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Música

Show de Roger Waters a partir da experiência de quem não pode ver

Foto: Eugênio Gurgel/ T4F Divulgação

Um dia depois do show de Roger Waters, enquanto ainda tentava elaborar alguma coisa sobre o show, toca o telefone e, do outro lado, Danilo Bayão. Formamos em jornalismo juntos e, como é muito frequente, cada um seguiu seu caminho. Vez ou outra nos encontramos.
O telefonema foi justamente para comentar do show. Ambos estávamos encantados com o espetáculo. Mas, apesar de muito empolgado, Danilo me fez pensar sobre como o show era mesmo inacessível para quem não pode ver. As imagens, a força visual são grandes diferenciais. Bem, diante disso, fiz o convite para que ele narrasse a própria experiência em um texto que você pode conferir a seguir.

Por Danilo Bayão

A Carolina foi muito feliz quando disse que experiências são feitas para serem vividas e não descritas. Porém, também quis falar um pouco de como um show, que tem como diferencial imagens em um telão, atinge uma pessoa deficiente visual total, como eu. Para mim, foi extraordinário, inesquecível o show de Roger Waters. Eu tinha o desejo de assistir a um show dele.
Tenho 41 anos. Gosto demais de frequentar o Mineirão para assistir aos jogos do Cruzeiro. Nessas ocasiões, levo um rádio para ouvir o jogo. Então, mesmo sem enxergar, participo ativamente do espetáculo. Ao contrário do show do dia 21 de outubro de 2018 que não tinha algum dispositivo para me descrever a tela. Contei com a boa vontade dos amigos.
Desde adolescente, época que ainda não gostava muito de rock, o Pink Floyd já se fazia uma exceção. Sempre venerei as músicas e os arranjos, requintadamente elaborados,  que beiram a perfeição. E, quando saiu a notícia de que Roger viria à BH, Lívia (minha personal trainer)  e eu ficamos loucos para compartilharmos juntos esse momento.

Foto: Eugênio Gurgel/ T4F Divulgação

Experiência

Ao chegarmos no estádio, percebi uma energia muito especial, totalmente diferente daquela dos dias de jogos. A sensação de estar na pista já era muito gostosa, porque estava justamente no meio da multidão. Contudo, o momento tão esperado chegou. O telão ligou e a Lívia começou a me descrever a cena da menina de costa para a plateia de frente para o mar. Ainda nesta cena, fiquei impressionado com a pureza do som. Ouvia com perfeição o som do vento batendo no capim.
A Carolina novamente foi muito feliz ao dizer que o som nos abraça. Simplesmente, o som nos envolve e nos leva para um momento perto de Deus. Senti-me extremamente em paz comigo mesmo.
Ao decorrer do espetáculo Lívia e e seu amigo Alex iam me descrevendo tudo que acontecia no telão. Durante o intervalo eles leram todas as mensagens para mim. E quando Roger fazia gestos ou movimentos relevantes eles me contavam. Penso que o fato de eu não enxergar não foi empecilho para que eu curtisse tudo que um espetáculo desse patamar tem a oferecer.
Por isso, posso concluir que foi uma noite muito especial, porque estava assistindo a um show que há muito tempo queria com a ajuda da coisa mais importante de minha vida. Ou seja: meus amigos.
Obrigado Roger
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