Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Além do entretenimento: seis dicas de livros para o Dia das Crianças

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Confira, aqui, uma seleção de seis títulos que trazem importantes reflexões para o público infantojuvenil, e pensados para o Dia das Crianças

Patrícia Cassese | Editora Assistente

O entretenimento é uma característica super bem vinda no que diz respeito a livros destinados ao público infantojuvenil. Mas e quando, além dela, a obra em foco também aborda questões atuais e, não bastasse, trouxesse reflexões importantes? Sendo assim, com vistas ao Dia das Crianças, o Culturadoria elaborou uma lista com seis títulos que discutem temas importantes, como a ameaça das fake news, as novas configurações familiares, o preconceito, o bullying, a questão dos imigrantes e muito mais. Confira!

Ilustração do livro "Tão Importante Como um Pedaço de Língua", dica para o Dia das Crianças (FTD Educação/Divulgação)
Ilustração do livro "Tão Importante Como um Pedaço de Língua", dica para o Dia das Crianças (FTD Educação/Divulgação)

“Tão Importante Como um Pedaço de Língua”

Era uma vez, três amigas inseparáveis – Maria Eduarda, Nayara e Amanda. Ah, sim, e um gato, de nome Fernando, que, vale dizer, havia perdido um pedaço da língua. Na verdade, Nayara era a tutora do felino. Juntos, os quatro passavam bons momentos. No caso das crianças, principalmente pesquisando sobre astronomia, um gosto em comum. Bem, na verdade, elas comungavam outro aspecto: volta e meia, eram alvo de comentários bem maldosinhos de alguns colegas. Assim, Maria Eduarda, por exemplo, que tinha os cabelos vermelhos e muito armados, era chamada de “peruca maluca”.

A capa do livro, que traz belíssimas ilustrações de Laura Athayde, artista radicada em BH (FTD/Divulgação)

Tal qual, Nayara também tinha cabelos crespos – porém, negros, finos e leves. Belos, muito belos, mas, mesmo assim, alguns coleguinhas, com inveja, diziam que ela se parecia com “um baobá”. Já Amanda, ao contrário, tinha os fios bem lisos. Só que outras crianças implicavam com o queixo dela! A tal ponto, que Amanda, abalada, desandava a comer.

Mudança

O lado bom é que a amizade fazia com que as meninas nem se importassem com tais agressões – afinal, tinham umas as outras. Porém, em um dia estranho que só, Nayara percebeu que as amigas pararam de responder às mensagens que mandava. Tampouco atendiam os telefonemas dela. Assim, a garota enfrentou a dor de perder não só uma amizade, como duas, de uma vez. Pior: sem entender o motivo que levou ambas as crianças a uma mudança tão brusca de atitude.

Elas eram amigas de dar inveja…. até que duas delas passaram a agir de modo muito estranho (FTD Educação)

Veio, pois, o tempo de tentar achar respostas. Quando finalmente cai a ficha e Nayara efetivamente entende o que aconteceu, ela, já mais madura, compreende também que as dores da vida são inevitáveis. E, como diria um grande pensador alemão, de nome Nietzche, o que não nos destrói, fortalece. Assim, Nayara entende que o fim de um ciclo pode significar a entrada em outro – inclusive, mais interessante e enriquecedor.

Novos tempos

Como bem assinala o escritor João Anzanello Carrascoza, na quarta capa, a narrativa faz pensar nas falsas condutas sociais. A gente aqui, do Culturadoria, acrescentaria: também nos faz refletir sobre vários tipos de preconceito. Que, felizmente, não são compartilhados por todos. Tanto que Nayara encontra novos e bons amigos. Ah, sim. A edição ainda inclui um suplemento de leitura.

Ah, sim. A ilustradora, Laura Athayde, nasceu em Manaus, mas, atualmente, mora em BH. Adoramos o trabalho dela neste livro!

Ficha técnica

Autora: Paula Fábrio. Ilustrações de Laura Athaide. Editora FTD, 48 páginas. R$ 66.

