
Foto: Pablo Bernardo / Divulgação
Nascida no interior paulista, a atriz Lucimélia Romão, mudou-se para Minas, há seis anos. Veio exclusivamente para cursar teatro na Universidade Federal de São João Del Rei. Durante suas andanças e com o crescente desejo de estudar teatro negro, chegou até Belo Horizonte, precisamente na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi assim que ela conheceu a SegundaPRETA, projeto realizado no Teatro Espanca!, no centro de BH. De frequentadora assídua, virou parte das atrações, apresentando-se duas vezes. Encontro que foi um divisor de águas na vida dela.
“Comecei a frequentar a primeira edição, em 2017. Depois, em 2018, apresentei a cena Olha o Pesado Aí e em 2019 a peça Mil Litros de Preto: a Maré Está Cheia. Vim para BH estudar teatro negro e dentro da universidade não encontrei o que procurava. Dessa forma, na SegundaPRETA pude entender o que era o teatro negro. Foi lá que consegui direcionar meu trabalho, me encontrar como pessoa e artista. Abriu portas para ingressar em outros projetos”, conta a atriz.
E a não é só a vida da atriz que já foi impactada pelo projeto. Desde sua fundação, em 2017, já passaram pelo palco da segundaPRETA mais de 100 espetáculos/cenas curtas/performances/experimentos cênicos que atraíram um público de cerca de 4.800 pessoas. Em síntese, impacto real na cidade, na arte, no teatro e na vida de muitas pessoas. Tudo surgiu após o encontro de várias pessoas negras que discutiam a invisibilidade de seus corpos em Belo Horizonte.

Lucimélia Romão apresentou a cena Olha o Pesado aí na terceira edição do projeto – Foto: Pablo Bernardo / Divulgação
Onde tudo começou
“Em 2015, reunimos uma galera no Rolezinho Nome Provisório, durante o Festival de Cenas Curtas, e começamos a discutir a participação das pessoas nas políticas públicas. Depois fizemos algumas reuniões para enviarmos algumas propostas para secretaria estadual de cultura, mas nada foi aceito. Mais pessoas agregaram ao grupo. Como integrante do Espanca!, em 2017, vi que o espaço estava vazio nas férias, reunimos os artistas e começamos com a SegundaPRETA, baseada na TerçaPRETA, realizada em Salvador”, relembra Alexandre de Sena, um dos articuladores do projeto desde o início.
Da semente plantada até hoje, já são três anos de luta e resistência. Projeto chega agora à sua nona edição. Primeira delas realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, e conta com patrocínio do UNI BH, instituição que acreditou no projeto e vem apoiando a cultura na cidade, inclusive como patrocinadora do Culturadoria. O chamamento das inscrições foi realizado neste mês e a nova edição será realizada de 9 de março a 13 de abril, sempre às segundas, às 20 horas no Teatro Espanca!.
Encontro, reflexão e troca
“A SegundaPRETA tem sido muito importante para gente sentar, ver cenas e conversar. Para os artistas pretos é de suma importância, um lugar que ele aprende, apresenta e se vê. Sai da visão de olhares brancos e eurocêntricos que estão acostumados a serem julgados. Além disso, é importante para o público negro que começa a se ver. Somos a luta contra invisibilidade e sobrevivência”, Afirma Alexandre.
Sendo assim, o projeto é um desejo coletivo de se ter um espaço em que os artistas negros possam mostrar as artes deles e, também, estabelecer diálogos e críticas acerca da cena contemporânea negra. Um lugar de encontro, reflexão, troca de experiências e afetos. Dessa forma, tem a criação e a produção atravessadas pelo debate sobre a raiz cultural eurocentrada da linguagem cênica.

SegundaPRETA ocupa ao Teatro Espanca! desde 2017 – Foto: Pablo Bernardo / Divulgação
Legado para a cidade
A Mestre em Comunicação, professora, pesquisadora e atuante no setor audiovisual, Tatiana Carvalho Costa, conheceu o projeto há dois anos e meio em um dos encontros. Sentiu-se impactada. “Nunca tinha visto em BH um grupo multidisciplinar fazendo produção artística e criar uma estrutura para outras pessoas, além deles mesmo. Foi algo que achei revolucionário. Sendo assim, decidi ser atuante. Foi algo que impactou na minha vida e de outras pessoas”, conta.
No projeto, participa como mediadora de debates, na bilheteria, na limpeza do espaço, ajudou na construção do projeto de lei e faz um monte de coisa. “A ideia é de ser um como um lugar de resistência, potência e acolhimento. Distribuímos a renda de bilheteria igual para todo mundo. Dessa maneira, cada um participa do processo do jeito que pode”, salienta.
Para Tatiana, a SegundaPreta foi importante para ela compreender a constituição de uma rede de apoio e para entender melhor o papel dela como mulher negra na contemporaneidade. “Para a cultura da cidade, o projeto trabalha na contramão do que a cultura de BH oferece, que é excludente. Onde a maioria da população negra não se vê constantemente em espaços de cultura. Arte na segundaPRETA é deixa um legado para a arte, para a cidade e para os artistas. É um lugar de acolhimento e risco para pessoas que querem experimentar. Aqui a gente se fortalece”, afirma Tatiana.
Sendo assim,
Dessa maneira,
por exemplo,