Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Exposição “Jonas” resgata a memória da saudosa artista Raquel Schembri

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Em cartaz na Escola Guignard, “Jonas” destaca uma seleção cuidadosa da última produção de Raquel Schembri

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Nascida em Belo Horizonte, em 1984, e formada em Artes pela Escola Guignard, Raquel Schembri logo se destacou na cena artística belo-horizontina pelo seu indiscutível talento. Ela, que também estudou na Akademieder Bildenden Künste München, em Munique, participou, ainda, de duas residências artísticas em Suwon, na Coreia do Sul. Tal qual, de exposições coletivas na Sérvia, Itália, Alemanha, Uruguai e na Inglaterra. Não bastasse, levou seu trabalho a respeitadas feiras de arte, como a Scope New York e a Affordable Art Fair Singapore. Isso, entre outros feitos – as informações sobre a carreira dela estão disponíveis no site da JA.CA – – Centro de Arte e Tecnologia, onde, em 2013, Raquel participou do Programa de Residências Nacionais.

Imagem com algumas das obras da artista Raquel Schembri (1984-2016) (Acervo da artista)

Infelizmente, porém, Raquel Schembri partiu cedo – em 2016, logo após dar à luz a filha, Marta. Sua última individual havia ocorrido no Palácio das Artes, em 2010. No entanto, nos seus últimos anos de vida, Raquel estava preparando obras para uma exposição individual em São Paulo. Passados oito anos da partida, Raquel é saudada agora com a mostra “Jonas”, recém-inaugurada na Guignard – em cartaz até 20 de setembro de 2024. A ideia é permitir ao público revisitar a última produção de Raquel, bem como acompanhar o resgate de uma de suas obras mais emblemáticas: a pintura mural “Baleia Vermelha”.

Raquel Schembri durante  o processo criativo (Benedikt Wiertz/Foto gentilmente cedida pela família por meio da assessoria de imprensa da exposição "Jonas")
Raquel Schembri durante o processo criativo (Benedikt Wiertz/Foto gentilmente cedida pela família por meio da assessoria de imprensa da exposição “Jonas”)

Encontros

Mas não só. Para além da exposição, a iniciativa programa rodas de conversa (nesta quarta, 14 de agosto, e no dia 20, às 18h30). Os encontros reunirão artistas contemporâneos que foram influenciados pela abordagem de Raquel Schembri. Nomes como Roberto Freitas, Francisca Caporali, Shima (responsável pela expografia de “Jonas”), Daniella Domingues, Marco Paulo Rolla, Manuel Carvalho, Angelina Camelo, Gustavo Maia, Clara Valente, Benedikt Wiertz, Brígida Campbell e Ricardo Portilho.

E mais: a homenagem contemplo encontros dedicados à produção de “memorabilia”, como sabão e tingimento de tecidos, além de sessões de desenho e degustação de comidas. As atividades, lembra o material de divulgação, proporcionarão uma experiência imersiva e interativa aos visitantes, que, desse modo, poderão explorar de forma aprofundada o universo criativo de Raquel Schembri.

Associação Amigos

A exposição é uma realização da Associação Amigos de Raquel Schembri (*). A curadoria é de Francisca Caporali (que esteve envolvida na produção dos últimos anos de Raquel) e do artista e curador Roberto Freitas, que compartilhou os últimos anos de vida com a artista e detém os direitos do acervo dela. Ao Culturadoria, Francisca conta que desde o falecimento da artista, surgiu um debates, relativos, para citar um exemplo, ao cuidado com o acervo que ela deixou, e que é liderado por Roberto Freitas, junto a um grupo que convivia mais proximamente a Raquel.

E Francisca teve uma convivência muito estreita com a artista. “A gente já estava trabalhando em um projeto de uma exposição dela, que, em seguida, foi adaptado. Assim, já sendo uma memória para outros editais e espaços”. No entanto, Francisca Caporali narra que logo ficou claro que o grupo não estava pronto para dar conta da tarefa, principalmente devido a demandas emocionais. “Assim, todo esse acervo foi muito bem fotografado e guardado, para facilitar o acesso posterior a ele”. Com a retomada dos editais da Funarte, Roberto Freitas retomou o movimento. Em função também dos 80 anos da Escola Guignard, a exposição póstuma pode finalmente ser realizada.

(*) Em tempo: a associação citada não é uma instituição constituída, como explicou Francisca ao Culturadoria. “Na verdade, vem de um pacto de amigos e de amores da Raquel, de cuidar do trabalho dela da melhor forma”. A iniciativa é encabeçada por Roberto Freitas, que, junto a Marta Schembri Freitas, a filha de Raquel, é detentor dos direitos da artista.

A baleia

Como dito no início da matéria, o resgate de uma das obras mais emblemáticas de Raquel Schembri – a pintura mural “Baleia Vermelha” – também foi abarcada pelo projeto. Há 13 anos, a artista pintou a figura da baleia vermelha diretamente nas paredes da Galeria da Escola Guignard, durante uma residência artística. Porém, a obra ficou oculta sob camadas de tinta de trabalhos de exposições posteriores. Portanto, agora, será revelada ao público através de uma técnica de resgate por estratigrafia.

A Baleia Vermelha, pintada por Raquel Schembri (Associação Amigos de Raquel Schembri/Divulgação)

A prospecção é coordenada pela artista, professora e pesquisadora Daniella Domingues, com a preparação da pesquisadora Lorenza Lourenço Carvalho. Tal qual, o apoio de alunos da Escola Guignard, selecionados por meio de uma convocatória pública. Na verdade, Francisca revela que a baleia já era um tema que perpassava suas conversas com Raquel. “Procurar a baleia era uma brincadeira com a Quel a cada exposição que se seguiu à pintura dela na parede. Porque era uma peleja, já que a pintura dela puxava um pouco do rosa, do vermelho. Então, a sombra da baleia voltava a aparecer na galeria”.

Resgate efêmero

O trabalho do resgate da baleia começou esta semana. “E é um trabalho que vai ser contínuo durante a exposição. Então, a gente formou uma turma de alunos, bolsistas da escola, com orientação da Lorenza (Lourenço Carvalho, pesquisadora) e a coordenação da Daniella (Domingues, professora, pesquisadora e artista, como já apontado), para seguir essa busca como uma performance cotidiana do tempo da exposição. Assim, a baleia está lá, mas ainda não em completude. Na verdade, dificilmente estará em completude – afinal, a parede sofreu muitas intervenções. Então, estamos falando de uma busca constante no tempo da exposição, sem imaginar que de fato no final existirá a forma final de uma baleia”.

E sim, o resultado desta busca também será efêmero. “A baleia não poderia ser um trabalho permanente na galeria, porque ocupa uma parede inteira, o que inviabilizaria o uso, na escola, como um lugar dinâmico e que acolhesse qualquer outro trabalho. Ou seja, do mesmo jeito que, lá atrás, a baleia deixou de estar visível depois que a Quel desocupou a primeira exposição, o espaço vai ter que retomar a forma de parede expositiva. Ou seja, é um encontro, mais do que um resgate”.

Serviço

Exposição “Jonas” – Obras de Raquel Schembri

Onde. Galeria da Escola Guignard (Rua Ascânio Burlamarque, 540, Comiteco/Anchieta)
Quando. Até 20 de setembro de 2024, com visitação de segunda a sexta, das 9h às 21h.

Quanto. Acesso gratuito.

Saiba mais na página oficial da exposição no Instagram. Clique aqui

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