Por Carol Braga
24/01/2019 às 15:23
“Estou confiante que estou vencendo a guerra”. Foi assim que Isabel Casimira Gasparino abriu o debate sobre o filme A Rainha Nzinga chegou. Ela também é protagonista documentário que dirigiu em parceria com Júnia Torres e foi ovacionado após a sessão na Mostra Aurora, na noite de quarta (23).
As palmas se confirmaram durante a discussão sobre o trabalho na manhã desta quinta (24). Foi um encontro com uma plateia interessada, serena, que se mostrou afetivamente tocada pela produção. A rainha Nzinga chegou registra a tradição do Reinado das Guardas de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Sra do Rosário, com sede no bairro Concórdia, em Belo Horizonte.
“O filme surge a partir de enunciados de performances rituais que estão sendo construídas. A elaboração da travessia, a elaboração da escravidão, como lidar com isso. O reinado é uma leitura desses processos macro-históricos a partir de uma perspectiva de outros modos de existência”, comentou a diretora Júnia Torres.
As imagens para o documentário foram gravadas ao longo de 16 anos. Sendo assim, acompanha tanto a rotina do Reinado como o processo constante de relacionamento com a ancestralidade. A narrativa começa focada na figura de Isabel Casimira. Durante 31 anos ela foi Rainha Conga do Reinado Treze de Maio e por mais de duas décadas Rainha Conga do Estado de Minas Gerais.
Com a passagem dela, o filme narra o processo de transição – e transformação – da filha dela, Isabel Casimira Gasparino, a belinha para assumir a coroa. O documentário acompanha a viagem de Belinha e o irmão, Antônio Casimiro, para Angola. É o local onde encontram antepassados, compreendem ainda mais suas tradições e missões.
Equipe do filme em Tiradentes. Crédito: Jackson Romanelli/Universo Produção
De acordo com Júnia Torres, ao iniciar as gravações Dona Isabel determinava o que podia ser registrado durante os rituais. “No começo era quase nada. Ao longo dos anos começara as convocações”, lembrou. No dia em que a Rainha Conga do Reinado da Guarda Treze de Maio faleceu, foi a herdeira quem convidou a equipe do filme para registrar o funeral.
É um dos momentos mais fortes do filme. Do mesmo modo, é uma virada importante. A rainha Nzinga chegou o descoroamento de Dona Isabel e passa a narrar o processo de transformação de Belinha na Rainha Nzinga. “Pelos meus ancestrais fiquei mais ciente de que não ando só. Estou guardada”, comentou.
Ao contar sobre o processo da viagem o público se deu conta do quanto tudo foi cercado de espiritualidade. Por exemplo, de acordo com o projeto o filme – aprovado pelo edital Filme em Minas – quem viajaria para Angola seria Dona Isabel. Após a passagem dela, Belinha só pôde embarcar para a África porque elas eram homônimas.
A força do documentário se complementa na simplicidade do cenário e no respeito à espiritualidade. “O filme procura fazer com que o cinema abrigue esse modo expressivo. Uma maneira de incluir o Reinado como concepção intelectual de modo de vida, de mundo, a partir de uma outra cosmologia”, acrescentou Júnia.
Segundo a diretora, todo o enredo foi traçado ao longo do tempo, a partir do próprio Reinado. Dessa maneira, elementos fundamentais da tradição como o mar, as histórias dos antepassados foram se impondo. Em síntese, o argumento inicial se baseava na ideia de voltar à África em uma travessia reversa.
“Nossa meta é essa: caminhar e vencer, lutar e vencer. Cada milímetro avançado é quilômetro conquistado”, resumiu Belinha, a Rainha Conga do Estado de Minas Gerais.
A equipe do Culturadoria viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.
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