É muito bonito ver um artista que está no palco para uma real troca com a plateia. É essa a sensação mais marcante depois de ver o encontro de Devendra Banhart e o público de BH. Não que ele tenha feito “o” show diferentão. Foi até bem comum, mas foi de verdade, foi generoso e, assim, muito especial para quem estava ali.
Devendra Banhart não faz música para multidões. Seu indiefolk é nicho. Isso significa que o público que marcou presença no Music Hall conhecia o som daquele americano, criado na Venezuela, que fala português. Domina o nosso idioma de maneira bastante digna e mesmo assim pede desculpas por não se comunicar com a plateia como gostaria.
Simpatia e simplicidade marcaram todas as vezes que falou com o público. Quis saber se a luz estava “confortável” para todo mundo, se o som estava de acordo (poderia ter sido melhor, mas rolou!), e até quais músicas a galera gostaria de ouvir no improviso. Hora em que apareceu o músico virtuoso que Devendra também é.
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Teve também o momento de generosidade mor quando quis saber se havia na plateia algum compositor que nunca teve oportunidade de subir ao palco. Lá foi o Arthur Melo assumir a guitarra de Devendra e o palco. No dia seguinte ao show já tem até gente pedindo link para a página do rapaz no evento do show no Facebook.
MÚSICA
Foram duas horas e meia de performance. O show promovido pela plataforma Queremos foi da turnê de Ape in Pink Marble, lançado em 2016. As canções do novo álbum marcaram presença mas não dominaram o setlist.
Saturday Night – o sucesso do novo disco – abriu o show mas confesso que comecei a curtir mais a partir de Baby, hit do disco What will we be (2009). Mais até do que o trechinho de My sweet lord, do Beatle George Harrison que apareceu antes.
As canções do novo disco conviveram muito bem com faixas mais populares no Spotify que também não ficaram de fora: Mi negrita, Never seem such good Things, Daniel (as três do disco Mala (2013) e Carmensita (de Smokey Rolls Down Thunder Canyon, 2007). Nesta última a galera se exaltou mais.
Banhart é um cara simples. Muito. Mesmo tímido, depois do show voltou ao palco para atender os fãs que esperavam por ele. Chamou a atenção o carinho e o interesse pelas histórias de quem estava ali. Recebeu discos de artistas independentes, assinou cartazes, copos. Perguntou, ouviu, conversou, tudo na medida do possível.
Esse corpo a corpo final dos artistas com seus fãs é sempre revelador. No caso, um artista que não tem nada de estrelismo e uma disponibilidade genuína de se conectar com as pessoas.