longo, “Babilônia” registra de maneira interessante e chocante uma realidade que muitas vezes é omitida, resultando numa obra que, mesmo com suas falhas, ainda é marcante. 

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