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Gastronomia

Tradição da culinária napolitana, a pizza frita faz sucesso também em BH

Fachada da Frizza, que fica nas proximidades do Condomínio JK

Fachada da Frizza, que fica nas proximidades do Condomínio JK (foto Patrícia Cassese)

Localizada nas imediações do Condomínio JK, a Frizza faz sucesso oferecendo a “redonda” em uma versão menos conhecida no Brasil: a pizza frita

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Quem passa (de carro ou a pé) pela rua dos Timbiras, logo ali, nas proximidades do Edifício JK, certamente já teve sua atenção captada pela plaquinha instalada em frente ao número 2.628, onde se lê Frizza – Pizza Frita Napolitana.

Soa diferente. E é. Por trás da iniciativa estão os nomes dos empreendedores Bruno Silva Rodrigues Naves e Rafael Rodrigues Martins, que se encantaram por este modo pouco usual de fazer “a redonda” à época em que moraram na Itália, quando, por acaso, toparam com uma barraquinha oferecendo a iguaria.

Era Carnaval e os dois se deslocaram até uma cidadezinha situada nos arredores de Roma, onde moravam, para conferir a tradição local. Não tardou e se depararam com uma barraquinha onde algumas senhoras ofereciam o prato diante de um tacho de óleo fervente, nas opções doce ou salgada. Instigados, os dois se propuseram a degustar a tal da pizza frita e… foi paixão à primeira mordida.

Foi em um Carnaval que passou….

“Era uma massa muito elástica, que elas abriam na mão, colocavam no tacho e fritavam. Se a pessoa queria doce, apenas colocavam açúcar e entregavam. No caso da salgada, só sal’, conta Bruno. “Ou seja, ali, era a massa pura. A gente achou surreal, uma das melhores coisas que já tínhamos comido”.

Com a curiosidade aguçada, os dois descobriram que Nápoles era o grande epicentro da pizza frita, também conhecida como “à montanara”. “Não é raro que, na Itália, alguns pratos sejam tão regionais, tão característicos de um lugar, que acabam não se ‘espalhando’ tanto, mesmo se tratando de um país pequeno”.

Foto do interior da Frizza: o espaço foi recentemente ampliado (Foto: Patrícia Cassese)

Mas bem, Nápoles não é geograficamente tão distante assim de Roma. E, logo, os dois começavam a pegar o trem para passar um dia, dois, só experimentando a culinária napolitana.

“Daí começamos a explorar a pizza frita. Em Nápoles, a mais famosa é a de uma trattoria que fica no Centro da cidade. Lá, eles abrem a massa e colocam recheio, que é de ricota cremosa, com cubinhos de pancetta e molho de tomate. Depois, fecham e fritam. Fica incrível”, garante Bruno.

De volta ao Brasil

Foi quando os dois decidiram que voltariam para o Brasil que surgiu a ideia de trazer, para a capital mineira, receitas de pizza frita que aprenderam na Campania. “Pizza e fritura são duas coisas que brasileiro ama, assim, por que não explorar aqui? E a pizza frita é uma culinária acessível (ele se refere ao preço para o consumidor). Então, a gente tinha em mente um prato que era muito típico de lá, que você não encontra por aqui com facilidade e que poderia ser oferecido a um preço acessível”. Ou seja, tudo conspirava a favor.

Mas quando os dois desembarcaram, a pandemia ainda vigorava. Sendo assim, Bruno e Rafael alugaram um espaço industrial para atender por delivery. “Resolvemos trabalhar assim para adquirirmos domínio e segurança até abrir efetivamente um restaurante. Foi um ano de testar produtos, receitas e entender e aceitação na cidade”.

No próximo dia 7 de maio, eles completam dois anos de atividades, sendo um com espaço físico. “Quando a gente voltou para o Brasil, não tinha investimento grande para montar um espaço que fosse bombado e facilitador para um restaurante. Na verdade, chegamos com ideia de fazer o que a gente conseguiria”.

Em pouco tempo, conseguiram expandir, dobrando o tamanho. “Era um pedido das pessoas, que queriam levar amigos, comemorar aniversário. Também já tínhamos a vontade de criar eventos. Temos outras ideias que queremos colocar em prática”.

Consumo acessível

Bruno pontua que ele e o sócio sempre têm vontade de acrescentar melhorias, expansões. “O que entra de dinheiro é para reinvestir aqui”.

Ele também analisa que o modelo de negócio do Frizza é diferente. “A gente não consegue muito se identificar. Não somos um restaurante italiano com massas e pratos, aos moldes dos demais da cidade. Também não somos uma pizzaria tradicional, nem uma hamburgueria.. Então, o que a gente representa? A gente busca, na verdade, o que vivenciou lá”

Assim, quando veio a ideia de vender vinho de qualidade, mas a preço acessível, foi para lembrar os servidos na jarra, nos restaurantes italianos.

Segredos de cozinha

Mas no meio do caminho haviam outras barreiras a quebrar, lembra Bruno. “A gente ficou com receio de as pessoas pensarem que pizza frita era só mais uma ideia de um brasileiro querendo inventar modinha, tipo pizza de pão de queijo. Sendo que é de fato uma receita italiana”.

Neste ponto, o sistema de delivery não ajudava muito. “No restaurante é diferente. Lá, a gente pode contar a história, o que é produto, é muito diferente”, avalia.

