Para quem acompanha o teatro em BH, ano de Festival Internacional de Teatro Palco & Rua, do FIT-BH, é sempre uma alegria a mais. Em 2018, aumentam também a expectativa e a curiosidade sobre a programação divulgada a partir de um eixo-curatorial específico. Isso é raridade na história desse evento que chega à sua 14ª edição.
O conjunto de peças que serão apresentadas entre os dias 13 e 23 de setembro não tem figurinhas conhecidas do teatro nacional e nem internacional. Assim como não tem famosos e nem grupos que sejam mais badalados do ramo. O que existe – e é ótimo – é um desejo de alargar a noção do que é teatro, promover reflexões, experiências estéticas que sejam inéditas na sua vida. Apostar em coisas diferentes mesmo.
Em outras palavras: se você quiser explorar o FIT, abra-se para o novo, o provocador. O que pode ser surpreendente!
Para fazer isso, de fato, não é necessário nenhum figurão mas artistas comprometidos com o futuro do teatro sem estar preso a fórmulas. Profissionais interessados em quebrar fronteiras e lugares comuns. Bem, tudo isso é o que promete a programação que foi divulgada nesta segunda, dia 27 de agosto.
Ao todo a Prefeitura de Belo Horizonte investirá R$ 3,4 milhões na realização do evento. Os ingressos começam a ser vendidos no dia 03 de setembro por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Além das peças, também haverá o tradicional Ponto de Encontro no Parque Municipal com detalhes ainda a serem revelados.
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Corpos-dialetos
A proposta das curadoras Grace Passô, Luciana Romagnolli, Soraya Martins (que trabalharam em parceria com Daniele Avila Small, Luciane Ramos e Anderson Feliciano) pretende expandir aquilo que se entende por teatro brasileiro. Dessa maneira, como observa Grace, também ampliar também a noção sobre o Brasil e o ser brasileiro. Ou seja, expansão é uma ideia que estará muito presente no palco e fora dele.
A equipe de curadores escolheu, portanto, ao todo 20 espetáculos. Serão nove internacionais, de oito países diferentes e 11 nacionais, de oito Estados do Brasil. Pelo menos mais oito espetáculos mineiros vão complementar a grade. Segundo Luciana Romagnolli, este conjunto, cada um à sua maneira, demonstrará como vivências políticas e estéticas aparecem no teatro.
“Muitos trazem uma revisão crítica da história em uma perspectiva menos eurocêntrica”, comenta Luciana. Isso se traduz em uma programação que tem montagens vindo do Zimbábue, África do Sul e assim como do Chile, Peru, Argentina, França e Portugal. Do Brasil, quase nada do conhecido eixo Rio-SP. Teremos a oportunidade de ver espetáculos do Piauí, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Tocantins.
Programação
Entre as mudanças de 2018, a tradicional abertura com montagem internacional na Praça da Estação muda totalmente de cara. A noite de estreia será no Parque Municipal e com duas performances, respectivamente, Batucada, de Marcelo Evelin (PI) e Looping: Bahia Overdub, de Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino (BA). Ambos trabalhos abriram convocatória para que cidadãos de Belo Horizonte participem.
“Elas (as montagens) tem uma relação com o teatro de ação e evocam imagens de celebração. Essa é a nossa maneira de pensar uma coisa que impacte”, afirma Grace Passô.
A curadoria do FIT 2018 aposta fortemente no risco da performance. É uma forma de entender e incorporar os desafios que as artes cênicas apresentam ao mundo contemporâneo. Além das peças da abertura, outras montagens também tem a potência do corpo como foco. “Colocar o corpo em movimento e gerar transformações”, comenta Soraya Martins.
Internacionais
Black Off, de Ntando Cele (Suíça/Africa do Sul), é um exemplo. Este espetáculo fez enorme sucesso na edição 2017 da MitSP. Fala sobre estereótipos, racismo em uma zona híbrida de linguagens com música ao vivo. Já Unwanted, com a performer ruandesa Dorothée Munyaneza, parte de histórias reais de mulheres violentadas em Ruanda.
Como um dos objetivos da curadoria é discutir a questão da colonização, Portugal estará respresentado com duas montagens. Museu vivo de memórias pequenas e esquecidas, do grupo Teatro do Vestido, discute a imagem do país como “colonizador fraterno”. É uma peça-palestra, com duração de 5h30 (bem típica de Fit), em que os espectadores são convidados a compartilhar um jantar.
O outro português é Libertação, de André Amálio, que aborda a Guerra do Ultramar para discutir a luta de libertação de países como Angola, Guiné e Moçambique. Há uma única participação na programação em que é possível esperar algo pois já conhecemos. A atriz escocessa Jo Clifford, que fez em 2016 a polêmica peça O Evangelho Segundo Jesus, a Rainha do Céu, está de volta à programação em um solo em que interpreta Eva.
A América Latina estará representada por Donde viven los bárbaros, da Cia Boñobo, o argentino Arde Brillante em los bosques de la noche, de Mariano Pensotti e o peruano Simón el Topo, dedicado ao público infantil. “A peça trabalha com a questão da liberdade de ser o que se é”, comenta Luciana Romagnolli.
