
Eugênio Gurgel/ T4F Divulgação
Show de Roger Waters está para os fãs de Pink Floyd assim como um parque de diversões para crianças. Volte no tempo e pense em todas as emoções que sentiu a primeira vez que experimentou um daqueles brinquedos. Assim como as outras turnês, Us + Them é um espetáculo que, sobretudo, desperta sensações.
Deste modo, este texto é apenas uma tentativa de reproduzir em palavras um pouco da experiência que foi estar no show realizado na noite do dia 21 de outubro de 2018, no Mineirão. É uma tentativa pois experiências não devem ser descritas, mas vividas.
Palco diferente
“Que palco esquisito”. Ouvi de um cidadão no público logo que pisei na pista. O sujeito tem razão. Roger Waters quebra a estrutura tradicional que, em geral, reproduz um palco italiano. A “boca de cena” dele tem o tamanho do campo de futebol. A banda fica no centro e no fundo, o telão – grande protagonista do espetáculo – com 790 m2. Quando você olha para tudo aquilo apagado não consegue ter a dimensão do que se transforma.
Uma estrela que não brilha mais do que o espetáculo
Por mais que Waters circule de um lado para o outro, é curioso você ir a um show em que o artista principal está mais para coadjuvante do que protagonista. Em primeiro plano ficam, por exemplo, a potência dos vídeos, tanto em narrativa como em realização técnica e estética, a sonorização que chega a estremecer seu corpo. É a mensagem que importa mais e não a vaidade do ídolo. E existe mensagem em cada segundo, até no som de helicóptero que gira em surround entre uma canção e outra, por exemplo.
Roger Waters também não é daqueles artistas falantes, embora de todos os nomes internacionais que passaram por BH tenha o discurso mais forte. É que as ideias dele se expressam, para além das músicas, nas imagens, nas palavras projetadas. Em resumo: Roger Waters escolhe uma maneira muito mais artística para dizer o que pensa.

Carolina Braga/Culturadoria
3D de verdade
Por que a palavra experiência é a mais apropriada para falar sobre o show de Roger Waters? Porque ele te tira da condição de simples espectador. A sonorização é tão potente que rapidamente você se esquece que está em um Estádio de Futebol. O som vem de todos os lados, te abraça. Além disso, tem a encenação.
Durante o show da turnê Us + Them tem alguns momentos em que o espetáculo sai do palco e vai para a plateia. Tipo quando ele começa o repertório do disco Animals e sobe uma muralha no início do segundo ato, ou quando o porco inflável com a frase “Seja Humano” passeia pelo público.
Grande surpresa também foi a reprodução, no meio da pista, com luzes de led, a capa do antológico disco Dark Side of the moon.
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É um show, um filme, uma peça de teatro, até dança contemporânea tem
O show de Us + Them começa com a imagem de uma mulher sentada de costas para a plateia, apreciando o mar. Como manda o manual da psicodelia (ehehe) a contemplação dura cerca de 15 minutos. Ou seja, você vai ver um show que começa com um filme. Somente depois disso há a explosão esperada com Speak to me, do Pink Floyd.
Essa inversão na expectativa de quem vai ver um show se dá ao longo das 2h30 minutos e, inclusive, durante o intervalo. Assim como nas músicas, as projeções contam histórias e fazem críticas. Há momento em que a dança contemporânea ganha destaque no telão, assim como o teatro.
Para citar um exemplo, em Pigs o próprio Roger Waters usa uma máscara de porco para encenar. Em outro momento, ele se acorrenta. E isso é o que? Teatro.
Curiosamente o espetáculo tem intervalo, o que também é pouco comum em apresentações musicais. Mas não pense que é uma pausa em que tudo se desliga. É nesse momento de silêncio que Roger Waters argumenta, por meio da tecnologia que marca o espetáculo, o ponto de vista político que, inclusive, foi parcialmente censurado no Brasil.
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Toda arte é política. Resistiremos!
Resistir, resistir, resistir, resistir. A mensagem que se repetiu na camiseta dos alunos da escola Municipal Benjamin Jacob durante Another brick in the wall é o principal recado do espetáculo inteiro. Desde que estreou a turnê no Brasil, no dia 09 de outubro em São Paulo, fala-se mais sobre a carga política do que do artístico.
No caso de Roger Waters essas duas coisas caminham unidas há muitos e muitos anos. Fazer espetáculos assim, para ele, é resistir. Para dar este recado, o baixista do Pink Floyd fala sobre a guerra. Expõe sem reservas os líderes mundiais equivocados. Faz alerta sobre o crescimento de um novo fascismo. Chama atenção para o perigo que o dinheiro tem de corromper as pessoas.
Com competência técnica, estética e conceitual incomparável, usa o melhor da arte para dizer ao mundo que devemos ter cada vez mais cuidado com o outro. Resista pois, o que nos resta, é nos mantermos humanos.

Carolina Braga/Culturadoria
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