Porque Star Wars: Os últimos Jedi é um grande filme como há tempos não se vê. Não apenas na duração de 2h32 minutos – que você nem percebe passar – mas um trabalho que coloca qualquer espectador em contato com a magnitude que uma sala de cinema pode te oferecer. Repito: qualquer espectador.
Sabe aquele papo da magia do cinema? Pois é. E olha que isso nem tem a ver se a tecnologia é 3D, Imax…
Nos guardados de minha família há uma troca de correspondências na década de 1960 entre um tio e uma tia. Está entre as cartas antigas que minha avó tem como relíquia. Com linguagem adolescente, ele narra à irmã a experiência de ter visto Ben-Hur (1959) em uma sala de cinema. O texto redigido à mão fala menos do filme e mais da magnitude de ter vivido aquela experiência, quase transcendental, arrebatadora para o jovem do interior do Sul de Minas.
Saí da sessão de Star Wars lembrando da experiência do meu tio com Ben-Hur e refletindo sobre as transformações que a indústria do cinema atravessou – e atravessa – desde aquela época. Do quanto a experiência de ver um filme em uma sala escura se tornou banal e, portanto, menos marcante.
Dei essa viajada porque pensei em como mesmo com tantos estímulos (capitalistas, midiáticos, inclusive) que vivemos no universo do entretenimento hoje, Star Wars: Os Últimos Jedi nos mostra que ainda é possível sair arrebatado. E como!
Mais que efeitos
Star Wars é uma franquia historicamente reconhecida por sempre estar à frente do tempo em que seus longas são exibidos. Mais uma vez não é diferente. Os efeitos especiais são impecáveis, mas a força do filme vai muito além deles.
Ela também reside em planos que poderiam funcionar quase como uma instalação de artes plásticas. Não posso detalhar mais para evitar spoilers. O esmero estético está na composição de cada quadro, na movimentação das naves no espaço, na presença de cada personagem, seja ele humano, criatura estranha, robô. Como tudo é muito bem encaixado, não há estranhamento.
Como o Estado de Minas explicou bem, a saga criada por George Lucas e se mantém firme desde a década de 1970 não é um filme de ficção científica. É de fantasia. Gente e criaturas estranhas habitam os mesmos espaços em uma galáxia muito muito distante. A disputa central é entre o Império Galático e o grupo de resistência civil contrário ao totalitarismo do primeiro.
Mas a guerra entre o bem e o mal vai além disso. Como Os últimos Jedi mostra bem, ela pode estar em cada um. Essa dualidade é algo que acompanha diversos personagens ao longo dos 40 anos dessa franquia. Mas você não precisa saber previamente nada disso para se divertir e embarcar nesse filme lançado em 2017.
Estreante em Star Wars
Quem dirige e roteiriza Os últimos Jedi é Rian Johnson, um cara de 44 anos que até então o que tem de mais expressivo no currículo são três episódios da série Breaking Bad. Ah ele também fez o longa Looper: assassinos do futuro (2012), que estreou nos cinemas brasileiros, mas não badalou tanto.
Aposto que muito fã torceu o nariz ao saber que ele seria o substituto de J.J Abrams, o comandante do elogiado O despertar da força. Volto a apostar que os resistentes agora deveriam reconhecer o trabalho do cara.
É nítido o domínio que ele tem da saga. Tem que ter mesmo para conseguir beber na fonte de George Lucas e se manter fiel a ela. Há um nítido trabalho de parceria entre as gerações. Quem conhece muito bem os outros filmes da série me disse que o humor, o sarcasmo e inúmeras referências estão presentes mesmo com a troca de comando.
Fina sintonia
Confesso que nunca fui fã e muito menos conhecedora dos detalhes da saga. Quais os poderes de um Jedi? Qual é o lado sombrio da força? Que força é essa? Eram perguntas que não fazia a menor ideia das respostas. Para quem está no mesmo barco que eu, vale contar que o roteiro de Johnson cuida muito bem da gente sem ser didático, prolixo ou mesmo bobo.
As informações aparecem inseridas nos novos conflitos que os personagens convocados para Os últimos Jedi nos apresentam. Luke Skywalker (Mark Hamill), Princesa Leia (Carrie Fisher), Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac) e outros.
Um dos méritos de Rian Johnson (e a fina sintonia com o criador mor George Lucas) foi ter conseguido fazer um filme que é reverente ao próprio passado sem fazer com que isso seja pré-requisito para que novos públicos se aconcheguem. Quem desfila com sabres de luz pelas redondezas dos cinemas de shopping pode até perceber mais detalhes do que quem não faz a menor ideia do que é um Jedi ou um Stormtrooper. Isso não significa, porém, que a experiência de quem não conhece nada seja menor. Ela é, apenas, diferente.
Crítica x fãs
Star Wars: Os últimos Jedi é o filme melhor avaliado na semana entre a crítica no Rotten Tomatoes. A polêmica plataforma agregadora de críticas ostenta o percentual de 93% fresh, o que significa que a média total é superior a nove, o que é muito para os padrões de lá. A média é feita a partir da análise de 262 críticas. Destas, 243 são positivas e 19 negativas.
No IMDB, outra famosa plataforma utilizada pelos amantes do cinema, a nota do filme é 8,1 em 10. Por sua vez, a média no Metacrític é 86/100. Ou seja, a estreia de Rian Johnson no comando da saga passou no teste da crítica. Já não podemos dizer o mesmo entre os fãs.
É curioso. Tanto no Rotten Tomatoes como no Metacritic a avaliação do público é bem pior. Ops, estamos diante de um conflito crítica x público? Ainda é cedo para fechar a questão.
Com todo respeito aos fãs feridos, Star Wars: Os últimos Jedi fez com que a saga interestelar ganhasse mais uma fã. Que a força esteja com todos nós!