Menu
Cinema

[PONTO DE VISTA] Marina Person surpreende como atriz em ‘Canção da volta’

Marina Person e João Miguel no filme 'Canção da volta' . Foto: Pandora Filmes

Marina Person e João Miguel no filme ‘Canção da volta’ . Foto: Pandora Filmes

O mais interessante em Canção da volta são os deslocamentos que o filme dirigido por Gustavo Rosa de Moura propõe. Em especial, no trabalho com o elenco.

Sério: nunca pensei ver Marina Person em um papel dramático no cinema, por mais que saiba de todos os flertes dela com a sétima arte e o “pedigree” que ela tem (o pai dela, Luís Sérgio Person, foi roteirista, diretor, ator). Uma boa surpresa.

João Miguel como o urbano Eduardo, também experimenta outros lugares. A não ser nos trabalhos na TV, são raros os papéis de homens contemporâneos na filmografia recente dele. E Eduardo é um cara de emoções contidas o que demonstra ainda mais o trabalho do ator.

Canção da volta nos apresenta as complexidades do relacionamento de Júlia (Marina) e Eduardo (João). Não são poucas as turbulências pelas quais o casal passa. A mais explícita delas é a depressão de Júlia. Uma tentativa de suicídio vira dispositivo para a tensão instalada na família. O marido faz de tudo para lidar com as fragilidades da mulher e segurar a barra com os filhos. Tema delicado bem abordado.

Mas não entendi Canção da volta um filme sobre suicídio ou depressão. É sobre amor. Sobre as crises do amar. As reviravoltas, idas, vindas desta força. Sim, entendo amor como força, na maioria das vezes incontrolável.

A fotografia escura, a direção de arte igualmente soturna, os longos silêncios são elementos que refletem o relacionamento dos protagonistas. Eduardo e Júlia vivem uma relação sintomática. Uma forma de dizer sobre a incompletude das relações. São as lacunas é que fazem a roda girar.

Gustavo Rosa de Moura eleva a dose dramática para construir esse retrato íntimo do casal. É um filme de sutilezas. As informações não estão somente no que é dito, mas principalmente naquilo que é sugerido.

Há um jogo em curso com o espectador mas ele não é completo. Ao mesmo tempo em que compartilhamos da intimidade do casal, há um lugar em que não conseguimos entrar. Fica aquela sensação: será que eu entendi tudo? E é para entender? As relações são assim: espaço dos outros (ou do outro) é sempre limitado.

O nome do filme é uma referência à canção homônima de Dolores Duran. Na letra, um pouco da dinâmica de Júlia e Eduardo: O coração fala muito/E não sabe ajudar/ Sem refletir /Qualquer um vai errar, penar /Eu fiz mal em fugir/ Eu fiz mal em sair/ Do que eu tinha em você/ E errei em dizer /Que não voltava mais.

 

Conteúdos Relacionados