Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Semana de Cinema Negro dá início à quarta edição do evento

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Até o dia 20 de setembro, a Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte exibe filmes, rende homenagens e traz debates e atividades formativas

A 4ª Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte começa nesta sexta-feira, dia 13, no Cine Humberto Mauro/ Palácio das Artes, e segue até dia 20 de setembro, ocupando também o Cine Santa Tereza. A programação inclui mostras de filmes nacionais, internacionais, debates e atividades formativas. E, ainda, sessões com filmes contemporâneos de cineastas brasileiros, homenagens, cinemas africanos e caribenhos. O festival acontece em formato híbrido, com exibições presenciais e online. A programação, que é integralmente gratuita, também estará no Cine Santa Tereza, a partir do dia 19 de Setembro.

A abertura oficial conta com o filme “Twice In The Oblivion” (“Duas Vezes Esquecido”), do diretor haitiano Pierre Jean Michel. O longa narra a história ocorrida em 1937, quando o ditador dominicano Rafael Trujillo ordenou o massacre de mais de 20 mil imigrantes haitianos na República Dominicana.

A abertura oficial da Semana de Cinema Negro traz "Twice In The Oblivion" (Duas Vezes Esquecido), do haitiano Pierre Jean Michel (frame)

Caribe

O festival contará com duas mostras dedicadas ao cinema no Caribe. “Arquipélago de Cinemas: filmes contemporâneos do Caribe” traz três documentários. A outra é “Revolucionária antes de tudo: o cinema de Sara Gómez”. O material de divulgação da mostra lembra que a restauração recente do clássico “De Certa Maneira’ (1977) reavivou o interesse de pesquisadores e do público pela obra da cineasta. O filme será exibido no Cine Santa Tereza.

A restauração recente do clássico “De Certa Maneira” (1977) reavivou o interesse pela obra de Sara Gómez (Frame)

Muitas Áfricas

Nesta edição, também será apresentada a mostra “Muitas Áfricas: um olhar sobre produções contemporâneas do continente”. Quatro filmes integram a seleção. No caso dos documentários, “Omi Nobu” (2023), do cabo-verdiano Carlos Yuri Ceuninck, que faturou o prêmio principal do FESPACO 2023, e “Nós, Estudantes!” (2022), de Rafiki Farial. Este último apresenta uma reflexão sobre a realidade de estudantes universitários em Bangui, capital da República Centro-Africana.

Na esfera da ficção, está o tanzaniano “Tug Of War” (Cabo de Guerra) (2021), de Amil Shiv. O filme é baseado em romance homônimo de Shafi Adam Shafi, e conta uma história de amor e política durante os últimos anos coloniais de Zanzibar. Já “Nome” é último filme de Sana Na N’Hada, cineasta que figura entre os pioneiros do cinema em Guiné-Bissau. A produção revisita os anos de juventude do diretor e a luta contra o exército colonial português de 1969 a meados da década de 1970.

Pioneiros dos Cinemas Africanos

Em 2024, a Semana dá sequência à linha curatorial que a caracteriza desde a primeira edição, ou seja, a proposta de celebrar pioneiros do cinema na África. Dessa vez, conjuga a crítica do cotidiano presente em dois filmes de Paulin Vieyra (Benin/Senegal) com as explorações dos traumas psicológicos e do imaginário místico de Timité Bassori (Costa do Marfim).

Abrindo Caminhos

A mostra Abrindo caminhos: obras precursoras dos cinemas negros no Brasil é outro ponto alta da Semana de Cinema Negro. Segundo a curadora Janaina Oliveira, a inspiração para esse programa vem do gesto agregador de Zózimo Bulbul quando em 2006 lança um DVD com “Obras Raras: O Cinema Negro na Década de 70″. Por este motivo, além de “Um é pouco, dois é bom” (1970), de Odilon Lopes; “Na Boca do Mundo” (1976), de Antônio Pitanga; “As Aventuras Amorosas de um Padeiro” (1978), de Waldir Onofre; a seleção traz “Abolição” (1988) único longa de Bulbul.

O ator e diretor Antônio PItanga em cena de “Na Boca do Mundo” (Frame)

A proposta da curadoria foi louvar os diretores e os filmes que, de maneiras diferentes, lançaram as bases para o florescimento das produções negras no cinema do Brasil. No entanto, até recentemente, tais diretores tinham tido a sina desoladora de terem dirigido somente um longa. O marcador será quebrado em outubro de 2024, quando Antônio Pitanga lançará “Malês”, seu segundo longa de ficção.

Lilian Solá Santiago

A Sessão Homenagem Maria José Novais Oliveira celebra Lilian Solá Santiago, documentarista, roteirista, pesquisadora e professora-cineasta. Autora de documentários premiados, Lilian trabalha na encruzilhada da história com o cinema. Assim, se aproxima das memórias negras para criar suas imagens com uma escuta sensível e perspicaz. O público poderá usufruir de uma conversa presencial dela com a curadora da mostra Alessandra Brito. Essa sessão conta com recurso de acessibilidade (legendas descritivas) e a conversa, com intérprete de Libras.

