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Música

Entenda a relação entre o afrofuturismo e o álbum Renaissance, de Beyoncé, em três pontos

Beyoncé em ensaio de divulgação do álbum Renaissance para a Vogue Britânica. A fotografia é de Rafael Pavarotti, brasileiro referência em fotografia de moda.

A turnê Renaissance, de Beyoncé, começou em maio, e é marcada pelo afrofuturismo

Por Helena Tomaz | Assistente de Conteúdo

1. Afrofuturismo

Um elemento central une as apresentações, as músicas e os recursos visuais do álbum Renaissance, lançado em 2022 por Beyoncé: a estética afrofuturista. O conceito é usado academicamente desde 1993, quando foi trabalhado pelo pesquisador Mark Dery.

Mesmo antes disso, ainda que não existisse enquanto um movimento concreto, já era possível identificar elementos do que, mais tarde, foi chamado de afrofuturismo. É o caso da ficção científica “Kindred: Laços de sangue”, de Octavia Butler. Ou mesmo os gibis e filmes “Pantera Negra”, que retratam uma sociedade africana especialmente avançada tecnologicamente.

Atualmente, o movimento está atrelado à ideia de imaginar novas possibilidades para o futuro de pessoas negras, sem deixar de valorizar seu passado e ancestralidade. À Folha de S. Paulo, Ale Santos, escritor dos livros “O último ancestral” e “Rastros de resistência”, disse: “É muito importante falar sobre a existência de corpos negros no futuro em um país no qual um negro morre a cada 23 minutos, como o Brasil”

No caso do álbum Renaissance, o desafio de conciliar passado e futuro começou a se mostrar presente logo na divulgação do disco: diversas imagens faziam referência a elementos da cultura Ballroom, protagonizada por pessoas negras, que teve início nos anos 1970. [link para a matéria “a cultura ballroom e a força da liberdade”]. O elemento de inovação, no entanto, já começava a ser introduzido através dos elementos prateados e da atmosfera contemporânea.

Já nas músicas, a identificação com a cultura negra norte-americana aparece, por exemplo, na canção “Alien Superstar”. A música diz: “Nós nos vestimos de um certo jeito / Nós andamos de um certo jeito / Nós falamos de um certo jeito / Nós criamos de um certo jeito / Nós pintamos de um certo jeito / Nós fazemos amor de um certo jeito / Você sabe, todas essas coisas que fazemos de um jeito diferente / Único, que é totalmente nosso”.

2. Moda e cenografia

A moda, elemento sempre importante para a construção da identidade das obras da cantora, na era Renaissance, ganha, também, a faceta afrofuturista. À primeira vista, nota-se que a cor prateada e os elementos metálicos estão sempre aparentes. A cor aparece seja no figurino, seja na cenografia – sem falar do famoso cavalo prateado da capa do disco.

Além disso, alguns do figurinos são bastante tecnológicos: no palco, um robô retira partes da roupa da cantora (que vestia uma espécie de armadura). Outra vez, a roupa de Beyoncé mudou de cor depois de canhões de lazer a iluminarem, em uma técnica fotocromática, como explica Marina Santa Helena, mestre em moda pela USP.

Por fim, para além do que é visível, o olhar afrofuturista está presente nas roupas da cantora usadas durante a turnê a partir da escolha por quem as produz. No dia 10 de junho, data em que se comemora a emancipação das pessoas negras nos Estados Unidos, por exemplo, Beyoncé optou por usar apenas roupas produzidas por estilistas negros.

3. Bey e Blue

Depois de algumas apresentações da turnê, Blue Ivy, filha de Beyoncé, apareceu, pela primeira vez, para uma participação especial. Certo, no palco, a menina, atualmente com 11 anos, não canta, mas deixa a plateia de boca aberta dançando hip hop ao lado da mãe. Assim, colocar a filha mais velha no palco, é, de certa forma, olhar também para o futuro.

Beyoncé, que teve uma relação conturbada com o pai no início da vida, parece olhar, assim, para um futuro mais calmo – e igualmente promissor para uma nova geração de artistas negros. O que, acima de qualquer elemento visual, está essencialmente ligado ao afrofuturismo.

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