Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Festival Solos Dissidentes realiza a primeira edição em BH

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 De 13 a 18 de maio, a primeira edição do Festival Solos Dissidentes ocupa diferentes espaços culturais da capital mineira

Dos dias 13 a 18 de maio, Belo Horizonte recebe a primeira edição do Festival Solos Dissidentes, um projeto voltado para a difusão e fruição de obras cênicas com o recorte de solos de artistas mulheres, LGBTQIA+, negres, indígenes, PCDs e obeses. De antemão, a programação reúne atividades de cunho artístico e formativo – ou seja, apresentação de espetáculos, residência artística com mostra de processo e, ainda, uma rodada de negócios. O evento vai ocupar cinco espaços: a Toca da Cutia, o Memorial Minas Gerais Vale, a Zap 18, o Espaço Aberto Pierrot Lunar e, tal qual, o C.A.S.A.

A programação oferece apresentações sobretudo gratuitas ou a preços populares (R$20 inteira/R$10 meia). A compra dos ingressos, assim como retirada de senhas para atrações gratuitas, pode ser realizada antecipadamente no Sympla.

Cena de "Bípede Sem Pelo", um dos espetáculos previstos no Solos Dissidentes (Carol Pires/Divulgação)
Cena de "Bípede Sem Pelo", um dos espetáculos previstos no Solos Dissidentes (Carol Pires/Divulgação)

Residência

Concebido em parceria por Cris Diniz e De Jota, o Festival Solos Dissidentes teve a programação constituída predominantemente através de convocatórias. Foi o caso, por exemplo, da residência artística que será realizada durante os seis dias de programação. Entre março e abril deste ano, o Festival recebeu propostas de residências de artistas de diferentes estados do Brasil e de fora do país. A seleção chegou ao nome de Nayara Leite, artista mineira que conduzirá a residência “Onde seu umbigo está enterrado?”. Ela vai promover uma imersão de seis dias nas tradições orais, inspiradas pela cerimônia de enterramento do umbigo.

A residência no Solos Dissidentes, da qual os participantes também foram selecionados por edital, acontece nas manhãs dos dias 13 a 18 de maio, na Toca da Cutia. E vai culminar em uma mostra na tarde do dia 18, no C.A.S.A..Ou seja, cada participante apresentará uma cena curta fruto da experiência vivida. “A tradição de enterrar o umbigo é um exercício epistemológico ancestral, de estratégia de sobrevivência. Assim, guarda, em sua simbologia, a luta pelo direito de pertencer a algum território”, explica Nayara.

Espetáculos

Outra convocatória realizada pelo Festival Solos Dissidentes foi a destinada a compor a programação de espetáculos. Desse modo, foram 82 propostas artísticas de 16 estados brasileiros. Assim, foram cinco selecionadas. Entre elas, “O Menino do Olho que Vê”, solo do artista mineiro e pessoa com deficiência visual Dudu Melo pela Pigmentar Companhia de Teatro. Sendo assim, ele revive memórias de infância, conduzindo o público a uma viagem no tempo. Nesta narrativa, pois, o artista/menino descobre a vida e, assim, revela seus sentimentos mais profundos.

Já “ABismo”, da atriz e dramaturga Amora Tito pela Breve Cia, aborda questões diretamente ligadas aos atravessamentos que passam por uma corpa em processo de transição. Ou seja, como é estar à beira de uma sociedade transfóbica e racista. “Loa”, de Flavi Lopes, é um solo de dança no qual a artista primordialmente saúda povos ancestrais afro-latinos, performando elementos de suas culturas. Por seu turno, “Planeta Só Terra”, com Cinthia Vendruscolo pela ATUACIA (Ribeirão Preto) é um solo de palhaçaria. Foi estruturado sobretudo a partir de um assunto que permeia toda a vida humana: a água e, tal qual, a falta dela.

Em “Bípede sem Pelo”, Alexandre Américo (RN) celebra uma década de trajetória tendo, como inspiração, a natureza afro-centrada. Tal qual, a conexão com o solo a partir de manifestações culturais da terra.

Convidados

Além dos espetáculos selecionados, o Festival Solos Dissidentes contará com dois trabalhos convidados. A primeira apresentação do Festival fica por conta de Panamby (SP) que traz, a BH, a performance “Cantos Escuros”. Com a proposta de habitar espaços entre a luz e a escuridão, o trabalho parte da escuta profunda para evocar cantos. Desse modo, amplifica sons e tempos através da voz e improvisação livre em composição com os sons do ambiente.