A documentarista, professora e pesquisadora Lilian Solá Santiago (Foto: Inaê Coutinho/Divulgação)

Cine-Escrituras Pretas

A mostra de filmes brasileiro Cine-Escrituras Pretas é um dos destaques da programação, por apresentar obras contemporâneas de realizadores negros brasileiros. Via chamamento público, foram cerca de 220 inscrições de filmes de diversas regiões do Brasil. Assim, uma equipe selecionou 23 filmes, sendo 22 curtas e um longa. A curadoria é de Anti Ribeiro, Fabio Rodrigues Filho e Yasmine Evaristo.

Os filmes da mostra Cine-Escrituras Pretas estarão disponíveis online na plataforma Ubuplay (ubuplay.com), a Plataforma de Streaming destina-se aos filmes realizados por pessoas negras dos países afrodiaspóricos.

Para as crianças

Para o público infantil, a Semana do Cinema Negro realiza a mostra Ibejis. Nela, serão apresentados 17 curtas-metragens. O festival convidou a curadora Kalor Pacheco, realizadora da mostra Além-Mar, que nasceu em 2022, no município de Camaragibe (PE) e Territórios Aliados, com o objetivo inicial de mapear e divulgar produções animadas feitas por pessoas negras e originárias. Os filmes são conteúdos infantis intrigantes, videoartes, entre outros formatos.

Atividades Formativas

Em 2024, a Semana renova parceria com o Fórum Itinerante de Cinema Negro para realizar mais uma edição Políticas do Olhar – Diálogos sobre Curadoria e Descolonização. Constitui-se em uma série de conversas ao vivo com curadores de cinema da África e das diásporas, criada por Janaína Oliveira em 2019. O Políticas do Olhar parte da constatação de que, nos últimos anos, os debates sobre curadoria em cinema têm se tornado cada vez mais frequentes nos festivais do Brasil e do mundo.

E que, no centro deste movimento está a compreensão de que as curadorias, para além das dimensões artísticas e criativas, são também lugares de exercício de poder. Ou seja, impactam diretamente nas trajetórias de filmes, na formação das plateias e no universo da crítica cinematográfica.

Ao conversar com curadores da África e da diáspora, a série pretende explorar os meandros imbricados no trabalho de curadoria. Tal qual, inspirar novas gerações de amantes de cinema que aspiram se dedicar à atividade. Esse ano o Políticas conversa com Jonathan Ali, programador de cinema, curador e escritor, que desde 2016 é diretor de programação do Third Horizon Film Festival de Miami. A atividade conta com tradução consecutiva do inglês para o português.

Masterclass

Haverá, ainda, Masterclass de Direção de Atores, ministrada por Georgina Castro, que é atriz, roteirista e preparadora de elenco. Desse modo, os participantes serão convidados a entrar em uma imersão prática dentro do processo de direção de atores e preparação de elenco. Isso, a partir de exercícios de cena, visando promover diálogos sobre essa etapa de trabalho tão fundamental para a qualidade de uma obra audiovisual. Esta atividade acontece em parceria com o Projeto Paradiso. As inscrições vão até o dia 15 de setembro (segunda-feira). Saiba mais clicando aqui.

Para fechar, ocorrerá a oficina Oficina Fragilidades: desenvolvimento de longa-metragem, onde Paula Santos e Bruno Hilário irão apresentar conteúdo um aprofundado sobre a formatação e o desenvolvimento de projetos de longa-metragem, considerando contextos descentralizados de realização. As inscrições vão até o dia 13 de setembro (sexta-feira), através do link.

A semana se expande

Além da programação de filmes, nesta edição, o evento conta com música e artes, por meio da parceria com o Gira da Quebrada. Trata-se de um projeto que busca transitar pela música, dança e poesia. Assim, oferece desde sets de música, que transitam pelas sonoridades afro, até performances de dança, moda, culinária, intervenções poéticas etc. O grupo segue a filosofia “Nós por nós”.

Esse ano a identidade visual do festival é composta por obras da artista Ana Paula Sirino. Nascida em Sabinópolis, Ana desenvolve uma pesquisa com fotografia e pintura. E apresenta pinturas com personagens, elementos, paisagens e relações de cenas que despertam familiaridade e nostalgia por uma permanência de memória, de quem vive ou viveu em contexto de aquilombamento ou afastado dos grandes centros.

Serviço:

4ª Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte

Quando. De 13 a 20 de setembro de 2024

Onde. Cine Humberto Mauro/Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro) e Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89)

Quanto. Gratuito 

Mais informações sobre a programação:

Instagram: https://www.instagram.com/semana.cinemanegrobh/

Site: www.semanadecinemanegro.com.br

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