“O Rouxinol da Mamãe”

Este foi um dos títulos que inauguraram o selo Alegriô, da editora Aletria, e, agora, volta aqui como sugestão para o Dia das Crianças. A protagonista é Saya, que está triste, no início da história, porque a mãe está detida em um centro de imigrantes. Saya, vale dizer, tem o a companhia do pai. E ele, está empenhadíssimo em conseguir os documentos que permitam que a esposa saia desta situação desumana. Tanto que escreve cartaz para o prefeito e congressistas, bem como para todos os jornais e repórteres de televisão de quem já ouviu falar. Porém, debalde.

Saya sonha com o canto da mãe em um dos desenhos do livro “O Rouxinol da Mamãe” (Aletriô/Divulgação)

Ao lado do pai, Saya visita a mãe toda semana. São momentos que mesclam felicidade e, claro, tristeza. Lá, ela cai nos braços da mãe, que a chama de Wosiyol. Trata-se de um lindo rouxinol que ama o gosto de uma fruta doce, a graviola. Mas a tristeza bate forte quando os guardas falam que a hora da visita terminou. A partir de certo ponto, Saya começa a receber belos presentes da mãe, que a transportam para longas jornadas…

Triste realidade

Ao fim do livro, a autora esclarece que cresceu em uma família que foi em parte separada pela imigração. Enquanto ela e o irmão ficaram no Haiti, os pais moravam nos Estados Unidos. Nos dias atuais, ela mora em Miami, com as filhas. Mas ela assinala que, de acordo com o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) do Departamento de Segurança Nacional, mais de 70 mil pais de crianças nascidas nos Estados Unidos foram presos e deportados nos últimos anos. Não por outro motivo, o livro é dedicado a essas crianças – como Saya.

Ficha técnica

Autora: Edwidge Danticat. Ilustrações de Leslie Staub. Alegriô, 32 páginas, R$ 72 (neste momento, está em promoção por R$ 50,40).

“Menina Bonita, Que Cor Você Tem?”

“Menina bonita, que cor você tem?” é um livro infantil inspirado em uma história real, vivida pela filha da autora, Aline Carvalho, e que vai dizer muito a muitas crianças. Quando a menina passou por uma situação em que se sentiu inferiorizada devido à cor da pele, a mãe recorreu à contação de histórias para dialogar sobre a negritude, a importância da diversidade e o respeito às diferenças. Na narrativa, Giovana é uma garota alegre, extrovertida e inteligente que, depois de um dia comum no colégio, retorna entristecida por causa do comentário de uma professora. Durante uma aula, a educadora afirmou que todas as crianças na sala tinham uma “cor natural”, menos Gi, porque ela tinha cor marrom.

Ilustração de Xande Pimenta para “Menina Bonita”, livro direcionado ao público infantil (Multifoco/Divulgação)

A partir disso, a mãe da protagonista busca reconstruir a autoestima da menina ao narrar a trajetória de seus ancestrais africanos, compostos por reis, rainhas e guerreiros pretos. Ainda explica a importância da diversidade nas pessoas, além de mostrar como essas diferenças são comuns na vida. É ou não é uma leitura pertinente neste Dia das Crianças?

Ficha técnica

Autora: Aline Carvalho. Ilustrações: Xande Pimenta (Editora Multifoco, 33 páginas, R$ 55 (físico) | R$ 15 (e-book)

“O Vermelho Vaidoso”

Se você pensasse numa flor, de que cor ela seria? É com esta pergunta que o livro “O Vermelho Vaidoso”, outra indicação para o Dia das Crianças, se inicia. E quem coloca a pergunta que replicamos aqui é a cor vermelho, que, no caso, se deixou afetar pela vaidade. Assim, o vermelho passou a se achar o tal. Primeiramente, por ser a cor de frutas muito apreciadas, tais como a maçã, a cereja e o morango. Tal qual, é a cor do manto dos reis, e, do mesmo modo, do caminhão de bombeiros, que é tão imprescindível… Bem, ocorre que a cor passou a se sentir tão, mas tão superior, que as colegas dela de estojo de lápis começaram a se sentir muito incomodadas.