Nacionais
Entre as 11 montagens nacionais, apenas três são da região Sudeste, sendo uma (Isto é um negro?) de São Paulo e duas de Minas, respeitando uma prerrogativa do edital. “Tem uma forte presença do nordeste”, afirmou Soraya Martins. A invenção do nordeste, do Grupo Carmin do Rio Grande do Norte é um deles. Com bastante humor a peça questiona a questão da identidade a partir de uma perspectiva geográfica.
A performance A gente combinamos de não morrer, de Jota Mombaça, que se descreve como “bicha não binária” promete intensificar as questões normativas do nosso mundo. Assim como Chapeuzinho Vermelho, montagem do texto de Joel Pommerat feita pelo grupo do Rio Grande do Sul, Gompa, que atualiza o clássico infantil com a atualização dos argumentos do Lobo Mau.
Segundo Grace Passô, por mais que a programação do FIT-BH, aposte em montagens que abordem assuntos como como as matrizes africanas, a diáspora, a força da mulher e a questão de gênero, nenhum deles é encarado como tema. “É um alargamento da noção de realidade”, explica.
Ou seja, o que o FIT-BH 2018 parece querer nos mostrar é que existe uma necessidade urgente de uma revisão histórica do nosso mundo e do nosso pensamento. Não deixa de ser papel da arte fazer isso.
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PROGRAMAÇÃO DE ABERTURA
BATUCADA – Marcelo Evelin / Demolition Inc – Piauí
13/09 às 19h – Parque Municipal Américo Renné Giannetti
LOOPING: BAHIA OVERDUB – Felipe de Assis / Leonardo França / Rita Aquino – Bahia
13/09 às 20h – Parque Américo Renné Giannetti
MOSTRA INTERNACIONAL
CECI N’EST PAS NOIRE – Alesandra Seutin / Vocab Dance Company – Inglaterra / Bélgica / Zimbábue
15/09 às 15h e 19h30 – Galpão Cine Horto
DONDE VIVEN LOS BÁRBAROS – Compañía Bonobo – Chile
19/09 às 19h30 e 20/09 às 20h – Cine Theatro Brasil Vallourec
UNWANTED – Compagnie Kadidi – França
21/09 às 21h e 22/09 às 21h – Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube
ARDE BRILLANTE EN LOS BOSQUES DE LA NOCHE – Mariano Pensotti – Argentina
14/09 às 20h e 15/09 às 20h – Teatro Francisco Nunes
BLACK OFF – Ntando Cele / Manaka Empowerment Prod. – Suíça / África do Sul
15/09 às 21h e 16/09 às 18h – Teatro Sesiminas
UM MUSEU VIVO DE MEMÓRIAS PEQUENAS E ESQUECIDAS – Teatro do Vestido – Portugal
14/09 às 19h e 15/09 às 15h – Teatro Marília
SIMÓN EL TOPO – Teatro La Plaza – Peru
17/09 às 14h e 18/09 às 14h – Teatro Marília
EVE – Jo Clifford / National Theatre of Scotland – Escócia
20/09 e 21/09 – Horários e locais a serem definidos
LIBERTAÇÃO – André Amálio / Hotel Europa – Portugal
21/09 e 22/09 – Horários e locais a serem definidos
MOSTRA NACIONAL
BATUCADA – Marcelo Evelin / Demolition Inc. – Piauí
17/09 às 20h30 e 18/09 às 20h30 – Fábrica Criativa
ISTO É UM NEGRO? – Chai-Na – São Paulo
18/09 às 21h e 19/09 às 21h – Sala João Ceschiatti
A INVENÇÃO DO NORDESTE – Grupo Carmin – Rio Grande do Norte
17/09 às 19h e 18/09 às 19h – Teatro Francisco Nunes
CHAPEUZINHO VERMELHO – Projeto GOMPA – Rio Grande do Sul
15/09 às 16h e 16/09 às 11h – Grande Teatro do Sesc Palladium
QUASEILHAS – ÀRÀKÀ Plataforma de Criação em Arte – Bahia
22/09 às 19h e 23/09 às 19h – Parque Municipal Lagoa do Nado
DO REPENTE – Lamira Artes Cênicas – Tocantins
21/09 às 18h – Escola Municipal Polo de Educação Integrada (Poeint Barreiro)
22/09 às 10h – CRAS Mariano de Abreu
22/09 às 18h30 – Centro de Referência da Pessoa Idosa
23/09 às 18h – Paróquia Cristo Luz dos Povos (Cabana do Pai Tomás)
ASSEMBLEIA COMUM – Trupe Estrela – Belo Horizonte
14/09 às 19h – Embaixo do Viaduto Santa Tereza
15/09, às 16h – Ocupação Vitória
16/09 às 16h – Ocupação Dandara
A GEN
TE COMBINAMOS DE NÃO MORRER – Jota Mombaça – Paraíba
14/09 – Horários e locais a serem definidos
MERCI BEAUCOUP, BLANCO! – Musa Michelle Mattiuzzi – Bahia
20/09 às 20h – Teatro de Bolso SESIMINAS
CHORAR OS FILHOS – Nina Caetano – Belo Horizonte
Datas, horários e locais a serem definidos
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