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Com direção de Daniel Camargos e Ana Aranha, o documentário “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia” terá exibição especial em BH.

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Acompanhando as buscas por Dom Phillips e Bruno Pereira, “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia” conta os riscos e desafios do jornalismo investigativo na região.

Por Caio Brandão | Repórter

O ano era 2022. A crise humanitária na Amazônia havia atingido um patamar nunca antes visto, resultando na morte de vários indígenas e ativistas. Assim, o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira embarcaram em uma empreitada para denunciar a situação. Empreitada, esta, que terminou de forma trágica, com ambos assassinados.

Acompanhando as buscas por Dom Phillips e Bruno Pereira, "Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia" conta os riscos e desafios do jornalismo investigativo.
Daniel Camargos ao lado do jornalista inglês, e amigo, Dom Phillips - Foto: Fernando Martinho / Repórter Brasil

Dessa forma, Daniel Camargos e Ana Aranha, por meio da Repórter Brasil, ergueram o documentário “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia”. O longa acompanha as buscas por Dom e Bruno, passando pelo momento da notícia derradeira, bem como contempla os desafios e riscos de fazer jornalismo naquela região. 

O documentário contará, então, com uma sessão comentada no dia 10 de agosto, às 19:30, no Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (Avenida Álvares Cabral, 400). Posteriormente, outra sessão será realizada no dia 22 de setembro, às 19h, no Cine Santa Tereza. Para mais informações sobre o evento, basta acessar o link.

Conflitos internos

O longa, efetivamente, mostra o desenrolar das buscas por Dom e Bruno, é verdade. Contudo, o que mais impacta o espectador são os efeitos emocionais causados por esse processo, principalmente nos jornalistas. “É muito ruim a gente imaginar que aquilo podia ser com a gente, essa sensação, imaginar que você podia estar naquele lugar ali.  É cruel, é ruim pensar nisso, mexe com coisas profundas”, comentou Daniel. 

Sendo assim, o luto pelas pessoas perdidas permeia o documentário, configurando uma reflexão profunda sobre o que ser um repórter, naquele contexto, pode custar. A resolução, porém, de quem enfrenta isso em primeira mão, não se extingue, por mais que seja, por vezes, abalada. “Meu lugar no mundo é como repórter, como jornalista. É duro, é pesado, mas, ao mesmo tempo, também foi uma análise, um processo de ter que pensar sobre isso tudo, tomar o cuidado de como falar disso. Então, ele (Dom Phillips) fez parte  desse momento, e tentamos fazer essa homenagem a ele com o maior respeito e cuidado possível.”

Os bastidores de uma cobertura

Partindo dos danos emocionais que tal contexto causou nos jornalistas presentes, o longa busca mostrar como ocorre a cobertura em si. Porém, a narrativa vai além do puramente logístico, retratando, também, os raciocínios e intenções que surgem nas mentes dos repórteres presentes na obra. 

“Nos últimos quatro anos, vimos muitos ataques aos jornalistas, muitos questionamentos sobre o trabalho da imprensa. Então, é importante a gente contar como a gente faz, a forma que a gente faz, os dilemas que a gente enfrenta, sabe? Quais são as nossas intenções com o jornalismo que a gente pratica? Então, à medida que a gente foi construindo e coletando isso, vimos que podíamos fazer essa auto análise”, relatou Daniel.

Considerando todo esse contexto, Daniel comenta que a escolha pela utilização da palavra “guerra”, no título do documentário, não foi à toa. “É lógico que a palavra parece forte, mas, ao mesmo tempo,  como grande parte do Brasil está de costas para a Amazônia, acho que a gente tem que dar essas palavras  para chegar perto da dimensão do que acontece ali.  São conflitos constantes, são mortes.”

“Gosto de citar o Ailton Krenak, que fala que há uma guerra há 500 anos contra os povos indígenas. A guerra que a gente vive é uma guerra contra a floresta amazônica, uma guerra das empresas transnacionais que querem explorar a floresta ao máximo. Essa guerra é continuada, é presente. Os números de violência no campo mostram um crescimento grande dessa violência.”

Antigos conhecidos

O documentário foi realizado em um tempo relativamente curto, e com uma infraestrutura simples se comparado às grandes produções. Contudo, a direção magistral de Daniel Camargos e Ana Aranha, que são antigos colegas de trabalho, edificam a obra, transformando-a em um material poderoso e necessário.

Sobre compartilhar a direção do longa com Ana, Daniel exalta como ambos se complementam. “Eu sou um repórter de texto, eu sou um repórter de jornal impresso. A Ana, em contrapartida, já tem mais experiência, já dirigiu documentário, conhece e estuda o assunto. Ela é, realmente, da área.”.

Sendo assim, o processo criativo caminhou naturalmente, sem a pretensão de erguer um documentário em si. Contudo, conforme as coisas foram fluindo, a dupla percebeu que existia, ali, algo a ser explorado com mais profundidade. “Na minha cabeça, fui fazer uma reportagem. Considerando o jeito que ela tinha pensado o material, eu ficaria na frente da câmera em alguns momentos, mas trabalhei como eu trabalho normalmente, entrevistando as pessoas, anotando.  Eu considero que foi um aprendizado mesmo.”

Desse modo, as perspectivas de Ana e Daniel se fundiram e culminaram na produção que será exibida ao público belo horizontino, propondo uma discussão densa acerca da atividade jornalística. “Tenho 41 anos, sou repórter desde os 20. Sempre gostei de discutir o jornalismo, de falar sobre o jornalismo, sempre que sou chamado para falar em alguma universidade, ou em algum evento da categoria. Sempre me envolvi nesse debate. Acredito muito no jornalismo, no bom jornalismo. Então, entrei nesse papel, como repórter, e me sentindo confortável de falar sobre isso”, concluiu Daniel.

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