Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Os bastidores que marcaram a carreira de Babu Santana, homenageado da Mostra de Tiradentes

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Quando Babu Santana pensa em Tiradentes, as lembranças são doces. “Eu estava lá quando milha filha nasceu. Era o último dia de filmagem de Alegres Comadres”, recorda sobre um dos três grandes eventos de paternidade da vida. Neste caso, o nascimento de Laura, de 15 anos.

No próximo dia 19 de janeiro, Babu Santana estará de volta à cidade para uma nova carga de emoções. Desta vez, profissionais. O ator será o homenageado da Mostra de Cinema de Tiradentes. Como manda a tradição do evento, o filme de abertura é protagonizado por ele.

Na produção baiana Café com Canela, da dupla Ary Rosa e Glenda Nicácio, Babu faz um personagem totalmente diferente de tudo o que interpretou até agora. Ele já foi chefe de tráfico, carcereiro, cantor, vigia de hospital, pastor.

Babu Santana é o homenageado da Mostra de Cinema de Tiradentes 2018 Foto: Leo Lara/Universo Produção

“É um filme revolucionário em termos de movimentos. Do negro envolvido na construção do cinema, do empoderamento feminino e sobre a homossexualidade. É um longa muito importante na evolução do cinema e na inserção dessa galera”, comenta.

Apesar de reconhecer o peso das lutas sociais, Babu Santana se diz um homem cuja causa maior é a família. “Sempre fui arrimo”, justifica. Começou a estudar teatro aos 12 anos e, aos 16, entrou para o Grupo Nós do Morro, importante projeto cultural instalado na comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro.

 

Babu Santana no Morro do Vidigal. Foto: Leo Lara/Universo Produção

 

Chamado realista

Foram 15 anos junto do mesmo elenco. Levaram Shakespeare para o palco, aprenderam também sobre roteiro, direção de fotografia e outras funções importantes para a produção cinematográfica. Babu foi “aluno” de nomes como Cacá Diegues, Dib Lutfi, entre outros.

Foi convidado a fazer um teste para o elenco de Cidade de Deus (2002) depois de participar de uma das oficinas do Nós do Morro. Passou e a carreira nos sets nunca mais parou. Como diversos colegas daquela safra, ficou conhecido pela interpretação realista. Eis a conexão com o eixo temático central da Mostra de Cinema de Tiradentes em 2018.

Cidade de Deus (2002) foi um caso emblemático na produção brasileira quando o assunto é interpretação realista. Como o elenco foi selecionado nas comunidades cariocas, vendeu-se a ideia de que a maioria não eram atores profissionais. Babu contesta esta informação. Eles poderiam até não ser atores conhecidos, mas já tinham experiência sim.

Nos tempos de Nós do Morro, Babu e seus colegas chegaram a produzir um curta-metragem por semana. Além disso, como exercício, transitaram por personagens célebres do bardo inglês. “Dessa escola de teatro eu comecei a fazer as oficinas para o Cidade de Deus e ter noção de como fazer a mudança de tônus. Passar da interpretação grandiosa do teatro para o enquadramento do cinema”, conta.

“Gosto da trajetória da minha vida. Foram tempos difíceis e tempos de alegria. Fui em em direção ao que eu queria fazer”, Babu Santana

 

 

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Amadurecimento

Como será que os amigos de Babu Santana o definiriam. “Acho que no início da minha carreira me achavam um pouco ansioso. Em uma parte era muito indisciplinado mas sempre fui um cara gente boa”, diz. O ator confessa que é “meio turrão”, reclama muito. “Por causa da minha estrutura física as pessoas me entendem um pouco errado”.

Hoje já são 15 anos de carreira, 27 filmes e séries lançados. Entre eles, Babu transita com tranquilidade entre comédias e dramas. Mesmo em gêneros diferentes, os personagens dele sempre têm características parecidas. “O mercado acaba te acolhendo para um certo tipo de personagem”, reconhece.

Em geral Babu é interprete de caras engraçados, bandidos ou bêbados. “Estou sempre nessa figura popular que me agrada muito. A riqueza está nos detalhes de cada um”, comenta.

Entre os diretores que trabalhou ao longo da carreira, destaca o início com o mineiro Helvécio Ratton (Uma onda no ar e Batismo de Sangue) e a parceria frequente com a diretora Lúcia Murat. Um encontro que começou com Quase dois irmãos (2004) e vem se repetindo, inclusive o inédito para os mineiros Praça Paris (2017).

Com tantas produções emblemáticas no currículo, Uma onda no ar (2002), de Helvécio Ratton, Tim Maia (2013), de Mauro Lima e Estômago (2007), de Marcos Jorge foram escolhidas por Babu para comentar os bastidores.

Confira aqui a programação completa da Mostra de Cinema de Tiradentes 2018

 

 

Cena de Uma Onda no Ar, de Helvécio Ratton. Crédito: Reprodução da Internet

 

UMA ONDA NO AR

“O bastidor mais incrível até hoje foi com o Helvécio”, confessa sobre o trabalho com o diretor mineiro. Além de uma Onda no ar, Santana também fez parte do elenco de Batismo de Sangue. “O Helvécio me deu segurança e uma oportunidade de ouro para me expor como artista”. O ator se mudou para Belo Horizonte durante a gravação do longa.

Ao se lembrar do processo de filmagem, se diverte com uma das cenas em que travou. “Era uma passagem super simples. Eu precisava encontrar o personagem do Moreno na escada. Tivemos que fazer uns 15 takes. Foi difícil. Como naquela época era fotograma, eu estava entrando em desespero”, recorda.

 

Cena de Estômago, com Babu Santana. Crédito: Reprodução da Internet

 

ESTÔMAGO

Quando foi selecionado pelo diretor Marcos Jorge para viver o Bujiú, Babu vinha de uma maratona de trabalhos em que contava com o apoio de preparadores de elenco. Achou um diferencial estar com um diretor responsável pelo roteiro, pela finalização, pela produção. “Uma coisa mais madura. Teve emoção e técnica”, lembra.

Estômago é um filme protagonizado por João Miguel. Na história, ele é um cozinheiro nordestino que vai tentar a vida em São Paulo. Babu ganhou como de melhor ator coadjuvante o Grande Prêmio Cinema Brasileiro e, na mesma categoria, no Festival do Rio.

“Vejo meu personagem com um humor total. Achava que as pessoas ficariam apavoradas. Muita gente ri. É um riso desconfortável. Não compus como um malfeitor, mas como um guloso. Um cara que perdeu o poder por comida”, analisa.

 

Babu Satana como Tim Maia. Crédito Paprica Fotografia

 

TIM MAIA

A cinebiografia foi divisora de águas na carreira de Babu Santana. “Quando recebi a notícia que tinha passado no teste fiquei dois dias chorando”, lembra. Foi um processo longo. Os testes foram realizados três anos antes do início das filmagens. O ator perdeu a mãe nesse meio tempo e ele precisou engordar 15 kg. “Até hoje estou tentando perder o peso que precisei ganhar”.

Apesar de tudo, Babu não tem dúvidas do quanto o encontro dele com Tim Maia foi quase um sonho. “Tenho a maior honra. É um dos ídolos que eu tenho”, conta. Tem também a parte financeira e profissional. Depois de Tim Maia, Babu foi para televisão e a conta doméstica passou a fechar com menos dificuldade. “Tenho uma vida estável fazendo televisão e cinema”.

 

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