
Sarará. Foto: Bruno Figueiredo/Divulgação
Sarará 2022 fica marcado dela diversidade musical e posicionamentos políticos nos palcos e na plateia
Por Gabriel Pinheiro | Colaborador
Norteado por palavras-chave como “conviver”, “evoluir” e “despertar”, o Festival Sarará chegou à nona – e mais aguardada – edição no último domingo, 27 de agosto, na Esplanada do Mineirão. Com programação extensa e intensa, o festival foi marcado pela pluralidade do line-up. Assim, fez um importante apanhado da cena musical brasileira, saudando ídolos e abrindo espaço para o novo. Em um ano decisivo como 2022, foram poucos os artistas nos palcos principais que optaram por não demarcar uma posição política, com respostas efusivas e imediatas do público. “Fora, Bolsonaro!” e “Olê olê olê olá, Lula!” foram duas expressões mais entoadas pela plateia e músicos ao longo de todo o sábado.
Line-up intenso ao longo de 12h de programação
Com aproximadamente 12h de duração, é uma tarefa e tanto acompanhar um evento do porte do Sarará. Haja fôlego e hidratação! Foram 6 palcos, distribuídos ao redor da Esplanada do Mineirão, por onde passaram mais de 40 atrações. Para o público, o extenso line-up foi a oportunidade para criar um percurso próprio dentro do festival. Ou seja, ser o próprio curador e experienciar um festival único a partir de cada escolha. E o que não faltaram foram boas escolhas. Só nos dois palcos principais passaram artistas como Zeca Pagodinho, Marina Sena, Baiana System, Pabllo Vittar, Emicida e Gloria Groove.
Palcos principais
Os Gilsons é um grupo formado por José Gil, Francisco Gil e João Gil, filho e netos de Gilberto Gil. A banda abriu a programação dos palcos principais em clima solar, marcado pela baianidade e pelo afoxé. Na sequência foi a vez da mineira de Taiobeiras Marina Sena marcar mais um grande acerto na carreira em plena ascensão. Marina parece já carregar anos e anos de trajetória, tamanha a desenvoltura. Ela mantém uma relação hipnotizante com o público, com um repertório redondo e irresistível.
A drag music marcou presença com suas duas principais representantes: Pabllo Vittar e Gloria Groove. Pabllo só reforçou a posição como um dos principais nomes da música e da cultura brasileira hoje. Num set recheado de hits, a artista se emocionou com a resposta do público, que entoava cada sucesso da lista. Pabllo é uma artista com completo domínio do palco – o amplo palco do Sarará, inclusive, pareceu pequeno para sua persona.
Alguns shows depois foi a vez de conferir Gloria. Logo de cara, foi responsável pelo momento mais rock n’ roll do festival, numa entrada ao som de um pesado e longo solo de guitarra. Na apresentação, não faltou aquilo que mais esperamos tanto de uma diva pop, quanto de uma artista drag. Ou seja, vozeirão, coreografias e uma instigante sequência de troca de figurinos.
Celebrando gigantes
Foi bonito ver o público em peso cantando todo o repertório de Zeca Pagodinho. A Esplanada do Mineirão se transformou numa verdadeira roda de samba, embalada pelos clássicos – e bota clássicos nisso – do repertório do carioca. A vida e obra de Elza Soares foi tema de uma sensível homenagem, em um show especial liderado pelas artistas Teresa Cristina, Luedji Luna, Paula Lima, Nath Rodrigues e Julia Tizumba. De arrepiar, o tributo foi encerrado ao som da voz de Elza em “Mulher do fim do mundo” que clamava “Me deixem cantar até o fim!”. Vimos no palco do Sarará 2022 que Elza segue viva e cantando na voz de cada mulher que passou por seu line-up, especialmente cada mulher negra. Elza é semente.
Quem também se emocionou ao reencontrar o público mineiro foi o rapper Emicida. Com repertório de peso, baseado em seu trabalho mais recente, o bonito “AmarElo”, Emicida relembrou o início da carreira e, inclusive, sua participação no Duelo de MCs, realizado embaixo do Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte. “Ano passado em morri, mais esse ano eu não morro” cantou a multidão em uníssono com o paulista, nos momentos finais da apresentação.
Para encerrar a programação principal, o Sarará convocou um grupo que tem, facilmente, o melhor show do Brasil hoje: Baiana System. Os baianos são um verdadeiro acontecimento político-musical-audiovisual, num show intenso e enérgico. Impressionante ver o público pulando e criando rodas – um clássico das apresentações do Baiana – mesmo após aproximadamente 10h de programação.

Pontualidade marca a edição
Em 2022, o Sarará entregou a maior e mais intensa edição. Do ponto de vista da organização, o festival foi marcado pela pontualidade. Horários cumpridos com poucos atrasos é um grande êxito para um evento desse porte. Da pista premium, espaço mais próximo aos palcos principais, a qualidade do som foi outro acerto. Mas, segundo comentários dos leitores do Culturadoria, na pista comum e na área open bar, o som não chegava com a devida intensidade. Inclusive, deixou bastante a desejar.
Muitos banheiros foram distribuídos pela Esplanada, mais um ponto positivo. Além disso, não faltaram caixas ambulantes para a compra de alimentos e bebidas. Mas, se foram poucas as filas dos bares, talvez isso tenha sido reflexo dos valores das bebidas ofertadas pela organização. Em resumo: consideravelmente acima das expectativas do público. São muitos os desafios e os aprendizados dos grandes festivais de música. Até a próxima, Sarará!