Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Belo Horizonte chega aos 126 anos: confira canções que exaltam a cidade

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Belo Horizonte faz aniversário e ganha mais uma música em homenagem – confira, aqui, algumas composições que falam da cidade

Patrícia Cassese | Editora Assistente

O cantor e compositor Affonsinho lança nesta terça-feira, dia 12 de dezembro, nas principais plataformas de música, a composição “Belo de Belô”. Claro, não se trata, de modo algum, de coincidência. Trata-se de um presente do artista para a capital mineira, que, neste dia, completa 126 anos. Detalhe: quem acompanha a carreira do músico sabe que esta não é a primeira vez que ele fala da cidade nas letras que assina. E “Sas Sies Sions (Pass na Savass)”, “Sapucair, Savassear”, “Belê”, “Reverie”, “A Cor Daqui” são apenas alguns exemplos. Sim, Belo Horizonte tem um lugar especial do coração de Affonsinho.

Affonsinho (o segundo, da esquerda para a direita) e os demais artistas que participaram da gravação da música em homenagem a Belo Horizonte (Helton Lima/Divulgação)
Affonsinho (o segundo, da esquerda para a direita) e os demais artistas que participaram da gravação da música em homenagem a Belo Horizonte (Helton Lima/Divulgação)

Assim, “Belo de Belô” é mais um exemplo. Desta vez, ele convidou Bárbara Barcellos, Clara Dias, Fabi Metzker, Kadu Vianna e Lucas Avelar para cantar junto. Tal qual, os músicos Felipe Fantoni (baixo) e Helton Lima (bateria). Ao Culturadoria, Affonsinho falou da relação com a cidade homenageada. “Eu sempre adorei Belo Horizonte. Aos 20 e poucos anos, fui ‘obrigado’ a sair da cidade porque, como muitos se lembram, quase não tínhamos espaço para divulgar nossos trabalhos independentes. Então, fui para o Rio, onde passei dez anos”.

Saudades

Lá, rememora Affonsinho, entrou para o grupo Hanoi Hanoi. “Tive essa sorte. Assim, gravamos discos, fizemos centenas de shows pelo Brasil e participamos de vários programas de televisão, incluindo o Chacrinha. Mas sempre senti muitas saudades de Belo Horizonte, das pessoas que amo, do nosso sotaque e de tudo de belo que temos aqui”. Há muitos anos, quando começou a fazer músicas com Chico Amaral, os dois tiveram várias conversas sobre como havia tantos compositores que escreviam letras para as mulheres baianas, as cariocas… “Exaltando as belezas, sei lá, da Bahia etc. Mas, que a gente lembrasse, não havia nenhuma para as mineiras. Então, fizemos, em parceria, ‘A Cor Daqui'”.

No entanto, ele nunca gravou a canção. “Alguns anos depois, escrevi ‘Belê’, para o luar de Belo Horizonte. A canção faz parte do disco homônimo, que acredito ser meu mais conhecido. Em seguida, veio ‘Reverie’, em parceria com Leo Minax”. Logo depois, Affonsinho escreveu “Sas Sies Sions” (passna Savass), usando o modo de falar usado por tantos mineiros. “Veja, a frase não é minha. Apenas coloquei-a em um contexto de canção. É sobre minha curiosidade a respeito de como surgiu nosso sotaque ‘mineirês’”.

“Sapucair, Savassear”

Durante a pandemia, com vontade de passear tranquilamente pela cidade, Affonsinho escreveu mais uma composição: “Sapucair, Savassear”. “Esta letra dá saltos. Assim, vai ao Japão, vai a Portugal (países, vale dizer, nos quais a música do mineiro toca), mas fala da saudade de estar em Belo Horizonte passeando pela Savassi. (Tal qual) e aproveitando o carnaval na Sapucaí. Criei os neologismos ‘Sapucaír’ e ‘Savassear’, Além de brincar com a Avenida do Contorno, dizendo ‘contornar meu amor com meu braço e beijar'”.

Mais recentemente, Affonsinho começou a pensar em uma realidade que, na verdade, sempre o deixou, de certa forma, incomodado. Muito, aliás. “O fato de a arte criada em Belo Horizonte ainda não ter a valorização nacional que acredito que mereça”, pontua. Daí, escreveu “Belo de Belô”. “Na verdade, acho que ainda somos (os artistas daqui) um pouco invisíveis no cenário nacional, infelizmente… Por isso gostaria que prestassem mais atenção na quantidade de talentos que existem na cidade. São muitos, espalhados por vários gêneros e estilos”, enfatiza.

