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Sample na produção musical: tudo se cria ou tudo se transforma?

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O uso de samples tem influência da pop ao funk. Entenda como surgiram e como se aplicam estas diferentes referências dentro de uma só produção

Por Bárbara Barroso | Culturadora

Vamos ser sinceros: quem nunca começou a cantar uma música achando que era outra por causa das batidas? Quem nunca achou que uma música muito parecida com outra se tratava de um plágio? Se você já passou por alguma dessas situações, possivelmente encarou um sample musical e não reparou. Mas, para que isso não seja mais uma surpresa para você, vamos entender primeiro o que é um sample.

Olivia Rodrigo
Olivia Rodrigo. Foto: Universal Music | Geffen Records / The Music Journal

O que é sample?

A palavra sample vem do inglês e significa “amostra”. Sendo assim, Samples são trechos sonoros selecionados das mais diversas músicas, que podem ser reutilizados dentro de novas gravações de forma remixada, cortada ou direta. Esse recorte pode dar origem a uma nova melodia, com uma roupagem diferente do som. É daí que nasce o verbo “samplear” – usar uma parte de uma gravação de som já existente, em outra música.

A popularização dos samples se deu no final dos anos 70 e começo dos 80 com o hip hop. Assim, este estilo musical considera que “samplear” vai além de um verbo, é uma arte e forma de fazer música. Foi nesse período que os DJs perceberam que o sample poderia suprir a falta de recursos para criar novos arranjos. Dessa maneira, eles misturaram discos do soul e do funk e descobriram diferentes maneiras de reaproveitar instrumentos e batidas de músicas já existentes em suas produções.

As diferenças

É muito comum confundirmos sample com cover, remix ou plágio. O cover é a regravação de uma canção já existente e geralmente funciona como tributo ou homenagem ao cantor ou compositor. O remix possui a estrutura da música original, mas cria uma nova versão da mesma composição. Já o plágio acontece quando o cantor ou produtor utiliza o conceito da obra sem pedir autorização dos criadores e se intitula como autor, roubando a originalidade da produção. No plágio, as semelhanças não são meras coincidências.

Para ficar ainda mais por dentro, acompanhe a discussão sobre plágio entre a cantora britânica Adele, com a faixa “Million Years Ago” e Martinho da Vila, com “Mulheres”. Clique aqui

“Samplear” é legal ou ilegal?

O Brasil possui a Convenção de Berna, que reconhece a proteção de direitos autorais às obras literárias e artísticas dentro do território. Sendo assim, de acordo com a lei, apenas o autor da obra pode explorá-la de formas diferentes. Contudo, se o sample for recortado da obra original e inserido em uma música nova, com os devidos créditos ao artista criador, sem prejudicá-lo ou atrapalhar sua obra, a aplicação é protegida pela lei. Além disso, o autor deverá ser remunerado nas vezes que a música que contém o sample for tocada.

Caso não seja possível entrar em contato com os detentores dos direitos autorais/gravadoras, “samplear” é considerado infração, pois a canção estará sendo distribuída ilegalmente.

O uso de samples que conhecemos

Desde sua popularização até hoje, a cultura dos samples só aumentou. No universo internacional, por exemplo, é difícil dizer que não conhecemos nenhuma música sampleada. “Crazy in Love”, da Beyoncé, que você gritava quando tocava nas festinhas, sampleia a música “Are you my woman (tell me so)”, de The Chi-Lites. A rainha do pop Madonna se juntou ao “Gimme! Gimme! Gimme!” do ABBA em “Hung Up!”. As raízes cantadas por J-Lo em “Jenny from the block” tem as batidas de “Watch out now”, do The Beatnuts. E, a famosa “Good For You”, de Olivia Rodrigo, agora é creditada para o Paramore (quem não acompanhou essa discussão, que atire a primeira pedra). Olivia, em seu álbum “SOUR”, também sampleou Taylor Swift.

1 step forward 3 steps back x New Year’s Day – Mashup ft Olivia Rodrigo & Taylor Swift

Brasil

O cenário nacional não fica de fora. Nos anos 90, por exemplo, Racionais MCs usaram trechos de músicas do Tim Maia e Jorge Ben em “Homem na Estada”. E, por falar em Jorge Ben, não é que “Cinco Minutos”, faixa do “A Tábua de Esmeralda”, foi parar em uma música do Black Eyed Peas, chamada “Positivity”? Até “Pontos de Luz”, da Gal Costa, foi utilizada por Kaytranada em “Lite Spots”. E, no funk, a famosa “Oh Na Na Na”, do Bonde R300, tem participação de “Watch Out”, do rapper Chianz.

Sample Gal Costa – Pontos de luz / Kaytranada – Lite Spots

Existe uma infinidade de samples que ainda vamos conhecer e é necessário entender que, no processo criativo, tudo vem de referência. Aquela música que você escuta e, imediatamente, te lembra outra, também é construída de referências – suas, dos cantores, produtores e da indústria fonográfica em geral. Tudo se cria e também se transforma, nem que seja com a aplicação de um sample.

Para quem ficou interessado no assunto e quer descobrir mais faixas sampleadas, acesse WhoSampled. O site mostra os samples aplicados em sons ao redor do mundo.

Bárbara Barroso é jornalista, adora escrever sobre cultura, música e cotidiano. 

Se quiser conversar sobre, basta chamar. Seu instagram é @barbarabarrosod.

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