Com relação à massa, Bruno lembra que a de uma vera pizza napolitana tem que seguir alguns princípios básicos, levando em conta o tempo de fermentação, assim como o tipo de fermento. “A grande maioria das pizzarias brasileiras utiliza uma farinha com grande quantidade de açúcar e fermento, e a italiana é o oposto disso. É uma massa lenta, que precisa de fermentação lenta, portanto, uma quantidade baixa de fermento”.

A tal da farinha

Ainda nesta etapa, os dois acalentavam a ideia de usar farinhas brasileiras. “O tempo que a gente passou na Itália nos fez entender o tanto que as pessoas lá preservam e valorizam o local. Tanto que, nos McDonald’s de lá, sempre tem escrito, em letras enormes, que a carne e o frango usados ali são de origem italiana”.

Um pouco da ambientação do salão interno da Frizza, com quadros que reproduzem obras famosas (foto: Patrícia Cassese)

Então, mesmo tentando trazer para cá uma receita italiana, a pizza frita, eles queriam também inserir produtos nacionais. “Mas testamos as melhores farinhas e, infelizmente, não tivemos sucesso. Acabamos achando uma argentina, a qual a gente ainda hoje utiliza”.

E com relação à fermentação, Bruno Naves conta que ela demanda de 24 a 48h para alcançar o ponto. “Aliás, tem dias nos quais a gente registra um movimento tão grande que as massas acabam. A gente até tem massa fermentando na geladeira, mas não posso utilizar. Assim, preferimos deixar de vender a empregá-la sem estar no tempo certo, pois sabemos que o resultado não será o mesmo”.

Uma pizza inteira para chamar de sua?

Bruno Naves lembra que muito brasileiro se espanta diante da constatação de que muitos italianos comem uma redonda inteira. “Mas é justamente pelo tipo de massa. Com o modo de fazer italiano, seu organismo digere super bem, você não vai ter inchaço. Não tem aquilo de ficar cheio, de a massa ficar fermentando no estômago. E, também, porque ela é mais fina”, defende.

Na Frizza, o sabor campeão de pedidos é a Margô. “Mas varia muito. Parece que não tem uma regra. Cada dia da semana, um sabor resolve ser muito bem pedido”, ri ele.

Outra muito solicitada é Bárbara, que leva bacon. “E a Carmem, que leva pera e gorgonzola. Todo mundo elogia muito”. Em tempo: a reportagem experimentou este sabor e só desaconselha para quem não é muito fã de pimenta do reino (não é o caso da repórter).

A pizza Carmem leva creme de queijo, pêra em fatias, queijo gorgonzola, fio de mel e pimenta moída (Foto: Patrícia Cassese)

Mas, na verdade, Bruno Naves enfatiza que o pulo do gato é mesmo o molho. “A gente quer que a pessoa sinta o molho, que é de qualidade. A gente não esconde ele. Não é pincelar a pizza com molho, é colocar uma concha”, diferencia.

Um dessert, per piacere

As sobremesas, no Frizza, são um capítulo à parte…. “Nós dois trabalhamos com doces em alguns locais em Roma, e sempre tenta lembrar do que mais gostava lá, do que sente saudade”.

Assim, Bruno entende que pode não fazer sentido uma pizzaria vender crepes doces, mas, ali, tudo é permitido. “O brasileiro geralmente prefere o crepe salgado, mas o nosso modelo de negócio entende que em uma mesa de várias pessoas, pode ser que haja uma que não come o prato X. Então, por que não investir em outras coisas?”.

Ah, sim, e tem tiramissù de laranja, entre outras inovações. “A nossa ideia é não ficar só no clássico, mas trazer criatividade também. Há uma casa em Roma, o Centro Tiramissù, que oferece 100 sabores diferentes deste doce. Também conhecemos uma pasticceria que fazia vários sabores diferentes, e tinha o de pistache, o de fragola. A gente acha muito interessante pegar um doce clássico e criar outras versões”.

O Tiramissù, aqui, ganha o toque cítrico da laranja (mas também tem a versão tradicional)

Fãs da cultura da bota

Em tempo: nem Bruno nem Rafael têm ascendência italiana, mas ambos sempre foram apaixonados pelo país, inclusive por terem cursado arquitetura. “Nesta área, a Itália é referência em muitas coisas”. Na verdade, ainda estudantes, os dois fizeram intercâmbio na bota.

“Foi quando a gente passou a se aprofundar na cultura do país. E como a gente sempre gostou de cozinhar, de criar pratos, a gente explorava a culinária. Procurava o melhor gelatto da cidade, a melhor pizza de Roma…”.

Bem, os dois se formaram em arquitetura, mas se deram conta de que não era esse exatamente o caminho que queriam seguir. “Resolvemos, então, voltar para lá, moramos três anos. Foi quando nos aprofundamos mais na culinária e nos apaixonamos mais ainda pela cultura do país”, conta Bruno.

Um boneco Pulcinella é um dos objetos decorativos do local

Serviço

Frizza – Pizza Frita Napolitana

Rua dos Timbiras, 2.628, Santo Agostinho.
Funcionamento: A casa só não abre às quartas-feiras. Nos demais dias, funciona das 16 às 22h15.

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