Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

CCBB BH recebe a mostra “Studio Drift – Vida em Coisas”

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Obras do coletivo holandês estão reunidas na mostra “Studio Drift”, que ocupa o equipamento do Circuito Liberdade até novembro

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Até o dia 06 de novembro, quem adentrar o pátio do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte – o CCBB BH -, na Praça da Liberdade, certamente vai passar um bom tempo olhando para o alto, acompanhando o balé das estruturas que, emulando flores, sobem e descem, se abrem e se fecham, numa coreografia que não deixa ninguém impassível. Trata-se da obra “Shylight” (2006-2014), que se utiliza de alumínio, ano inoxidável polido, seda, luzes de LED e – importante – robótica. Na verdade, a exposição à qual pertence está sendo aberta ao público, em sua completude, neste domingo: “Studio Drift – Vida em Coisas”.

Obra "Amplitude", do Studio Drift, presente também no CCBB BH (Foto: Ronald Smits/Divulgação/Agência Galo)
Obra "Amplitude", do Studio Drift, presente também no CCBB BH (Foto: Ronald Smits/Divulgação/Agência Galo)

Trata-se da primeira mostra, no Brasil, do coletivo holandês Studio Drift, que foi fundado, em 2007, pelos artistas Lonneke Gordijn (1980) e Ralph Nauta (1978). Depois de já passar por outras capitais, como o Rio de Janeiro e São Paulo, a iniciativa chega a Belo Horizonte para cumprir temporada até 6 de novembro, com entrada franca. No caso de “Shylight”, a obra disponibilizada no pátio do CCBB, dentro da exposição “Studio Drift – Vida em Coisas”, a ideia é replicar o movimento de algumas flores, cujas pétalas se fecham à noite, para preservarem seus recursos.

O curador, em visita guiada a jornalistas: para Dantas, mostra acontece em momento oportuno (Foto: Patrícia Cassese)

Dez anos do CCBB BH

Importante ressaltar que a escolha da data de abertura de “Studio Grift” não foi aleatória. É que o CCBB BH completa 10 anos de atividades em 2023. Também para balizar a data, o CCBB Educativo preparou uma atividade especial intitulada “Música Encena – Desabrocha”, que dialoga com “Shylight”. Na apresentação, os bailarinos performam usando saias que recriam o movimento das flores presas no teto. Embalada pela música de Philip Glass, uma
coreografia é desenvolvida para lembrar que o desabrochar é um movimento inerente
à vida. A atividade, gratuita, ocorre às 15h, 16h, 17h e 18h, sem necessidade de ingresso
para participar.

Performance “Skylight” (na foto, a ocorrida no CCBB SP), da mostra “Studio Drift”) (Bruno Melero/Divulgação)

Fundado em 27 de agosto de 2013, o CCBB BH já realizou um total de 457 projetos, sendo 173 de artes cênicas, 87 de artes plásticas, 83 de música, 17 de cinema, além de 97 multidisciplinares. Nesta primeira década, mais de 7 milhões de pessoas visitaram o CCBB BH.

Pertinência

De acordo com Marcello Dantas, um dos curadores, a mostra no Brasil é realizada em um momento histórico muito relevante. “Por ser uma hora em que todos nós estamos questionando o papel da tecnologia, das coisas que criamos para as nossas vidas”, explana.

O pátio do CCBB BH recebe a intervenção “Shylight”, do coletivo Studio Drift (Foto: Patrícia Cassese)

De acordo com Marcello, o ser humano projetou um futuro com mil operações. No entanto, sem fazer algumas reflexões pertinentes a este processo. “A gente não negociou. Achou que poderia, por exemplo, substituir o mundo (tal como se apresentava) por um novo no qual o ser humano poderia colonizar os robôs”. Evidentemente, não é bem assim. “E, na verdade, o grande aprendizado do nosso tempo é que o homem tem que ser capaz de observar os outros”. É nisso que “Studio Drift – Vida em Coisas” concerne.

Manifestação da vida

Ou seja, faz-se necessário que o homem olhe atentamente não só as outras formas de vida, caso das outras espécies, como outras formas de expressão e, não menos importante, os objetos. “Assim, essa exposição serve como um espelhador para a gente conseguir entender que a vida pode se manifestar em qualquer coisa”, reflete Marcello Dantas, sobre “Studio Drift”.

Marcello Dantas explana a jornalistas sobre a obra “Ego”, do coletivo Studio Drift (Foto: Patrícia Cassese)

Não bastasse, ele pondera: “A vida é uma entidade que ultrapassa o mundo animal e o mundo vegetal. Desse modo, a exposição ‘Studio Drift – Vida em Coisas’ é uma maneira de jogar uma ideia e dizer: ‘Existe vida naquela máquina’, por exemplo. Esse processo de aceitação entre nós e as outras coisas”. Aliás, Marcello Dantas lembra que a experiência de colocar sentimentos em objetos já acontece de maneira muito evidente em certas esferas da vida cotidiana, como a religião, instância na qual a fé é aplicada, por exemplo, a imagens de santos (bem como medalhas, terços, máscaras, livros, objetos etc).

Harmonia

A mostra “Studio Drift” amplia, por assim dizer, esse fenômeno. “É um processo de aceitação, de permeabilidade muito grande”, entende Dantas. Este movimento, na verdade, de acordo com Marcello Dantas, ecoa uma busca pela harmonia. “Que talvez seja o que mais a gente precisa (nos tempos atuais). Em vez de viver em uma sociedade em constante conflito, viver em harmonia na sociedade. E o Studio Drift faz uma pesquisa detendo-se inclusive em pequenos gestos simbólicos. Assim, consegue enxergar que pode haver vida numa semente que está sendo germinada, pode haver vida no movimento de um grupo de pássaros”.