Já “Teatro Decomposto” é um espetáculo solo de Dê Jota, um dos coordenadores do Festival Solos Dissidentes, criado para sua Cia Dois em Um. Em cena, o ator apresenta a leitura da obra de mesmo nome, de autoria do romeno Matéi Visniec. Trata-se de um trabalho que vai do grotesco ao absurdo em situações que hibridizam poeticamente universos urbanos e animais. Assim, há0 uma síndica que se queixa a um condômino sobre um cavalo avistado de seu apartamento. Tal qual, a invasão de uma cidade por borboletas carnívoras. Do mesmo modo, um homem que se aprisiona em um círculo de giz.

Solo, mas não só

A organização da iniciativa lembra que “Dissidência” é um termo relacionado à diversidade. “Dissidente é a pessoa que diverge de uma norma, um padrão, um discurso que é imposto sobre os demais”. Assim, o Festival Solos Dissidentes surge com o intuito de promover, através des solos, identidades múltiplas, variadas, diversas. “O projeto tem um caráter anti racista, anti capacitista, anti gordofobia, antimachista, antilgbtqiapn+fóbico e contra qualquer preconceito que oprime corpos e existências múltiplas”.


O material alusivo ao projeto lembra que, se no início a ideia de um solo carrega a imagem da solidão individual em cena, o formato, por outro lado, permite explorar as facetas mais únicas e singulares de quem o realiza. O texto enviado à imprensa lembra que a palavra festival faz referência essencialmente a uma grande reunião em festa, celebração. Nesse sentido, o Solos Dissidentes, ao se basear nas diferenças, busca, desse modo, e primordiamoente, coletivizar a dissidência. Assim, encontrando, na soma das individualidades, um conjunto mais heterogêneo e amplo, bem como representativo da diversidade que existe tanto no setor artístico quanto na própria sociedade.

Rodada de negócios

Além da residência artística e dos espetáculos apresentados em sua programação, o Festival Solos Dissidentes também traz uma Rodada de Negócios. Desse modo, o projeto visa difundir artistas e trabalhos que se desenvolvam a partir das dissidências. Assim, a rodada promoverá o encontro de artista previamente convidades com curadores e programadores de mostras e festivais, bem como de outros eventos teatrais de diferentes regiões do Brasil.

Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Programação

Festival Solos Dissidentes

Residência Artística

“Onde seu umbigo está enterrado?”, conduzida por Nayara Leite
de 13 a 18 de maio, segunda a sábado | de 8h30 às 12h na Toca da Cutia

Mostra: Dia 18/05, Sábado, de 17h às 18h30 no C.A.S.A.

A residência é dedicada a pessoas previamente inscritas e selecionadas através de convocatória. A mostra é aberta ao público, com ingressos disponíveis no Sympla

Espetáculos do Solos Dissidentes

15 de maio – Quarta-feira

Cantos Escuros | com Panamby
de 19h às 20h no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640)
Entrada gratuita. Sujeita à lotação do espaço

Teatro Decomposto | com Dê Jota (Cia. Dois em Um)
de 20h às 21h no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640)

Entrada gratuita. Sujeita à lotação do espaço

16 de maio – Quinta-feira

O Menino do Olho que Vê | com Dudu Melo (Pigmentar Cia de Teatro)
de 19h às 20h no Espaço Aberto Pierrot Lunar (R. Ipiranga, 137 – Floresta)
Ingressos R$ 20 (inteira) E R$ 10 (meia)

17 de maio – Sexta-feira

ABismo | com Amora Tito (Breve Cia.)
de 19h às 20h na Zap 18 (R. João Donada, 18 – Santa Terezinha)
Ingressos R$ 20 (inteira) E R$ 10 (meia)

Loa | com Flavi Lopes
de 20h às 21h na Zap 18 (R. João Donada, 18 – Santa Terezinha)
Ingressos R$ 20 (inteira) E R$ 10 (meia)

18 de maio – Sábado

Planeta Só Terra | com Cinthia Vendruscolo (ATUACIA)
de 19h às 20h no C.A.S.A. (R. Himalaia, 69 – Vale do Sol, Nova Lima)
Ingressos R$ 20 (inteira) E R$ 10 (meia)

Bípede sem Pelo | com Alexandre Américo
de 20h às 21h no C.A.S.A. (R. Himalaia, 69 – Vale do Sol, Nova Lima)

Ingressos R$ 20 (inteira) E R$ 10 (meia)

Todos os espetáculos do Solos Dissidentes contarão com interpretação em Libras e Audiodescrição. As apresentações serão seguidos de bate-papos sobre seus processos de criação.

Rodada de Negócios Solos Dissidentes

18 de maio, Sábado, de 14h às 16h30 no C.A.S.A.

A rodada de negócios é dedicada a pessoas previamente inscritas.
As inscrições podem ser realizadas pelo link

Serviço

Festival Solos Dissidentes

Residência, espetáculos e rodada de negócios

De 12 a 18 de maio, em diferentes espaços culturais
Informações e ingressos clique aqui
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