Por Carol Braga
27/01/2019 às 00:10
Depois de uma edição extremamente politizada, com filmes e discussões muito ricas sobre o estar no mundo contemporâneo, a 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes terminou com uma energia estranha. A tragédia em Brumadinho mudou a vibração de quem estava no festival para refletir e celebrar o cinema. A cerimônia de premiação começou com um minuto de silêncio.
Foi para o Estado de Goiás o prêmio da Mostra Aurora, entregue a diretores em início de carreira. Vermelha, dirigido por Getúlio Ribeiro foi a escolha do júri da crítica. “É o encerramento de uma relação de aproximação familiar. O cinema passou a fazer parte de nossa vida e é uma realização coletiva”, comentou o diretor.
O mais animado com o prêmio foi Osvaldo Marques Júnior, pai do cineasta e personagem do longa. “A gente fez uma coisa brincando dentro de casa e deu certo”, comemorou. A família inteira enfrentou mil km para chegar à Tiradentes. Maria Divina, a mãe de Getúlio, contou orgulhosa que o primeiro filme do filho foi feito em casa quando ele tinha 12 anos. Aos 27, já tem cinco curtas e um longa no currículo. Todos premiados.
Parque Oeste, de Fabiana Assis, também de Goiás conquistou o prêmio Carlos Reichenbach. Ou seja, o cinema goiano saiu de Tiradentes com dois prêmios e deu sinal da relevância da produção do estado.
O melhor longa pelo júri popular foi Meu nome é Daniel, de Daniel Gonçalves. Exibido no Cine-Praça, o filme narra a própria história do cineasta em busca de um diagnóstico para sua deficiência. “É o filme da minha vida. O primeiro, difícil, montamos durante mais de seis meses. Normalmente nossas histórias são contadas por outros diretores. Que eu seja o primeiro de muitos diretores portadores de deficiência”, disse. Aplaudido de pé, Daniel defendeu todas as minorias.
“Só de raiva eu faço filmes com amor e eu não vou morrer”, disse o diretor Diego Paulino ao receber o prêmio de melhor curta pelo júri popular com Negrum3. O filme também conquistou o Prêmio Aquisição do Canal Brasil. O melhor curta da Mostra Foco, escolhido pelo júri da crítica foi Caetana, direção de Caio Bernardo.
Foto: Leo Lara/Divulgação
Curadoria
O conjunto de filmes que correspondeu à temática ‘Corpos Adiante’ proporcionou uma edição que reverberou o respeito ao outro. Fez isso de uma maneira acessível a todos os públicos. A escolhas da curadoria destacaram a importância de não apenas respeitar os lugares de fala, mas tratou do desafio de se buscar diálogos profundos e saudáveis.
Foram 108 filmes, entre longas, curtas e médias. Dessa maneira, entre os 78 curtas-metragens, por exemplo, a temática LGBTQ+ apareceu em um quarto do total. Sendo assim, paralela à programação nas telas, a Mostra organizou debates sobre os corpos políticos de pessoas trans, negras, mulheres e artistas. Outra discussão importante foi sobre a pluralidade das manifestações sexuais e de gênero na produção do cinema brasileiro.
Reencontro
Durante muitos anos era perceptível como a Mostra de Cinema de Tiradentes perdia o diálogo com o público não iniciado ao cinema independente. A evasão das salas era grande. O preço do afastamento da população da cidade era a aposta em um conceito fechado de experimentação, em um cinema com personalidade de linguagem.
Sempre me perguntei se não seria possível unir esses dois mundos. Fazer um cinema que fosse, ao mesmo tempo, radical em suas escolhas estéticas e acessível. Um dos méritos da edição 2019 foi o de se aproximar disso. O resultado, uma plateia presente, atenta e aberta a deixar a arte tocar a alma.
MELHOR CURTA – JÚRI POPULAR
Negrum3, direção de Diego Paulino
MELHOR CURTA MOSTRA FOCO – JÚRI CANAL BRASIL
Negrum3, direção de Diego Paulino
MELHOR CURTA MOSTRA FOCO – JÚRI DA CRÍTICA
Caetana, direção de Caio Bernardo
PRÊMIO CARLOS REICHENBACH – MELHOR LONGA – MOSTRA OLHOS LIVRES – JÚRI JOVEM
Parque Oeste, direção de Fabiana Assis
MELHOR LONGA – MOSTRA AURORA – JÚRI DA CRÍTICA
Vermelha, direção de Getúlio Ribeiro
PRÊMIO HELENA IGNEZ – Troféu Barroco – para destaque feminino eleito pelo Júri da Crítica (concorrem os Longas da Mostra Aurora e curtas da Mostra Foco)
Cristina Amaral, montadora de Um filme de verão
JÚRI POPULAR
Meu nome é Daniel, direção de Daniel Gonçalves
A equipe do Culturadoria viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.
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