Produção francesa da Max, “A Confidente” conta a história de uma golpista que se fingiu vítima dos atentados ao Bataclan, em 2015
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Tem horas em que a realidade é realmente capaz de superar a ficção. É o que mostra a série francesa “A Confidente”, de Just Philipppot, que pode ser acessada na Max. Com apenas quatro capítulos, a narrativa estrelada por Laure Calamy (a Noèmie, da série “Dix Pour Cent”) é livremente inspirada no livro “La mythomane du Bataclan”, de Alexandre Kauffmann. Que, por sua vez, é baseado na história verídica de uma mulher, Florence M. Após os ataques terroristas de 2015 ocorridos em Paris e Saint-Denis (que incluíram o do Bataclan, que deixou dezenas de mortos, principalmente, jovens, que assistiam a um show do Eagles of Death Metal), Florence atuou durante um bom período em uma organização de apoio às vítimas.
Detalhe: ela foi admitida primeiramente por sustentar a existência de “um melhor amigo” que estaria em coma após o ataque ao Bataclan. Era mentira. Flo, como se tornou conhecida, também se inscreveu no Fundo de Garantia para Vítimas de Atos de Terrorismo e Outros Delitos (FGTI). No caso, ela alegava estar no Bataclan no momento do ataque. Assim, passou a reivindicar o valor de 25 mil euros do fundo, como aparece na série “A Confidente”.
Mitomania
Bem, basta lembrar que, recentemente, na tragédia que assolou o Rio Grande do Sul, notícias de pessoas que aproveitaram a comoção nacional para desviar dinheiro de doações também foram parar nos jornais. Aliás, à época, o próprio governador do estado, Eduardo Leite (PSDB) tratou de ir às redes sociais para, em vídeo, alertar os interessados em ajudar quanto a existência de “aproveitadores que usam da sensibilidade das pessoas”.
No entanto, em “A Confidente”, mais que uma vigarista, a série mostra uma personagem com nuances de problemas psicológicos sérios. Como a compulsão por mentiras. Ou seja, a mitomania citada no título do livro inspiradora da eletrizante série. Bem, basta acessar o Google e pesquisar para chegarmos a várias descrições do transtorno. No site do Instituto de Psicologia da USP, por exemplo, temos há uma boa definição. Lá diz que a mitomania é a compulsão pela mentira, contada de forma consciente. Muitas vezes, tem por objetivo a autoproteção. Assim, há um falseamento da realidade, de maneira a fazê-la parecer melhor.
“Mytho”
Aliás, na plataforma Netflix, há uma minissérie, fictícia, e também francesa, sobre uma mulher que apresenta o quadro apontado em “A Confidente”: “Mytho”, de Fabrice Gobert e Anne Berest. Nela, a personagem principal, Elvira (Marina Hands), inventa, para a família, estar com uma doença grave. Mesmo assim, provavelmente uma pergunta se fará mais recorrente na mente do espectador no decorrer dos capítulos. “Como Christelle, a personagem de Calamy, pode ter a coragem de agir assim?”
Isso porque a protagonista monta cronogramas com depoimentos das vítimas reais dos atentados, de modo a ensaiar situações. Tal qual, cria um perfil na rede social mais usada à época – o Facebook – do suposto amigo, com uma foto de um namorado do passado. Não bastasse, começa a se passar pelo tal “amigo”, de nome Vincent, até mesmo para flertar com uma colega da associação. Para justificar ainda mais o título em português (o original é “Une Amie Dévouée”), ela também se torna confidente de uma das vítimas, Émilie (Annabelle Lengronne). O que irrita sobremaneira o marido dela, já que ele fareja que algo não se encaixa na história. Principalmente, a partir de uma situação vivida pelo filho do casal com Chris.
“Terror em Paris”
Em tempo: a já citada Netflix – por abrigar a série “Mytho” – também abriga uma iniciativa fantástica – no caso, documental, sobre os atentados de 2015 em Paris. A série “13 de Novembro – Terror em Paris” reúne relatos de sobreviventes e integrantes das equipes de emergência, além do próprio então presidente, François Hollande. A iniciativa leva a assinatura de Jules e Gédéon Naudet, que já haviam levado um Emmy pelo documentário sobre os ataques de 11 de setembro em Nova York, “9/11”. Os irmãos, vale lembrar, estavam em Nova York quando ocorreram os ataques por avião. À época, eles capturavam cenas para um documentário sobre um bombeiro estreante perto do World Trade Center e, assim, conseguiram imagens impactantes.
Os ataques
Na noite de 13 de novembro de 2015, três grupos de terroristas desencadearam uma série de ataques em Paris e em Saint-Denis, nos arredores da capital. Três jihadistas se incumbiram dos ataques suicidas nas proximidades do Stade de France, onde ocorria uma partida de futebol entre as seleções da França e da Alemanha. Do mesmo modo, outro grupo (composto, no mínimo, por três pessoas) atacaram cafés e restaurantes no nordeste de Paris. Enquanto isso, três terroristas tomaram reféns na sala de espetáculos Bataclan. Cento e trinta pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas. Fonte: Agência Brasil.
Confira, abaixo, o trailer