Milton e Brant

Uma canção que ajudou Affonsinho a botar reparo nesse aspecto foi “Notícias do Brasil“, de Milton Nascimento e Fernando Brant. O refrão diz: “ … ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, não vai fazer deste lugar um bom país…“. Affonsinho ressalta que sempre entendeu que Brant estava dizendo sobre o fenômeno de, por aqui, as coisas vindas “de fora” serem mais valorizadas. “Como nos tempos em que éramos apenas uma colônia. Algumas vezes, senti que Belo Horizonte parecia acreditar mais no que vinha das grandes metrópoles – e isso me entristecia…”, admite.

Nos novos tempos

Não que ele não enxergue alguma mudança no quadro. “Acredito que já melhoramos, mas podemos melhorar muito mais! Hoje temos rádios, TVS e jornais que nos divulgam, temos saraus como o Tranquilo, o Colaborassom e muitos outros, divulgando os artistas. E vejo um crescimento do público interessado no que produzimos aqui”. Sendo assim, a canção que lança no aniversário de Belo Horizonte é uma homenagem à cidade e aos artistas locais (“que suam a camisa aqui e insistem em lutar pela arte criada e produzida na cidade”).

Do mesmo modo, ele acrescenta os veículos de comunicação que divulgam os artistas locais. “Também (uma homenagem) aos produtores e ao público que vem, a cada dia. descobrindo que somos um barato. Que ser belo-horizontino é um barato, que falar em ‘mineirês’ é um barato”.

“Belo de Belô” poderá ser escutada a partir do dia 12/12 em todas as plataformas digitais.
Basta clicar no link e escolher onde ouvir.

Confira, a seguir, outras músicas que enaltecem a capital mineira (ou alguns pontos da cidade)

“Belo Horizonte” – Beto Guedes

Música instrumental de Beto Guedes, lançada em 1977 no disco “A Página do Relâmpago Elétrico”, mesmo álbum que também inclui sucessos como “Lumiar”, “Nascente” e “Maria Solidária” (sucesso também na voz de Fafá de Belém). Trata-se de um chorinho de dois minutos e meio de duração.
Ruas da Cidade – Milton Nascimento. “Guajajaras, Tamoios, Tapuias/Todos Timbiras, Tupis/Todos no chão/A parede das ruas não devolveu/Os abismos que se rolou/Horizonte perdido no meio da selva/Cresceu o arraial, arraial”. A música de Bituca foi lançada em 1978.

“Viradão na Feira Hippie”

Música do repertório do grupo Tianastácia, fala sobre as várias pessoas que emendam a noitada do sábado com a feira de artesanato da Avenida Afonso Pena. Evento que atrai turistas de todo o estado e, por que não?, também de outros pontos do país, a iniciativa é popularmente conhecida como a “Feira Hippie” (isso, desde os tempos em que era realizada na Praça da Liberdade).

“Rua Ramalhete”

Composição de Luís Otávio de Melo Carvalho, o Tavito (1948-2019), lançada em 1979. Esta é um clássico. A letra fala, com nostalgia, dos tempos de juventude, citando alguns locais de Belo Horizonte, em particular, do entorno da Rua Ramalhete, que fica na Serra, com um trecho também no Anchieta. Caso do Colégio Sacré-Coeur. “Sem querer fui me lembrar/De uma rua e seus ramalhetes, Do amor anotado em bilhetes, Daquelas tardes”, diz a letra.

“Belo Horizonte”

Música de Wenderson Simões Silva, o Das Quebradas, em referência a Belo Horizonte. Confira só um trecho da letra do rap: “Cine Brasil, Viaduto Santa Tereza, Parque Municipal/(Feira Hippie) igrejas, museu, Praça Sete, Mercado Central/(Iguarias) fígado acebolado com jiló/No Mickey e no Nonô tem caldo de mocotó”.

“Beloriceia”

A saudosa Helena Penna (1950-2012) lançou um disco inteiro dedicado à capital mineira, com músicas de Angelo Pinho e Jorge Fernando dos Santos. Uma delas era “Beloriceia”, que diz, na letra: “Hoje no ônibus cheio/Na noite vazia/Olhando à janela lá fora/A concreta poesia/Percebi/Um festival de nome e cores/Nos postes e muros da aldeia/Uma pergunta me paira/No corpo e na mente estática e cheia/Beloriceia partida, sofrida/Na noite uma vida sem nada/Verso e reverso de planos rasgados/Jogados na beira da estrada”. Helena, na verdade, nasceu em São Bernardo do Campo (SP), mas vivia na capital mineira. Vale lembrar que, com o disco “Marias” (1995), a cantora conquistou o extinto Prêmio Sharp, na categoria Revelação de MPB.

“Belo Horizonte Que Eu Gosto”

Música de Pacífico Mascarenhas. Integrante da famosa Turma da Savassi, o compositor Pacífico Mascarenhas (que, cumpre frisar, tem, em homenagem, uma estátua instalada em frente à sede do Minas Tênis Clube – Unidade Rua da Bahia) compôs esta música que diz: “Belo Horizonte que eu gosto/Era melhor, meu amor também diz/Belo Horizonte que adoro/Todo mundo era feliz/Belo Horizonte que eu gosto/Continua perto de mim”. Foi lançada em 2003.