“Amplitude”, outra obra da exposição que fica em cartaz no CCBB BH até novembro (Patrícia Cassese)

No caso das coisas inanimadas, há, por parte do coletivo, um olhar para o mundo “natural” que existe no cerne delas, posto que, lembra Marcello Dantas, cada máquina é também provida de uma certa quantidade de matéria orgânica, física. “E como a gente organiza isso? Quer dizer é uma proposição, para a gente conseguir enxergar vida nestes objetos, nestas máquinas. E isso é um pulsar de ideias. Faz com que alguma coisa dentro da gente se agite. O homem pode se achar dentro de um objeto que carrega consigo. Como uma caixinha de música fazia no passado. Estamos falando de uma máquina, mas todo mundo se lembra da primeira vez em que ouviu uma tocar e certamente se encantou com o efeito. Assim, aquele objeto ganhou vida, é isso que está em jogo”.

Do inanimado ao imantado

O curador prossegue: “Essa exposição busca esses pequenos signos que olham para gente. E diz que esse mundo inanimado, na verdade, pode ser imantado de uma aura. De uma aura que as coisas têm. A gente respeita essa matéria, e, assim, consequentemente, a gente vai ver todas as outras coisas que estão nessa cadeia”.

O coletivo

Marcello Dantas conta que o Studio Drift estabeleceu-se em Amsterdã, e, hoje, agrega mais de 50 pessoas trabalhando com o núcleo matricial. “Assim, criando peças cada vez mais, mais e mais sofisticadas”. “O interesse deles (do grupo) é ir flertando com todas as possibilidades de linguagem que a tecnologia pode oferecer. Assim, trabalham com robótica, luz, com modelos 3 D, drones… Ou seja, onde a tecnologia está chegando, sem nenhuma limitação”.

Dantas acrescenta que, em cada cidade pela qual a mostra “Studio Drift – Vida em Coisas” aterrissa, faz questão de inserir uma sala que atua como uma espécie “de making of de como eles trabalham”. “Logo, mostrando quais são os instrumentos que utilizam, os mecanismos, as técnicas que existem por trás do que demonstram. Na verdade, o nascimento de uma nova linguagem, que, ao mesmo tempo, é eletrônica, física, e, também, dança, balé, coreografia. Eu vejo muito o trabalho de uma coreografia”.

Na verdade, ele conta que a obra que está no Pátio do CCBB BH foi originalmente pensada como um balé. “Ou seja, para compor junto com o movimento corporal. São estruturas que também dizem respeito a como a gente interpreta esse nosso pulsar da dança, dentro de coisas que são mecânicas, eletrônicas, físicas”. “Shylight”, informa o catálogo da mostra, nasceu de uma pesquisa de cinco anos dos artistas sobre como mimetizar expressões de personalidade e emoções.

Outras obras presentes na mostra “Studio Drift” (*)

“Dandelight”

Apresenta-se como um trabalho inspirado nos processos trabalhosos que simbolizam a fragilidade da vida. Assim, ergue-se como um manifesto contra a cultura do descarte. A escultura é feita de sementes verdadeiras de dente-de-leão, que são colhidas durante a primavera, na Holanda. Essas são conectadas, uma a uma, a luzes de LED. Uma pequena haste de cobre conecta o LED a uma bateria, que é visivelmente integrada ao design, em vez de ser ocultadas, como de costume.

“Amplitude”

Instalação cinética. Nela, os artistas replicam o movimento universal infinito que encontramos na natureza, como nas ondas do mar. Cada elemento da escultura funciona como um indivíduo que atua em sua própria amplitude, ao mesmo tempo em que opera como um coletivo. Nela, foram usados latão, vidro borossilicato, aço inoxidável e robótica.

“Franchise Freedom”

Documentação em vídeo – Vídeo que mostra uma instalação aérea imersiva, que explora as fronteiras entre natureza e tecnologia. O Studio Drift estudou por mais de dez anos os padrões naturais de voo de pássaros (estorninhos) e os converteu em um software integrado aos drones. De acordo com a pesquisa do coletivo, o comportamento dessas aves é inteiramente orquestrado e sujeito a muitas regras e instintos de sobrevivência.

“Ego”

Obra feita de fibra de náilon, fibra Dyneema, motores, alumínio e, claro, um software. Este foi desenvolvido para possibilitar que oito motores, cada qual com seu algoritmo, desse mobilidade ao bloco no tensionar dos fios, alternando-o entre estados naturais e não naturais. Assim, “Ego” materializa, na mostra “Studio Drift”, a conexão entre performance e instalação, na qual cada edição apresenta uma coreografia única e inédita.

“Banquete”/Campana

Na passagem por Belo Horizonte, a exposição “Studio Drift” contará com a exibição da Cadeira Banquete, criada em parceria com o Estúdio Campana, dos irmãos e designers Humberto Piva Campana e Fernando Piva Campana (este, falecido no ano passado, aos 61 anos).

(*) As explicações destas obras, assim a citação dos materiais utilizados, foram retiradas do catálogo da mostra.

Serviço

Studio Drift – Vida em Coisas

Até 6 de novembro, no CCBB BH (Praça da Liberdade, 450)
O equipamento não abre suas portas às terças-feiras. Nos demais dia, funcionamento das 10 às 22h

A entrada é gratuita. Os ingressos estão disponíveis no site bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB, sendo liberados semanalmente, às quartas, pela manhã.

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