Não faço parte da geração que viu Sophia Loren no esplendor da carreira. Isso foi na década de 1960, quando recebeu sucessivas indicações ao Oscar. Em 1962, por exemplo, se tornou a primeira mulher a ganhar uma estatueta em um filme de língua não inglesa. Foi pela atuação em Duas mulheres, de Vittorio de Sica. Em 1990 também ganhou o Oscar honorário.
Pois depois de dez anos sem participar de um filme, ela está na Netflix como protagonista de Rosa e Momo. O longa foi dirigido por Edoardo Ponti, filho dela com o também diretor Carlo Ponti, um dos produtores de La Estrada. Sendo assim, é claramente um aceite afetivo. Mas, Rosa e Momo também chama atenção para além disso. É um trabalho focado na interpretação de Sophia Loren e não na beleza.
Enredo
A atriz interpreta uma senhora que cuida de filhos de prostitutas. Como as mães não conseguem criar, ela faz esse papel. Para atender a um pedido do próprio médico que Rosa aceita receber Momo por um período em casa. O papel do surpreendente Ibrahima Gueye é um pré-adolescente revoltado, que ganha dinheiro vendendo drogas.
Claro que a relação deles é tensa. Mas só no início. A convivência faz surgir uma cumplicidade e, principalmente, um respeito mútuo. O roteiro de Edoardo Ponti, Ugo Chiti e Fábio Natale, baseado no livro de Romain Gary tem, ainda, uma outra camada. Fala do trauma dos sobreviventes do holocausto. Prepare-se para se emocionar. É neste ponto que Sophia Loren comprova, mais uma vez, a grande atriz que é.
Emocional
Se a vulnerabilidade de Momo é óbvia desde o início, a dela é uma surpresa. É a partir da fragilidade de Rosa que o laço deles fica mais estreito. Foi nesse momento também que eu vi uma Sophia Loren que jamais habitou meu imaginário. Uma atriz completa. Enorme. Inevitável não pensar no encontro entre Fernanda Montenegro e Vinícius Oliveira em Central do Brasil.
Vale destacar também a relação que a narrativa estabelece com a cidade. Outro aspecto que vale prestar atenção: a direção de arte. Mas, verdade seja dita: nenhuma questão técnica se sobressai às interpretações. É um belo encontro de gerações.