“Garota Nacional”

A letra de um dos maiores hits do Skank, registrado no disco “Samba Poconé”, fazia alusão ao Bar Nacional. Ou seja, no caso, não fazia uma menção direta à cidade, mas, sim, a um dos pontos icônicos, que infelizmente não existe mais. O Bar Nacional era um empreendimento da empresária Anésia Cambraia, e fica ali, na avenida do Contorno, na região do Barro Preto. O Skank também já apontou, em suas letras, outros pontos da cidade, como o (também extinto) Cine Pathé.

“Bello Horizonte”

Fi Barreto lançou a música “Bello Horizonte”, com participação de Juliana Schiutz. A letra diz: “Onde eu nasci, onde eu cresci, aqui tá meu papel/Sou dessa terra, onde as montanhas namoram o céu/Sou do sotaque que a palavra sai quase com mel/Eu sou de mercado central e de Rei do Pastel”.

“Sexta”

Djonga e Coyote Beatz lançaram esta música a partir de posts feitos por fãs do cantor no Twitter (X). Diz a letra: “Puxando um bonde que já era um bonde antes de eu puxar/Rap BH/Os amigo já tava lá quando era feio ser preto e falar umas gíria/Quando era pecado usar guia e e colar na gira/Não sei por onde se esconde a tristeza”.

“Amigos & Canções”

O compositor Gervásio Horta lançou, em 2007, um volume do projeto “Amigos & Canções” que trazia várias faixas dedicadas a pontos icônicos de BH. Entre elas, “Praça Sete”, “Manhãs de Belo Horizonte”, “Lindo Barro Preto”, “Mercado Central” e “Adeus Lagoinha”. “Praça Sete”, por exemplo, contava com a participação especial de Tadeu Franco, nos vocais. Já “Bela Belô”, com Serginho Beagá. Tal qual, “Adeus Lagoinha”, com Raimundo do Pandeiro.

“Cine Pathé”

Já lembramos, aqui, que o Skank também já fez referência a este cinema de rua antológico, que exibia filmes de arte e fazia a festa dos cinéfilos. Aliás, passar pela fachada, na avenida Cristóvão Colombo, sempre dá uma dorzinha no peito. Mas o nome do espaço é citado aqui em função do disco homônimo lançado por Juarez Moreira. No caso, as melodias de Juarez Moreira receberam letras de nomes de responsa, como Fernando Brant, Murilo Antunes, Paulinho Pedra Azul, Celso Adolfo, Chico Amaral e Simone Guimarães, para citar alguns.

“Sapucair, Savassear”

Single gravado por Affonsinho durante a pandemia, sobre a vontade de voltar a passear pela cidade. O clipe foi feito de forma colaborativa com fotos enviadas pelos fãs, que compartilhavam da mesma saudade.

“Sas Sies Sions”

Homenagem de Affonsinho ao sotaque mineiro, a música foi lançada no CD “Depois de Agora” (2013)

“Belo Horizonte”

Música de Ladston do Nascimento, que diz: “Belo Horizonte, esse céu azul…/E a verde serra amada do Curral del Rei/Que abraça nossa cidade e guarda o sossego da gente,/Exala o amor, em clima e flor./Mar aberto de montanhas/No voo seguro das asas coloridas, A liberdade ainda que tardia,/Conquista da raça de um povo brasileiro”. O samba pode ser ouvido nas plataformas de streaming.

Em tempo:

Para quem quiser saber mais sobre músicas que falam sobre a capital mineira, confira, a seguir, duas dicas de ouro

1) A jornalista Viviane Moreno montou uma lista de músicas que falam sobre a cidade (ou pontos icônicos dela) e, gentilmente, disponibilizou para o Culturadoria, o link
Tem opção pra todos os gostos: https://open.spotify.com/playlist/3fX3aUlKshMCr8qfIUKZra?si=77dd901e3e3c425a

2) O jornalista Jorge Fernando dos Santos, por sua vez, lançou um livro, “Belo Horizonte em Letra e Música” (Editora Miguelim), que compila músicas que abordam, em letras e melodias, a capital mineira. Ao todo, Jorge Fernando dos Santos descobriu cerca de 200 músicas relacionadas a BH, abarcando também seus bairros, praças, ruas e avenidas. O Culturadoria fez matéria com o autor, à época do lançamento. Na ocasião, Jorge Fernando dos Santos contou que a pesquisa dele durou quatro anos, tendo inclusive abarcado o período auge da pandemia de Covid-19. “Pesquisei o tema, colhi dezenas de depoimentos e, daí, parti para a escrita de ‘Belo Horizonte em Letra e Música’”. 

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