Ilustração do livro “O Vermelho Vaidoso”, de Alejandra González e Daniel Kondo (WMF Martins Fontes/Divulgação)

Assim, uma por uma, cada cor começou a apontar a importância do que representa na vida das pessoas e do planeta. Afinal, só para citar um exemplo, o que seria o mundo sem o verde das árvores? Problema é que tanto alvoroço acabou por fazer o estojo de lápis cair no chão… Bem, o socorro até chega, mas traz consigo umas boas reflexões para as crianças que transcendem o universo das cores…

A capa do livro, que chega às livrarias chancelado pela Martins Fontes (WMF/Divulgação)

Ficha técnica

Autores. Alejandra González e Daniel Kondo. WMF Martins Fontes, 56 páginas. R$ 69,90.

“A Avó Sem Netos”

O que seria uma avó sem netos? Vamos lá. O livro “A Avó Sem Netos”, na verdade, fala das novas configurações familiares, que, vamos combinar, já fazem parte da realidade do mundo há tempos. Neste caso, estamos falando de mulheres que, por contingências da vida, se uniram a homens que já tinham filhos de uma relação anterior. Vamos pegar a personagem como exemplo. Ao se tornar madrasta de duas crianças, esta mulher acabou se tornando uma figura importante na vida delas.

Só que estas crianças cresceram e estabeleceram relações afetivas nas quais acabaram tendo os próprios filhos. Então, vem a pergunta: esta mulher não se torna automaticamente avó dessas crianças, mesmo que elas não tenham o mesmo DNA? E como explicar isso aos pequenos?

As novos configurações familiares inspiraram o livro “Avó Sem Netos”, de Duaia Assumpção (Realizamos Artes/Divulgação)

É justamente isso que este livro bem pertinente discute. No caso, na história, um belo dia, a avó escuta uma frase que lhe assusta. “Você não é minha avó”. “O que fazer com a avozice agora?”, pergunta o livro. Sim, esta mulher se sentia avó. Como convencer a garota, que disparou a frase? “E o que fazer com aquele monte de espaço no coração?” Bem, a boa notícia é que esta mulher acaba encontrando uma ótima solução.

Ficha técnica

Duaia Assumpção. Ilustrações: Vanja Freitas. Realizamos Artes, 20 páginas. R$ 29,90 o livro físico ou R$ 7,95 o digital, na Amazon.

“Xô, Fake News – Uma História Sobre Verdades e Mentiras”

Tema pra lá de pertinente. Esta graphic novel, outra sugestão para o Dia das Crianças, começa mostrando Tina bem chateada com a questão das fake news. Na verdade, Tina é jornalista, ou seja, sempre procura a verdade. Não por outro motivo, ela agora está empenhada em se tornar influencer. Mas não para falar sobre moda ou coisas afins, e, sim, para combater as fake news. Tanto que cria a hashtag que dá nome ao livro #XôFakeNews. E justifica: “Tem influenceer que defende uma ideia ou uma causa, e não ganha nada por isso, apenas o prazer de lutar pelo que acredita”, diz ela, ao desligadão Rolo.

Pipa, Rolo e Tina discutem o tema “fake news” em um livro bem pertinente (Editora Nova Fronteira/Divulgação)

Ao mesmo tempo, no capítulo 2, Magali está na enfermaria da escola do bairro do Limoeiro, como vários outros alunos. Isso porque vários estudantes cismaram em tomar água quente com limão em jejum… Alguns, querendo emagrecer. Já Magali, por acreditar que este combinado fortalecia a imunidade. A enfermeira comenta com Mônica que há uma epidemia de fake news. E é aí que vem a ideia de somar forças, inclusive, preparando uma palestra. Mesmo que haja interessados em boicotar a iniciativa.

A capa do livro

O livro é bem didático para as crianças e adolescentes, mas sem ser chato. Lista portais de checagem de fatos, conteúdos para saber mais sobre fake news, entrevista com a influencer Camila Coutinho, toques inteligentes da Tina para não cair em fake news. Bacana e instrutivo.

Ficha técnica

Maurício de Souza e Januária Cristina Alves. Maurício de Souza Editora/Editora Nova Fronteira, 88 páginas. R$ 74,90

*Nem todos os livros que aparecem nesta lista são lançamentos. Foram escolhidos pela pertinência dos assuntos que tratam.

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